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Crescimento maior leva economistas a prever aumento dos juros

12 entre 14 economistas ouvidos por EXAME preveem alta dos juros em 2010 - a questão é saber quando a taxa começa a subir

EXAME.com (EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 10 de outubro de 2010 às 04h11.

Nas últimas quatro semanas, consolidou-se o consenso entre os economistas de que o Brasil deve encerrar 2009 com um ligeiro crescimento. De acordo com o último Focus do Banco Central, há um mês, o mercado projetava uma retração de 0,15% para o PIB. A estimativa vem subindo nos últimos 15 dias e agora já aponta para uma alta de 0,10%. Os números para 2010 também melhoraram 0,80 ponto percentual no mesmo período. A última projeção é de que o país tenha expansão de 4,80% no ano que vem.

Uma enquete do Portal EXAME com 14 corretoras e bancos também mostra que os analistas praticamente descartam um recuo do PIB em 2009 - apenas um banco aposta em queda (veja quadro abaixo). Mas o companheiro dessa expansão será o aumento dos juros. Aventado pelo Banco Central no Relatório de Inflação publicado em outubro, o reajuste da Selic foi incorporado pelos economistas, que afirmam que a medida será necessária para compensar o relaxamento fiscal dos últimos meses, adotado pelo governo como política anticíclica. Além disso, 2010 será um ano eleitoral - momento típico para que os cofres públicos sejam abertos. Embora os economistas não acreditem na influência de questões políticas nas decisões do Banco Central quanto aos juros, o mercado está de olho na possível saída de Henrique Meirelles da presidência da instituição para concorrer nas próximas eleições. "O Banco Central tem demonstrado comprometimento com uma sólida política monetária, por isso não acreditamos que fatores não técnicos interfiram nas decisões. Mas, como todo o mercado, estamos acompanhando a movimentação para as eleições", destaca o Departamento Econômico do Bradesco.

Doze das 14 instituições consultadas pelo Portal EXAME prevêem que os juros irão subir no próximo ano. A divergência está nos motivos e no momento em que o Comitê de Política Monetária (Copom) iniciará o ajuste. A maioria afirma que não há motivos para temer a inflação em 2010. Estes analistas argumentam que o núcleo da inflação está em queda e que o BC não terá problemas para cumprir a meta de 4,50% de inflação. Segundo eles, o primeiro motivo é que há capacidade ociosa para acomodar a retomada da demanda no primeiro semestre. Além disso, o dólar barato continuará influenciando a economia de dois modos: permitindo a importação de produtos cujos preços ameacem disparar e ajudando a conter o reajuste de preços administrados ou indexados ao IGP-M, índice de preço bastante impactado pela moeda estrangeira.
 

As previsões do mercado
     
 20092010
 Variação do PIB (% anual)Selic (% ao ano)Variação do PIB (% anual)Selic (% ao ano)
Ágora0,38,754,510,50
Alpes0,58,755,010,00
Austin Rating1,48,754,19,75
Banco Fator0,38,754,910,75
Banco Fibra-0,28,754,511,25
Banco Schahin0,28,754,211,25
BofAML0,58,755,38,75
Bradesco0,18,755,411,50
Coinvalores0,18,754,89,75
Geração Futuro0,58,754,48,75
HSBC0,48,755,310,25
MB Associados0,28,755,09,50
Planner08,754,59,50
Prosper08,754,510,25
     
FMI-0,7 3,5 
Banco Mundial-1,1 2,5 
     
Fontes: instituições   

(Continua)


 

Quem elenca esses pontos afirma que a revisão da Selic só ocorrerá no segundo semestre, com o objetivo de combater a ameaça inflacionária - essa sim mais concreta - de 2011, quando se espera que o mundo esteja operando a plena velocidade. "Não há necessidade de aumentar juros por causa da inflação de 2010. Por isso, acreditamos em um reajuste apenas a partir de outubro", afirma Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados.

Mas a política anticíclica do governo, composta por aumento de gastos públicos e por diversos incentivos fiscais, preocupam parte do mercado. Ninguém nega que ela estimulou a economia no pior momento da crise, levando, por exemplo, a sucessivos recordes de vendas de automóveis devido à isenção do IPI para os carros populares. Basta lembrar que, no início de 2009, houve quem previsse um tombo para o PIB neste ano. Mas, para esses economistas, já é hora de começar a desmontar as escoras que sustentaram o Brasil nos últimos meses.

Fazendo coro às preocupação do BC expressas no Relatório de Inflação, parte do mercado afirma que persistir em uma política fiscal frouxa, ainda mais em um ano tentador como 2010, em que haverá eleições, gerará riscos inflacionários. "Os benefícios fiscais foram importantes para atravessar a crise, mas é hora de ir na direção contrária", afirma Alex Agostini, economista-chefe da agência de risco Austin Ratings. Para o economista, o BC deverá elevar os juros a partir de abril, em pequenas doses, até encerrar dezembro com 9,75% ao ano.

Consumo e investimentos

Desde que a quebra do banco americano Lehman Brothers iniciou um terremoto econômico mundial, em setembro do ano passado, os economistas dividiram-se entre os que acreditavam que as ondas de choque causariam uma retração no Brasil e os que apostavam na força do mercado interno para, pelo menos, manter o país acima da linha d'água. Nas últimas semanas, porém, é cada vez maior a avaliação de que a economia encerrará 2009 com um modestíssimo crescimento. (Continua)


As projeções mais otimistas não vão além de 0,5%, mas é o bastante para nos colocar no grupo dos países que sairão da crise com poucos arranhões. As últimas estimativas do Fundo Monetário Internacional, divulgadas no começo de outubro, apontam que o PIB mundial deve encolher 1,1% neste ano, puxadas pelas nações desenvolvidas, que recuarão 3,4%. O Banco Mundial é ainda mais pessimista, com uma queda prevista de 2,9%. "Os analistas finalmente entenderam que o mercado interno sustentou a economia nos dias de crise", afirma Vale, da MB Consultoria. "Por isso, as projeções para 2009 passaram a ser de uma leve expansão do PIB".

O consumo das famílias, que representa 60% do PIB brasileiro, foi impulsionado por uma mescla de motivos que inclui a expansão do crédito, a isenção de impostos para bens como os de linha branca e materiais de construção, e pelo impacto menor que o esperado da crise sobre o nível de emprego. As vendas dos supermercados, por exemplo, acumulam uma alta de 5,30% até agosto - dados mais recentes - sobre o mesmo período do ano passado, de acordo com a Associação Brasileira de Supermercados. Já a Serasa apontou um incremento de 8% nas vendas do Dia das Crianças neste ano. E a Federação de Comércio de São Paulo afirma que 77% dos varejistas devem manter ou aumentar as encomendas para o primeiro Natal pós-crise. Na base da força do consumo, estão as já badaladas classes populares, para as quais as empresas lançam cada vez mais produtos.

Para 2010, as expectativas também melhoraram nas últimas semanas. Há um mês, o Focus do Banco Central mostrava uma estimativa de 4% de alta do PIB. No último, a projeção já está em 4,80%. Além do consumo das famílias e dos gastos públicos motivados pelas eleições, os especialistas apostam no retorno de um ingrediente essencial no próximo ano - os investimentos privados. "Essa é a perna que falta para que a economia ande mais rápido", afirma Vale, da MB Associados. Os investimentos estrangeiros diretos - um termômetro da confiança mundial no país - devem fechar 2010 em 31 bilhões de dólares, ante os 25 bilhões deste ano, segundo o Focus do BC. A indústria, principal vítima da crise, também deve recuperar parte do fôlego. O mercado espera que a produção industrial cresça 6,15% no próximo ano. O desempenho será insuficiente para reverter o tombo de quase 8% esperado para 2009, mas já é um alento. "O país pode crescer ainda mais, porque o impacto do pré-sal, da Copa e das Olimpíadas ainda não é totalmente conhecido", afirma Bráulio Borges, economista da LCA Consultores.

O otimismo interno contrasta com a avaliação de quem nos observa de outros países. Embora reconheça que o Brasil foi uma das nações mais resistentes à crise, o FMI é bem mais comedido sobre o nosso potencial. Para este ano, a instituição projeta uma queda de 0,7% do PIB e, para 2010, uma expansão de 3,5%. Já o Banco Mundial apresenta prognósticos ainda mais cautelosos - uma retração de 1,1% em 2009, e um incremento de 2,5% no ano que vem. Em comum, ambas destacam o impacto do mau desempenho das exportações sobre o Brasil. Com um mundo comprando menos por causa da recessão global e do real valorizado, as indústrias brasileiras e, sobretudo, os exportadores de commodities ainda enfrentariam dificuldades em 2010. Mas, para os economistas brasileiros, é só uma questão de tempo para que também seus pares estrangeiros percebam que o país está melhor. "Eles estão mais pessimistas do que o necessário", diz Vale, da MB Associados.

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