Cobrança de bagagem não garante menor preço, diz Gol
Segundo o presidente da Gol, única certeza é a de que a tarifa para quem viajar sem mala será menor do que o preço pago por quem despachar bagagem
Estadão Conteúdo
Publicado em 28 de fevereiro de 2017 às 09h56.
Última atualização em 7 de março de 2017 às 15h33.
São Paulo - O início da cobrança de bagagem pelas companhias aéreas, que deverá ocorrer a partir de 14 de março, quando entrar em vigor a nova norma da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), não garantirá bilhetes de voo mais baratos, na comparação com os patamares atuais.
Segundo o presidente da Gol , Paulo Kakinoff, é certo que a tarifa para quem viajar sem mala será menor do que o preço pago por quem despachar bagagem.
O executivo disse, porém, que não há projeção de redução de preço por parte da Gol. "(O consumidor) não vai comparar meu preço antes e depois da regra.
Vai comparar o meu preço com o do meu competidor (no dia em que quiser viajar)." Kakinoff acrescentou ainda, em entrevista ao Estado, que as tarifas aéreas são dinâmicas, variando conforme procura, data da viagem e câmbio - já que cerca de 50% dos custos do setor estão atrelados ao dólar.
A nova regra da Anac atende a uma demanda antiga do setor aéreo, que defendia o fim da franquia de bagagem gratuita, de até 23 kg por passageiro nos voos nacionais, com o argumento de aproximar as normas brasileiras aos padrões internacionais.
Hoje, apenas Venezuela, Rússia e México também exigem que as companhias aéreas transportem pelo menos uma mala sem cobrar, segundo a própria agência reguladora.
Para Kakinoff, o fim da franquia deverá aumentar a concorrência entre as companhias aéreas, o que poderá acabar beneficiando o consumidor.
"A possibilidade de poder cobrar a mala não traz outra coisa senão a intensificação da competição. Cada companhia vai precificar o que cobrar da mala e se vai ou não cobrar."
O executivo diz que a bagagem grátis ou uma tarifa de despacho menor podem ser itens importantes na hora de conquistar a preferência do cliente.
Hoje, a Gol tem 38,8% de participação no segmento de voos domésticos, enquanto a Latam fica na segunda posição, com 31,3%.
Apesar do crescimento na participação de mercado e da melhoria nos resultados financeiros (a empresa teve lucro líquido de R$ 1,1 bilhão em 2016, revertendo o prejuízo de R$ 4,3 bilhões do ano anterior), a empresa ainda enfrenta desafios financeiros. Sua dívida total, por exemplo, chega a R$ 6,4 bilhões.
Capital externo
Uma abertura total do setor aéreo ao capital estrangeiro - medida que já é consenso no governo - favoreceria a Gol, que poderia receber mais recursos de uma parceira internacional.
Segundo Kakinoff, a posição da aérea de defender o fim da restrição ao capital estrangeiro se dá por princípio, e não por interesse próprio.
O executivo, porém, admite que a medida beneficiaria a Gol em vários níveis. Além de injetar capital, um acionista estrangeiro poderia colaborar para a empresa ter uma reputação melhor no mercado.
Segundo fontes de mercado, uma das candidatas a ampliar sua fatia na Gol, caso a mudança seja mesmo aprovada, seria a americana Delta, que já detém mais de 9% da companhia.
O fim da restrição também abriria caminho para a companhia aérea avançar para o Novo Mercado (segmento da Bolsa que lista as empresas com maior nível de governança corporativa), o que ajudaria a posicionar melhor as ações da aérea.
Hoje, por ter acionistas com e sem direito a voto, em razão do teto de 20% do controle no setor aéreo, a empresa precisa manter dois tipos de papéis para cumprir a legislação.
Austeridade
Kakinoff afirmou ainda que, enquanto as mudanças regulatórias não se concretizam, a estratégia da empresa tem sido o corte de despesas.
Entre as medidas adotadas pela Gol para sobreviver a 2016, um dos piores anos da história do setor, foi diminuir a oferta de assentos.
O executivo diz que, no cenário econômico atual, não está descartada a hipótese de a empresa devolver aeronaves neste ano para reduzir ainda mais essa oferta.
Para André Castellini, da consultoria Bain & Company, a redução da oferta, realizada no ano passado não só pela Gol, mas por todas as companhias brasileiras, foi uma mudança acertada para que elas deixassem de queimar caixa.
Se o dólar se mantiver no atual patamar e o País crescer cerca de 1% em 2017, as empresas conseguirão ter lucro novamente e atingir uma meta operacional de 5% a 7%, como pretende a Gol.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.