Produtos do portfólio da Hypermarcas: Segundo analistas, os resultados do terceiro trimestre são mais relevantes do que o anúncio de recompra (Divulgação)
Da Redação
Publicado em 28 de abril de 2014 às 07h53.
São Paulo – O Conselho de Administração da Hypermarcas anunciou que fará a recompra de até 3 milhões de ações. Mas, isso não significa muitas mudanças para os investidores da companhia, segundo analistas.
De acordo com fato relevante divulgado pela empresa - documento usado para anunciar decisões do acionista controlador ao mercado -, a aquisição das ações ordinárias ocorrerá para: “[...] serem mantidas em tesouraria, canceladas e/ou posterior alienação, especialmente para serem utilizadas no âmbito dos programas de opção de compra de ações da Companhia”.
Isso significa que a empresa está comprando parte das ações que estavam circulando no mercado para mantê-las à sua disposição em tesouraria, podendo vendê-las ou cancelá-las, mas com o principal objetivo de disponibilizá-las aos seus executivos como pacote de remuneração.
“Essa é uma tática normal no mercado. Quase todas as empresas têm políticas de remuneração de altos executivos com opção de compra de ações por um valor abaixo do valor mercado. Isso fideliza os executivos à empresa e os engaja mais nos resultados da companhia”, afirma Daniela Martins, analista da Concórdia Corretora.
O volume de ações da Hypermarcas (HYPE3) que poderão ser recompradas representa até 0,81% dos seus ativos em circulação e a operação pode acontecer dentro do prazo de um ano - até o dia 4 de novembro de 2014, conforme explicado no fato relevante.
Segundo Gabriel Ribeiro, analista da Um Investimentos, como esse volume é muito pequeno, a operação de recompra não terá um efeito significativo para os investidores. “Se nós observarmos o volume de negociação médio das ações da Hypermarcas nos últimos 21 dias, dá algo em torno de 2,645 milhões de ações negociadas por dia. Então a recompra de 3 milhões de ações equivale a pouco mais de um dia de negociações da empresa. E como ela pode recomprar as ações em até 365 dias, se a cada dia a companhia comprar um pouco, a aquisição representará algo em torno de 0,3% do volume médio diário de negociações”, diz.
A recompra de ações também costuma ser anunciada quando o controlador considera que os papéis estão com um valor muito atrativo. Mas segundo os analistas, esse não é o caso. “Se as ações estão baratas, os controladores não divulgam isso no fato relevante para não depreciar a empresa. Como eles estão lá dentro, eles sabem se a ação está barata e sabem que mercado não está vendo isso, por isso muitas empresas compram as ações para revender. Essas operações são muito subjetivas, o controlador pode ter diferentes motivações para isso. Mas nesse caso, a ação da Hypermarcas tem se valorizado recentemente, por isso a operação não deve ter sido motivada por isso”, afirma a analista da Concórdia.
O analista da Um Investimentos também acredita que a operação está mais ligada ao programa de remuneração dos executivos do que à qualquer outra motivação. “Pelo comunicado da empresa, eles afirmam que o objetivo é o plano de opções de compra das ações para funcionários. A empresa não deu sinalização de que está comprando um volume elevado para posteriormente cancelar as ações. Um plano de recompra pequeno já sinaliza isso”, afirma Gabriel Ribeiro, que acrescenta que a operação de recompra normalmente não é um ponto de preocupação para o pequeno investidor.
Se a recompra fosse mais significativa, impacto para investidores seria maior
A operação de recompra afetaria mais os investidores caso a parcela de ações tirada de circulação fosse maior. Isso ocorreria porque, com um menor número de ações, a distribuição de lucro da empresa seria feita entre um número menor de acionistas, aumentando os dividendos (lucro repassado aos acionistas) recebidos pelos investidores.
“Mas nesse caso, em que a recompra representa menos de 1% das ações e existe o prazo de um ano para realizar toda essa recompra, não é algo significativo”, afirma Daniela Martins.
Outras notícias influenciam mais a companhia
De acordo com os analistas, outras notícias recentes sobre a empresa afetam mais o investidor do que o anúncio de recompra de ações. “Eu li o fato relevante, mas essa operação de recompra de ações não está muito esclarecida. Parece que a empresa quer aumentar um pouco a porção de capital próprio, mas outras medidas que a empresa tem adotado são mais relevantes, como a recompra de títulos de dívida, que é uma tentativa de diminuir a exposição ao câmbio”, afirma o analista Marcelo Torto, da Ativa Corretora.
A oferta de recompra de títulos de dívida (bonds) de até 300 milhões de dólares também foi anunciada pela empresa na semana passada, pouco antes do anúncio da recompra de ações.
Com a medida, a empresa visa a reduzir seu endividamento total, a dívida atrelada ao dólar e sua exposição à variação cambial, o que tem afetado seus resultados. “Isso faz parte da estratégia operacional da empresa para 2014, que é reduzir o endividamento e aumentar a geração de caixa”, completa Torto.
Além da recompra de bônus, a Hypermarcas também divulgou seus resultados do terceiro trimestre na semana passada. Segundo o analista da Um Investimentos, o balanço foi bastante positivo e esta sim deve ser a notícia mais relevante para os investidores que acompanham a companhia.
“A empresa teve um crescimento de faturamento de 12% na comparação anual, que foi mais baseado no setor de farma, que cresceu 15,6%, enquanto o setor de consumo cresceu 7,9% com relação ao terceiro trimestre de 2012. E o Ebitda [lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização], teve uma alta de 21,5% na comparação com o terceiro trimestre de 2012”, comenta Marcelo Torto.
A partir dos resultados, ele avalia que a empresa está conseguindo ganhar mais eficiência em suas operações depois de passar por uma fase de consolidação de seu portfólio de produtos. E acrescenta que com a concentração dos seus centros de distribuição em Goiânia, a empresa terá avanços na sua operação logística e reduzirá sua carga de tributação. “Com os ganhos fiscais e operacionais que a empresa tem tido, eu acredito que ela poderá apresentar resultados ainda melhores para os próximos trimestres”, conclui o analista da Um Investimentos.
Com 28 aquisições desde a sua abertura, em 2001, a Hypermarcas teve bons e maus momentos resultantes de sua expansão. A companhia começou com a aquisição da Prátika Industrial, detentora da marca Assolan. Atualmente, os principais focos de atuação são os setores de consumo e farma e compõem seu portfólio marcas de adoçantes, como Finn e Zero Cal; higiene, como Niasi e Risqué; higiene infantil e saúde, com marcas como Pom Pom e Jontex; e medicamentos isentos de prescrição médica, com marcas como Doril, Gelol e Rinosoro.
Em 2011, a ação teve uma das maiores baixas da Bolsa, com queda de 62,1%. No balanço do terceiro trimestre a empresa reportou um prejuízo líquido de 190,5 milhões de reais. Em função disso, a companhia se desfez de uma série de negócios que não traziam muito retorno e focou seus esforços no segmento de medicamentos e produtos de higiene e beleza. Ativos como a Etti, de alimentos, e Assim, Gato e Mat Inset, de limpeza, foram vendidos.
Veja no vídeo a seguir como saber se existem outras ações como a OGX circulando pela Bolsa:
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