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Wall Street cria monstro de US$ 3 trilhões com carteiras-modelo

O chamado investimento em carteiras-modelo é um segmento em franca expansão da gestão de recursos

Wall Street: há tanto dinheiro investido que ajustes de modelos provavelmente foram a causa de múltiplos recordes nos fluxos de ETFs (Shutterstock/Shutterstock)

Karla Mamona

Publicado em 22 de agosto de 2020 às 08h02.

(Bloomberg) -- Um monstro de vários trilhões de dólares ronda Wall Street , provocando enormes movimentos no mercado que poucos conseguem prever — e seu tamanho está aumentando.
O chamado investimento em carteiras-modelo é um segmento em franca expansão da gestão de recursos. Nele, instituições como BlackRock, Vanguard Group e Charles Schwab agrupam fundos em estratégias pré-estabelecidas.

Isso existe há anos, mas nesta época de guerra pelas menores taxas e de ETFs (exchange-traded funds ou fundos negociados em bolsa), sua popularidade decolou. Há tanto dinheiro investido que ajustes de modelos provavelmente foram a causa de múltiplos recordes nos fluxos de ETFs. A BlackRock, maior gestora de recursos do mundo, descreve essa estrutura como “crucial” para sua estratégia de crescimento.

"Estamos vendo cerca de US$ 1 bilhão entrando por mês a partir de modelos construídos e administrados pela BlackRock”, disse Armando Senra, responsável pela divisão iShares Americas da organização. Considerando quantas outras gestoras operam no segmento, isso é “apenas uma pequena parte dos fluxos totais do modelo”, disse ele.

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Ninguém sabe exatamente quanto dinheiro segue esses modelos atualmente, mas a empresa de tecnologia financeira Broadridge Financial Solutions estima que tenha atingido US$ 3 trilhões no final do primeiro trimestre. Uma parte significativa está em ETFs, que são os tijolos da nova geração de carteiras.
Suspeita-se que o balanceamento de modelos tenha provocado diversos fluxos dramáticos recentemente, incluindo o nível recorde de atividade em um conjunto de fundos da Schwab em uma única semana de junho. Especialistas também acreditam que essa estrutura esteve por trás de grandes fluxos em vários produtos BlackRock e em um dos principais ETFs de ações da Vanguard.

“A liquidez e a flexibilidade geral da embalagem ETF permitem que os gestores dos modelos façam transações consideráveis sem abalar os mercados subjacentes, na maioria dos casos”, disse Ben Johnson, diretor de pesquisa global de ETFs da Morningstar. “Á medida que as carteiras-modelo de ETFs crescem, sua influência sobre o fluxo de ETFs individuais aumenta proporcionalmente.”

Supermodelos

O boom é reflexo de um cenário cada vez mais competitivo para consultores financeiros e gestoras de recursos. Ao promover suas estratégias predefinidas junto aos consultores, as grandes gestoras de recursos exercem mais controle sobre os fundos que são recomendados e sobre a direção dos fluxos. Por sua vez, os consultores podem dedicar mais tempo a outras áreas do negócio, como a retenção de clientes, porque são poupados de trabalhar na alocação.

“Muitos dos ingredientes se tornaram onipresentes”, disse Leon LaBrecque, diretor de crescimento da Sequoia Financial Group. “É besteira tentar derrotar o mercado.”

As carteiras pré-fabricadas podem assumir qualquer formato, portanto há alternativas para todo tipo de necessidade, como estratégias focadas em ações, pacotes multimercados, pacotes que otimizam a eficiência tributária ou que seguem os chamados fatores.

Historicamente, uma carteira-modelo era criada internamente por consultores usando um pacote de fundos mútuos. Estratégias criadas por consultores ainda representam 53% do mercado, de acordo com o relatório divulgado pela Broadridge em julho.

Mais de 400 novas carteiras foram lançadas desde 2018, de acordo com uma análise publicada este mês pela Morningstar. Consultores financeiros estão cada vez mais interessados nos modelos de terceiros porque ajudam a reduzir o risco, disse Jillian DelSignore, diretora da Lakefront Advisory que antes foi responsável pela distribuição de ETFs na JPMorgan Asset Management.

“Isso permite que eles gastem mais tempo gerenciando relacionamentos com clientes, forjando novos relacionamentos com clientes”, disse ela. “E no fim das contas, eles podem despedir alguém se algo vai devagar em termos de desempenho.”

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