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Vale pode abandonar hedge de real com piora em guerra cambial

A mineradora teve um ganho cambial de US$ 665 milhões no ano passado, em comparação com uma perda de US$ 1,01 bilhão em 2008

Roger Agnelli não espera muita flutuação do minério de ferro nos próximos anos (Oscar Cabral/VEJA)

Roger Agnelli não espera muita flutuação do minério de ferro nos próximos anos (Oscar Cabral/VEJA)

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Da Redação

Publicado em 27 de outubro de 2010 às 08h26.

Londres - A Vale SA, maior mineradora do mundo, pode não comprar novos contratos de proteção cambial, ou hedge, contra custos de até US$ 30 bilhões em moedas que não o dólar. A decisão pode ser tomada por causa da “guerra cambial” que dificulta previsões sobre o câmbio.

A empresa com sede no Rio de Janeiro fez hedge em US$ 4 bilhões em custos este ano, considerando que o dólar ficaria em média em R$ 1,92 este ano. A Vale ainda tem que tomar uma decisão sobre a estratégia para 2011, levando em conta que o Brasil e outros países estão fazendo intervenções cambiais para limitar os ganhos de suas moedas, disse o diretor financeiro da companhia, Guilherme Cavalcanti.

“Ano passado foi muito fácil”, disse Cavalcanti, 41, em entrevista em 20 de outubro em Londres. “Mas agora há um nível que é incerto. Talvez eu fique fora do mercado porque a incerteza pode ser muito alta.”

Investidores estão despejando dinheiro em ativos de mercados emergentes por causa de juros baixos e crescimento econômico limitado nos Estados Unidos e na Europa Ocidental. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, tem dito que existe uma “guerra cambial” em todo o mundo, com os esforços de governos para combater fluxos de capital que estão prejudicando exportadores.

Enquanto a maior parte das vendas da Vale é em dólares, despesas em reais e em dólares canadenses responderam por cerca de 80 por cento dos custos da empresa no ano passado. A mineradora teve um ganho cambial de US$ 665 milhões no ano passado, em comparação com uma perda de US$ 1,01 bilhão em 2008, segundo documento enviado às autoridades reguladoras do mercado americano em 29 de abril.

O governo brasileiro teria que cortar gastos para conseguir reduzir os juros e levar o câmbio para um nível “equilibrado”, disse Cavalcanti.


‘Mais medidas’

As despesas em reais responderam por 64 por cento dos custos de produtos vendidos pela Vale em 2009, enquanto o dólar canadense teve peso de 16 por cento. A receita da companhia é em sua maior parte denominada em dólares, de acordo com o relatório anual de 2009.

O governo brasileiro pode precisar de mais medidas para controlar o real, que atingiu a máxima de dois anos, a R$ 1,6530, em 13 de outubro, disse o Bank of New York Mellon Corp. na semana passada. As tentativas do governo de limitar a valorização da moeda foram menos bem sucedidas do que as de nações concorrentes, como a China, disse o banco.

Cerca de metade dos custos de US$ 10 bilhões da Vale que podem ser afetados pela flutuação cambial este ano está protegida por um “hedge natural”, que vem dos preços de commodities, disse Cavalcanti. Dos outros US$ 5 bilhões, a Vale cobriu US$ 4 bilhões com contratos de hedge, disse ele.

A empresa deve apresentar um lucro por ação de US$ 1,03, excluindo itens extraordinários, para o terceiro trimestre, segundo a estimativa média de 13 analistas consultados pela Bloomberg. A empresa vai divulgar os resultados hoje depois do fechamento do mercado. O lucro líquido ficou em US$ 1,68 bilhão, ou US$ 0,31 por ação, no mesmo período do ano passado, pelo padrão contábil americano.

Dobrar investimento

Em 2011, com o plano da Vale de dobrar seus investimentos para pelo menos US$ 20 bilhões, o chamado “desencontro” cambial também vai dobrar, segundo Cavalcanti. A empresa pode proteger cerca de US$ 8 bilhões por meio de contratos de hedge ou, se decidir apostar que o real não vai se valorizar, pode deixar os custos sem cobertura, disse ele.

Este ano “eu estava confiante que o real se apreciaria”, disse o diretor da Vale, que esteve em Londres e em Nova York para se encontrar com investidores na semana passada. “Mas agora há um nível que é incerto.”

O presidente da companhia, Roger Agnelli, disse em 20 de outubro que não espera “muita” flutuação do minério de ferro nos próximos anos, depois que os preços subiram 69 por cento para US$ 149 por tonelada nos últimos 12 meses. Uma faixa entre US$ 130 e US$ 160 é “razoável”, disse ele.

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