Venezuela: país precisará de uma injeção de US$ 60 bilhões ou mais do FMI (Andres Martinez Casares/Reuters)
Karla Mamona
Publicado em 21 de março de 2019 às 16h48.
(Bloomberg) -- Analistas que acompanham a situação da Venezuela consideraram diversas ideias para resolver a crise econômica e humanitária, desde recorrer ao bitcoin a trocar petróleo por comida, mas a ideia de agrupar toda a dívida do país em uma gigantesca emissão de título talvez seja a proposta mais ousada até agora.
O dinheiro devido a um grupo díspar de credores, que inclui China, Rússia, detentores de títulos e empresas de serviços de petróleo, poderia ser transformado em um único título de US$ 130 bilhões e de longo prazo, segundo Daniel Osorio, ex-gerente de hedge fund que atualmente é presidente da Andean Capital Advisors, que tem sede em Nova York e assessora gestores de recursos sobre a América Latina.
A ideia seria evitar anos, se não décadas, de negociações para reestruturar os títulos inadimplentes da Venezuela depois que a dívida do país subiu para 173 por cento do produto interno bruto. Osorio disse que talvez seja possível orquestrar um acordo assim nos primeiros 18 meses do mandato do líder da Assembleia Nacional, Juan Guaidó, que conta com o apoio dos EUA. Os céticos dizem que não é realista incluir todos os credores no mesmo grupo e que, longe de facilitar as negociações, isso iria complicá-las.
"A última coisa que a Venezuela precisa é seguir o caminho da Argentina e passar quinze anos fora dos mercados internacionais de crédito", disse Osorio. "A Venezuela precisa de tempo. Para reconstruir o país, eles terão que ter certa flexibilidade para que a produção de petróleo volte a ser o que era."
Ricardo Hausmann, um assessor econômico de Guaidó, pediu que os investidores se preparem para uma situação difícil. A Venezuela não está em posição de começar a pagar suas dívidas e precisará de uma injeção de US$ 60 bilhões ou mais do Fundo Monetário Internacional, disse ele em janeiro.
A ideia de Osório é que o título comece com um cupom baixo sem amortizações nos primeiros anos, dando espaço para o governo aumentar a produção de petróleo, que caiu ao patamar mais baixo em sete décadas, sem se preocupar com os pagamentos. O cupom então aumentaria nos anos intermediários e depois diminuiria nos últimos anos antes do vencimento.
O Iraque mostrou à Venezuela o que é possível fazer, disse ele. Embora continue frágil politicamente, o país devastado pela guerra aumentou a produção de petróleo de 579.000 barris por dia em 1996 para quase 5 milhões. Seu produto interno bruto se multiplicou por dez nas últimas duas décadas e superou US$ 200 bilhões.
No entanto, o mero tamanho do título torna a ideia quase impossível. A maior venda de dívida de mercados emergentes já registrada é a emissão de US$ 17,5 bilhões da Arábia Saudita em 2016. Um título de US$ 130 bilhões seria extremamente líquido, o que o tornaria um alvo importante para os investidores se protegerem dos mercados emergentes, segundo Siobhan Morden, diretora de estratégia de dívida da América Latina do Nomura em Nova York.
"Os credores gostam de opções, não de uma única solução para tudo", disse Morden. "Isso caracterizou todas as reestruturações de dívida."