UE divulga plano para fortalecer euro e diminuir dominância do dólar
Apelos para uma maior autonomia do bloco ganharam força depois que os EUA impuseram sanções ao Irã que prejudicaram bancos europeus
Beatriz Quesada
Publicado em 19 de janeiro de 2021 às 12h07.
Última atualização em 19 de janeiro de 2021 às 12h10.
(Bloomberg)A União Europeia (UE) divulga nesta terça-feira, 19, um plano para fortalecer o papel internacional do euro com o objetivo de reduzir o domínio do dólar e proteger o bloco de riscos financeiros, incluindo sanções dos Estados Unidos.
O plano da Comissão Europeia vai detalhar como a região pode fortalecer sua resiliência econômica e financeira ao reforçar a arquitetura da moeda única e por meio de mercados em crescimento como o de finanças verdes, de acordo com minuta do plano vista pela Bloomberg.
Apelos para uma maior autonomia do bloco têm aumentado nos últimos anos e ganharam força depois que os EUA impuseramsançõesao Irã que também penalizariam bancos europeus, empresas e pessoas que fazem negócios com a república islâmica. O plano da comissão reflete a pressão cada vez maior dos estados membros para que a UE adote ferramentas que lhe permitam buscar seus objetivos de política externa sem ter de recorrer tanto aos EUA, um aliado imprevisível.
A capacidade dos EUA de impor sanções internacionais por causa do poder do dólar “afetou seriamente a capacidade da UE e de seus estados membros de promover objetivos da política externa”, afirma o documento. A política de Washington, às vezes, “comprometeu o comércio legítimo e o investimento de empresas da UE”.
Aliado volátil
A iniciativa de impulsionar o papel do euro foi colocada pela primeira vez na agenda da UE pelo ex-presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, que, diante de um parceiro errático em Washington, pediu medidas para proteger as economias e a moeda da região da volatilidade em outras partes do mundo. Foi durante a gestão de Juncker, em 2018, que o presidente Donald Trump retirou os EUA do acordo internacional que restringia o programa nuclear do Irã e impôs sanções.
Os EUA também paralisaram um dos principais projetos de infraestrutura de energia da Europa, o Nord Stream 2, com ameaças de sanções a empresas. As medidas do governo dos EUA são vistas como forma de impulsionar as exportações de gás natural liquefeito dos EUA para a Europa e, ao mesmo tempo, manter o trânsito do combustível em países do leste europeu que não usam o euro, mas têm relações amigáveis com o governo de Washington.
Segundo o Banco Central Europeu (BCE), o euro continua a ser a segunda moeda mais utilizada no mundo, atrás do dólar. Mas, apesar da iniciativa mais recente, há pouco que a UE possa fazer em termos de iniciativas políticas ou legislativas para aumentar significativamente o uso de sua moeda.
A principal preocupação da UE será a conclusão de projetos emblemáticos que unifiquem melhor o seu setor bancário e os mercados de capitais. No entanto, essas iniciativas foram paralisadas muitas vezes devido a desacordos entre governos.
Finanças sustentáveis
Mas a UE acredita que seu fundo de recuperação histórico, criado para auxiliar os países a se recuperarem da recessão causada pela pandemia, poderia ajudar a sustentar o euro. O pacote de estímulo prevê 750 bilhões de euros (US$ 905 bilhões) em subvenções e empréstimos, levantados por dívidas apoiadas conjuntamente, enquanto cerca de 30% desses fundos terão que ser investidos em projetos verdes.
“A promoção das finanças sustentáveis é uma oportunidade para desenvolver os mercados financeiros da UE em um centro global de ‘finanças verdes’, reforçando o euro como moeda padrão para a denominação de produtos financeiros sustentáveis”, afirma o plano.
Outro fator que também poderia mudar o jogo é a iniciativa do BCE para a introdução de um euro digital, segundo o documento. “O desenvolvimento do setor financeiro digital europeu reforçará a autonomia estratégica aberta da UE em serviços financeiros e a capacidade de proteger a estabilidade e os valores financeiros da UE.”
Com a colaboração de Alexander Weber e Paul Gordon