Ressaca da Black Friday derruba Hering na Bolsa
Ações da companhia de vestuário despencou mais de 12%, após menos faturamento no quarto trimestre de 2019
Guilherme Guilherme
Publicado em 21 de janeiro de 2020 às 12h21.
Última atualização em 21 de janeiro de 2020 às 12h36.
Embora as varejistas se mantenham como a grande esperança do mercado para 2020, o ano não começou bem para as ações da rede de vestuário Hering , que chegaram a cair 13,1% nesta terça-feira (21), após a empresa apresentar fraco desempenho no quarto trimestre de 2019, mesmo batendo recorde de vendas na Black Friday .
Segundo a companhia, o sucesso no evento influenciou o resultado abaixo do esperado no mês de dezembro. “A ‘ressaca’ de vendas após a Black Friday já era esperada em razão da antecipação de parte das compras, entretanto este movimento se estendeu mesmo após a segunda quinzena de dezembro”, afirmou a empresa em fato relevante. No quarto trimestre de 2019, a Hering registrou receita bruta de 502,9 bilhões de reais contra 530,3 bilhões no mesmo período de 2018.
A redução da receita se deu, principalmente, nos canais de multimarcas e na rede de lojas franqueadas, que representam cerca de dois terços de todo o faturamento da empresa. Segundo a Hering, o menor volume de vendas de peças com maior valor agregado e o fechamento líquido de 13 lojas nos últimos 12 meses pesaram no resultado.
Apesar da contração da receita, as vendas no canal digital cresceram 48,2% no quarto trimestre. A Hering vem buscando melhorar a experiência online de seus clientes com sites novos, mas o e-commerce ainda representa somente 4,4% do faturamento da empresa. A empresa terminou o ano com 91% das lojas integradas ao seu ecossistema omnichannel - estratégia que vem sendo implementada desde o segundo semestre de 2018.
O crescimento em vendas online foi um dos únicos pontos destacados como positivo em relatórios dos bancos de investimentos Credit Suisse e BTG Pactual, que classificaram a recomendação de compra das ações da Hering como neutra.
Analistas do Credit Suisse se mostraram céticos com relação ao futuro da empresa. “A falta de consistência nos resultados e a contínua redução do segmento multimarcas previnem qualquer alavancagem operacional”, escreveram.
As ações da Hering vinham de baixas registradas nos últimos três pregões, acumulando desvalorização de 7,74% no ano até o segunda-feira (21). Caso termine a sessão de hoje em queda de pelo menos 10%, a depreciação acumulada em 2020 poderá ir para 17%.
Em frente, mas de olho no retrovisor
A queda nesta terça-feira mostra que a tradicional companhia catarinense tem um longo caminho pela frente. A companhia passou os últimos anos andando de lado. O lucro de 2018, de 240 milhões de reais, foi 25% menor, em termos nominais, do que o de 2013, época em que o bem-sucedido investimento no varejo foi copiado por uma miríade de concorrentes.
Mas o tempo foi passando, e a mágica da Hering foi ficando para trás. Até que, em 2019, a companhia foi uma das estrelas da bolsa. Um dos segredos é investir mais pesado em tecnologia, e ao mesmo tempo resgatar a essência da empresa, tradicional fabricante de roupas básicas.
“Nosso grande desafio é preservar a memória de uma empresa centenária, com produtos conhecidos e uma linguagem familiar, mas dialogar com o espírito do nosso tempo, que requer coragem para experimentar”, disse Thiago Hering, diretor executivo e membro da sexta geração da família, em entrevista a EXAME em outubro.
A meta era que até o final de 2019 todas as mais de 700 lojas da rede estivessem conectadas ao e-commerce. Os dados sobre os artigos com mais saída nas lojas têm sido usados para melhorar a reposição de estoque dos franqueados, reduzindo o volume de peças encalhadas.
Uma das preocupações da Hering é reaproximar-se do público jovem, que não tem a memória da marca em seus melhores dias. Mostrar que está no caminho certo apesar das oscilações do dia-a-dia é outro grande desafio para a empresa em 2020.