Reguladores repetem medidas ineficazes da crise subprime
Retorno da proibição de operações especulativas na Alemanha é "deprimente", afirma especialista no tema
Da Redação
Publicado em 20 de maio de 2010 às 16h28.
São Paulo - "Na atual situação do mercado, as vendas a descoberto podem levar as companhias do setor financeiro à ruína". A declaração, feita em setembro de 2008 pelo órgão regulador do mercado financeiro alemão (BaFin), retratava a grave crise vista na época. Era uma tentativa de conter a desenfreada queda das ações das empresas do setor financeiro.
O movimento foi além das fronteiras de Frankfurt. Reguladores em todo o mundo, dos Estados Unidos até a Austrália, adotaram a caça ao short selling. A operação a descoberto acontece quando investidores vendem ações sem detê-las (naked) ou emprestadas, na esperança de que o preço recue. Depois, eles compram os papéis com um preço menor, os entregam, e embolsam a diferença.
Hoje, a situação é parecida. O mesmo BaFin retomou, esta semana, as restrições. Foram banidas as operações com alguns papéis de empresas do setor financeiro, além de negociações com títulos de dívida de países da Zona do Euro. As operações, segundo o regulador, "poderiam resultar em mais graves inconvenientes para o mercado financeiro e comprometer a estabilidade do sistema financeiro como um todo".
O problema está na efetividade da decisão. Desta vez, Frankfurt está isolada. Os outros países não seguiram o BaFin. "Não espero que isso funcione. Por ser realizado por um só país, pode ser driblado por negociações em outros lugares", explica o professor de economia da universidade italiana Napoli Federico II, Marco Pagano, que publicou recentemente o estudo " Proibição da venda a descoberto na crise: uma política equivocada ".
"Acredito que proibições como essa são tão equivocadas quanto eram no meio da crise subprime. É deprimente ver como os reguladores parecem não aprender com a experiência", ressalta Pagano. A notícia, quando foi anunciada, levou à uma queda generalizada dos mercados em todo o mundo.