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Propostas de Trump podem pressionar inflação nos EUA, diz estrategista da BlackRock

Em entrevista a jornalistas brasileiros, Axel Christensen avalia potenciais impactos de governo republicano e afirma que cenário no Brasil ficou mais desafiador

Axel Christensen, estrategista-chefe da BlackRock para a América Latina: "Cenário ficou mais desafiador no Brasil" (Alejandro Cegarra/Bloomberg)
Guilherme Guilherme

Repórter de Invest

Publicado em 17 de julho de 2024 às 11h08.

A tentativa de assassinato de Donald Trump durante comício na Pensilvânia no último fim de semana alçou o ex-presidente como claro favorito a vencer a corrida presidencial nos Estados Unidos. Essa maior probabilidade tem aumentado as discussões no mercado sobre os potenciais cenários em caso de vitória republicana. Na BlackRock, a maior gestora do mundo, com US$ 10,6 trilhões em investimentos, a percepção é de que as atuais propostas de Trump podem reaquecer a inflação no país.

"Se considerarmos o que tem sido dito [na campanha], há o risco de ser inflacionário. Dito isso, uma coisa é a retórica de campanha, outra é o que realmente é feito quando se tornam presidentes", afirmou Axel Christensen, estrategista-chefe de América Latina da BlackRock, em coletiva de imprensa com jornalistas brasileiros.

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Entre os potenciais riscos inflacionários estão os incentivos para maior produção local e o potencial aumento de tarifas sobre produtos chineses. "Trump tem medidas muito mais rigorosas contra a China. Não é que Biden seja a favor de reduzir tarifas, muito pelo contrário. Ele manteve as tarifas que Trump introduziu durante seu governo, mas não é tão extenso em termos de anúncios de novas tarifas."

Outro risco inflacionário diz respeito à política imigratória. "No passado, havia uma diferença um pouco maior. Mais recentemente, Biden tem implementado algumas medidas para conter a imigração ilegal, mas ainda vemos uma distinção importante em que não só Trump anunciou sua intenção de interromper a imigração por completo, como também mencionou a ideia de eventualmente deportar pessoas, repetindo uma política que Eisenhower colocou em prática durante os anos 1950."

Economistas apontam que os fluxos migratórios para os Estados Unidos têm contribuído para o controle da inflação ao aumentar a mão de obra disponível e reduzir as pressões salariais. "Então, existem diferenças que analisamos e observamos o impacto delas. Elas têm impacto inflacionário e, claro, afetam as tensões geopolíticas, não apenas do ponto de vista dos EUA, mas de outros países também."

A inflação nos Estados Unidos se tornou um dos maiores temores do mercado mundial nos últimos anos, obrigando o Federal Reserve (Fed) a elevar sua taxa de juros para o maior patamar do século. Uma das teses da BlackRock é de que, dada a conjuntura global, o mundo terá que lidar com taxas mais altas de inflação e juros mais altos e mais baixos de crescimento. "É o nosso cenário base. Mas podemos ser surpreendidos positivamente se o aumento de produtividade pela inteligência artificial for mais rápido que o esperado. Ou negativamente, caso a inflação volte a acelerar ou o Fed corte menos sua taxa de juros do que o mercado espera."

Cenário é mais desafiador no Brasil

Quanto ao mercado brasileiro, Christensen avalia que a percepção de investidores estrangeiros sobre o país piorou em relação ao início do ano. "Era impossível prevermos no início do ano a inundação no sul do Brasil. Isso tem impactos em crescimento e inflação e na capacidade do governo cortar gastos." O estrategista da BlackRock também atribui a piora de percepção à frustração com a política monetária, dado o ritmo mais lento que o esperado de queda de juros.

"É claro que a situação fiscal tem um impacto. É mais sobre como o mercado e outros importantes agentes econômicos têm incorporado a situação fiscal em suas decisões. O próprio Banco Central reconheceu que a situação fiscal no Brasil é um fator que eles precisam incluir em sua análise para determinar se continuarão cortando as taxas de juros", diz Christensen. O Banco Central interrompeu o ciclo de queda de juros na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), mantendo a taxa inalterada pela primeira vez desde junho de 2023. Pelo consenso do mercado, não há perspectiva de que o BC volte a cortar a Selic ainda neste ano.

A bolsa brasileira vem de seis meses consecutivos de saída de capital estrangeiro. Até o fim de junho, investidores estrangeiros tinham tirado R$ 38,8 bilhões no ano. "Quando olhamos para o Brasil, eu diria que algumas coisas tornaram o cenário um pouco mais desafiador do que antes. Algumas dessas coisas estão relacionadas especificamente ao Brasil, enquanto outras são mais amplas, como a evolução das taxas de juros dos Estados Unidos."

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