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Por que Argentina de Milei tem animado o mercado, apesar de inflação recorde e retração

País é o que mais atraiu recursos de fundos globais na América Latina; bolsa de Buenos Aires acumula 60% de alta no ano

Javier Milei e Elon Musk: presidente da Argentina tem o apoio de grandes investidores internacionais (X/Reprodução)

Publicado em 25 de maio de 2024 às 10h45.

Última atualização em 25 de maio de 2024 às 10h47.

A Argentina entrou em recessão ao registrar queda de 5,3% no Produto Interno Bruto (PIB) do primeiro trimestre. Apesar da queda de atividade, que chegou a 8,4% em março, a inflação segue rodando na máxima desde a hiperinflação dos anos 1990. O Índice de Preço ao Consumidor (IPC) argentino de abril, o mais recente divulgado, acelerou para 289% no acumulado de 12 meses.

A deterioração das condições econômicas, parte influenciada pelas medidas do governo de Javier Milei, tem provocado o aumento de pessoas vivendo na linha da pobreza. De acordo com estudo da Universidade Católica da Argentina, esse percentual seria próximo a 60% da população, o maior em pelo menos vinte anos. Dados oficiais, ainda referentes ao ano passado, mostravam cerca de 40% da população na linha da pobreza. No Brasil e Estados Unidos, esses percentuais estariam próximos de 30% e 12%, respectivamente.

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Apesar dos sinais preocupantes da economia argentina, o governo de Milei tem caído nas graças do mercado, que vê nas reestruturações melhorias para uma maior sustentabilidade a longo prazo, A confiança se reflete em investimentos. O apoio vai do guru dos mercados emergentes, Mark Mobius, até  Elon Musk, passando pelos principais bancos de investimentos.

De acordo com dados da EPFR, a Argentina e o Peru foram os únicos entre os principais países da América Latina a registrarem entrada de fundos internacionais de ações. Na Argentina, R$ 135 milhões entraram desde o início do ano, no Peru, R$ 5 milhões.  No mesmo período, a bolsa de Buenos Aires subiu pouco mais de 60% performance que a coloca entre as melhores do mundo, mesmo considerando a alta de 10% do dólar frente ao peso no ano.

A alta do dólar tem sido uma das estratégias do novo governo para estabilizar a Argentina. Desde dezembro, quando Milei assumiu a presidência, o dólar oficial subiu 147%, de360 pesos para 890 pesos, se aproximando da cotação paralela, que melhor representa as condições de oferta e demanda pela moeda. No dólar blue, o não oficial, a alta foi de 24% no ano para 1.265 pesos. O dólar mais alto, embora pressione a inflação, ajuda a estimular a exportação de produtos argentinos, trazendo dólares para a economia argentina e reduzindo as pressões sobre as reservas cambiais.

Melhora de expectativas

O plano de dolarizar a economia segue em curso, mas para isso são necessários dólares. A Argentina também depende da atração de dólares para conseguir honrar as contas externas, especialmente a dívida que tem com o Fundo Monetário Internacional (FMI). Recentemente, inclusive, o FMI emitiu uma nota favorável às conduções econômicas do país, classificando os progressos como "mais rápidos que o esperado". Em abril, vale lembrar, a Argentina registrou seu primeiro superávit trimestral desde 2018.

A inflação corrente também tem arrefecido. Ainda que rodando nas máximas no acumulado de 12 meses, o IPC mensal tem caído significativamente. Em abril, a alta foi de 9,2%, a menor desde os dados referentes a outubro. Os números vêm caindo gradativamente desde dezembro, quando a retirada de algumas travas no câmbio e cortes de subsídios fez o IPC disparar para 25%. A percepção de que o pior da aceleração de preços já ficou para trás tem contribuído para melhorar as expectativas de inflação no país.

A expectativa do mercado, de acordo com levantamento do BC argentino, é de que a inflação argentina caia dos atuais 289% para 161% até o fim do ano, com a inflação mensal seguindo em trajetória de queda nos próximos meses. para os próximos 12 meses, a projeção é de um IPC de 88% e de 41% daqui a dois anos. Para 2026, a projeção é de que a taxa caia para 25,5%.

A melhora das expectativas de inflação foi um dos pontos-chave para que o BC argentino tenha feito sucessivos cortes de juros. Desde março, a taxa caiu de 100% para 40%

Analistas do BTG Pactual (do mesmo grupo controlador da Exame) estimam que a atividade econômica da Argentina tenha batido o fundo em março, com recuperação prevista para os dados de abril em diante. A projeção é de que a recessão termine ainda neste trimestre. A recuperação, segundo o banco, deverá ser puxada pela produção agrícola e energética.

Apesar do maior otimismo do mercado, o BTG considera que a estratégia de sacrificar o presente para colher futuro aumenta os riscos de uma ebulição social no país."Embora acreditemos que o ajuste era inevitável e consideremos o diagnóstico de Milei preciso, as políticas têm-se apoiado fortemente até agora na diluição de rendimentos e despesas reais, criando uma recessão profunda. A menos que a economia se recupere, a popularidade de Milei será, mais cedo ou mais tarde, prejudicada", diz o banco em relatório. Para os especialistas, mais do que a manutenção da dinâmica atual, é preciso apoio do Congresso para consolidar o orçamento com medidas sustentáveis e menor controle sobre exportações e investimentos.

"Os planos ambiciosos de Milei se resumirão a como serão executados, sendo meados de 2024 um ponto de virada para melhor ou para pior. As suas propostas são louváveis, mas ele terá de escolher batalhas para obter o apoio do Congresso, mais provavelmente se o apoio popular for forte", afirma o BTG.

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