Para o mercado, Temer é "irrelevante" e só um assunto interessa
Escândalos deixaram o presidente de lado e mudou o foco dos investidores para quem deve assumir o Planalto no lugar de Temer, e como isso deve acontecer
Fernando Pivetti
Publicado em 3 de junho de 2017 às 09h03.
Última atualização em 3 de junho de 2017 às 09h03.
São Paulo - O mercado financeiro parece ter absorvido muito bem a crise política que tem abalado o governo de Michel Temer nas últimas semanas.
O desempenho dos ativos da bolsa de valores e os movimentos recentes de dólar e da curva de juros futuros reproduzem o visão menos alarmista nos bastidores da bolsa brasileira.
O mercado já trabalha com um final prematuro do governo Temer e traça planos para a próxima gestão. Para o economista-chefe da Gradual Investimentos, André Perfeito, o presidente tornou-se “irrelevante” para o cenário político e econômico do país.
“A permanência ou saída do presidente Temer é irrelevante, porque o que importa é que a equipe econômica deve permanecer e todos agora estão interessados na aprovação ou não das reformas.”
Apesar da crise política ter abalado os planos de curto prazo para a economia do país, muitos investidores e corretoras apostam que a solução política para o atual momento deve ser menos traumática do que a saída da ex-presidente Dilma Rousseff.
A grande aposta é que ocorram eleições indiretas após a saída de Temer e que o novo governo tenha a mesma linha política e econômica do atual presidente, fator que ajuda a acalmar os ânimos do mercado.
O analista da Ativa Investimentos, Phillip Soares, acredita que a transição de governo desta vez deve ser mais suave.
“Em 2016, a saída de Dilma Rousseff representou uma mudança de modelo de governo. Agora, o Temer não deverá terminar seu mandato, mas uma eleição indireta traria mais chances de continuidade das diretrizes da atual gestão do país. O que mais interessa é se as próximas eleições serão diretas ou indiretas.”
Otimismo abalado
Os escândalos de corrupção envolvendo o presidente adiaram as perspectivas da retomada do crescimento da economia, mas não azedou o humor dos investidores e nem dissolveu completamente o otimismo.
André Perfeito ressalta que o governo Temer já estava enfrentando obstáculos para seguir com a pauta de reformas no Congresso e esse cenário não mudou, sendo a aprovação desses projetos no Congresso o grande foco do mercado.
“Cria-se um nervosismo com relação à crise política que precisa ser trabalhado. A reforma da Previdência já estava comprometida desde antes da crise e essa perspectiva não mudou.”
Para o economista da Gradual Investimentos, o momento atual do mercado deve ser de calma e espera. O otimismo dos investidores, que vinha dominando a cena na bolsa de valores e puxando o índice Ibovespa para próximo de patamares históricos, não foi embora.
“É claro que a bolsa caiu muito nas últimas semanas, mas não podemos esquecer que antes o índice estava subindo 52% neste ano, e essa alta não foi perdida. Outro ponto é que muitos indicadores, como o dólar por exemplo, estão hoje em patamares que as perspectivas do mercado para o final do ano já apontavam.”
Rating sob ameaça
Ainda que a crise do governo não tenha provocado fortes abalos entre os investidores, o mercado brasileiro começa a olhar para fora, na expectativa de um anúncio das agências de risco sobre os ratings do país.
No final de maio, a Moody’s alterou a perspectiva da nota Ba2 do país de estável para negativa, acompanhando a decisão da Standard & Poor’s de colocar o rating BB em revisão para um possível rebaixamento.
André Perfeito diz que é muito cedo para os investidores entrarem na discussão da nota de crédito do país. “Existem dois pontos que estão segurando o rating: o câmbio e os juros. Nesse sentido, é importante olhar para a estabilidade da equipe econômica, que em nenhum momento da crise política esteve sob ameaça de substituição.”
Já Roberto Indech, analista-chefe da Rico Investimentos, acredita que as chances de um rebaixamento da nota depende da confirmação da saída de Michel Temer, e sobretudo quando ela vai ocorrer.
“É natural essa resposta das agências de risco sobre os ratings diante de tudo o que acontece no país. Mas a saída do presidente é o fator que vai dizer se essa baixa na nota de crédito vai se concretizar.”