Não taxação de Shein, Ali e Shopee “preocupa”, diz associação de 71 varejistas
Instituto para Desenvolvimento do Varejo reúne Magazine Luiza, Via, Renner, C&A e outros nomes do comércio e argumenta que produtos das plataformas estrangeiras competem de forma "desleal"

Repórter Exame IN
Publicado em 19 de abril de 2023 às 09h03.
Última atualização em 19 de abril de 2023 às 10h05.
O recuo do governo e sua decisão de manter a isenção de tributação para encomendas do exterior sem fins comerciais entre pessoas físicas até US$ 50 frustrou os grupos varejistas, que têm se reunido com representantes do governo federal para pedir uma "competição mais isonômica", especialmente contra plataformas asiáticas como AliExpress, Shopee e Shein.
Em carta divulgada na manhã desta quarta-feira, 19, o Instituto para Desenvolvimento do Varejo (IDV) argumenta ser insustentável que a indústria e o comércio sofram concorrência desleal de produtos que, na prática, sofrem tributação zero. O instituto representa 71 varejistas, incluindo grandes plataformas de e-commerce, como Magazine Luiza, Via (dona da Casas Bahia), Americanas, e as varejistas de moda Renner, Dafiti, C&A, Marisa, Guararapes (Riachuelo), entre outras.
Segundo estimativas do IDV, considerando a projeção de crescimento do varejo, a evasão originada apenas no varejo digital deve alcançar entre R$ 76 bilhões e R$ 99 bilhões em 2025, se nada for feito.
"A não taxação das vendas realizadas pelas plataformas digitais estrangeiras, mantendo a isenção de impostos de remessas com valor inferior a US$ 50,00, o chamado 'de minimis', nos preocupa, mas seguimos acompanhando os esforços do governo e acreditamos que, juntos, governo e setor privado, acharemos uma solução para essa situação insustentável”, afirma Jorge Gonçalves Filho, presidente do IDV.
A eventual manutenção do “de minimis” vai exigir um esforço bem maior do governo no combate à pirataria e à sonegação de impostos, argumenta o IDV. “Acabar com a isenção e taxar toda e qualquer encomenda vinda do exterior seria uma forma de o governo arrecadar mais dinheiro e cobrar o que é seu de direito. A não cobrança poderá fazer com que muitas plataformas continuem burlando o Fisco e promovendo uma competição desleal com as varejistas brasileiras, que pagam seus impostos e contribuem para o desenvolvimento do país”, diz Gonçalves Filho.
Bilhões de reais em encomendas e problema complexo
O que fez o varejo colocar as barbas de molho com essas operações foi a escalada da participação dessas encomendas isentas. Mais de 80 milhões de brasileiros já compraram em plataformas de e-commerce asiáticas, como aShein,ShopeeeAliExpress, segundo o Instituto Locomotiva. O volume transacionado passou de R$ 12 bilhões em 2019 para R$ 50 bilhões em 2022 e o número de pacotes chegou a 178 milhões no ano passado.
Além disso, a base clientes ficou bem maior. Hoje, apontam especialistas, a base cliente da Shopee equivale à doMercado Livree a da Shein já supera em algumas vezes a daRenner.
De acordo com o governo e com os varejistas, muitas dessas operações foram formas de burlar a fiscalização. "O controle é muito baixo, menos de 2% do que chega no país é controlado", argumenta Jean Rebetez, diretor-executivo da Gouvêa Consulting, que é associada ao IDV. Alberto Serrentino, especialista em varejo e fundador da Varese Retail, também observa queo tema é complexo. Essa salto no volume fez a fiscalização física de pacotes ficar iniviável, segundo o especialista.
Para ele, a fiscalização deve ser semiautomatizada e ainda no início da transação, no ecossistema das plataformas estrangeiras, e não após a nacionalização do produto. Como exemplo, Serrentino cita as compras internacionais feitas em algumas plataformas como a Amazon, que já apontam o valor do imposto antes mesmo da conclusão da compra.
"O problema é como fazer isso sem travar uma coisa moderna e saudável que é o cross-boarder, que é inclusive uma oportunidade para as empresas no Brasil. Não dá para asfixiar o cross-boarder, mas é preciso regulá-lo dentro do regime tributário e das regras vigentes", argumenta Serrentino.
A visão é compartilhada por Rebetez: "É preciso que haja condição de igualdade recíproca. Essa é a pauta do varejo. O caminho talvez mais duradouro e honesto a ser feito seria negociar com os marketplaces para haver a indicação de taxação ainda na hora da compra", diz. "O governo levantou essa bola e não se posicionou. A comunicação foi muito dúbia sempre, então esse tema vai continuar latente e com espaço para discussão", acrescenta o diretor da Gouvêa.
Leia aqui a carta do IDV na íntegra:
IDV acompanha com muita expectativa os esforços do governo para coibir a importação fraudulenta de mercadorias estrangeiras
O IDV (Instituto para Desenvolvimento do Varejo) apoia todas as iniciativas no sentido de coibir tais importações e considera insustentável que a indústria e o comércio sofram concorrência desleal de produtos que, na prática, vem sofrendo tributação zero.
“A não taxação das vendas realizadas pelas plataformas digitais estrangeiras, mantendo a isenção de impostos de remessas com valor inferior a US$ 50,00, o chamado “de minimis”, nos preocupa, mas seguimos acompanhando os esforços do governo e acreditamos que, juntos, governo e setor privado, acharemos uma solução para essa situação insustentável”, afirma Jorge Gonçalves Filho, presidente do IDV, entidade que representa 71 empresas varejistas de diferentes setores.
De acordo com ele, a eventual manutenção do “de minimis” vai exigir um esforço bem maior do governo no combate à pirataria e à sonegação de impostos. “Acabar com a isenção e taxar toda e qualquer encomenda vinda do exterior seria uma forma de o governo arrecadar mais dinheiro e cobrar o que é seu de direito. A não cobrança poderá fazer com que muitas plataformas continuem burlando o Fisco e promovendo uma competição desleal com as varejistas brasileiras, que pagam seus impostos e contribuem para o desenvolvimento do país”, analisa Jorge Gonçalves Filho.
Para o executivo, se o produto não tem a finalidade de ser transacionado entre uma pessoa física para outra, e sim a de ser comercializado nos sites estrangeiros, deve pagar o imposto que já existe em qualquer importação regular; ou seja, não está se criando um novo imposto. “Esse dinheiro arrecadado poderia ser usado em áreas cruciais para o Brasil, como saúde e educação, e seria um enorme avanço para combater a concorrência desleal que o varejo, hoje, enfrenta no país. A compra de produtos sem impostos, de forma ilegal, afeta a economia e o emprego por falta de investimentos e pela concorrência desleal”.
O IDV continuará a trabalhar intensamente, apoiando todas as medidas governamentais que forem na direção da justa tributação e da redução da pirataria e da sonegação praticada nas importações comerciais, disfarçadas de pacotes sem valor comercial de pessoa física para pessoa física.
Segundo estimativas do IDV, considerando a projeção de crescimento do varejo, a evasão originada apenas no varejo digital deve alcançar entre R$ 76 bilhões e R$ 99 bilhões em 2025, se nada for feito.