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Morgan Stanley vê Brasil mais exposto a fuga de capitais

Banco americano sugere que o fim dos subsídios à economia e ao aumento dos juros nos Estados Unidos deixariam os países mais expostos na América Latina


	BM&FBovespa: segundo o banco, setores defensivos voltados para o mercado doméstico teriam melhor desempenho
 (Paulo Whitaker/Reuters)

BM&FBovespa: segundo o banco, setores defensivos voltados para o mercado doméstico teriam melhor desempenho (Paulo Whitaker/Reuters)

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Da Redação

Publicado em 17 de junho de 2013 às 10h52.

São Paulo - O Brasil e o México seriam os países mais expostos na América Latina no caso de uma interrupção dramática dos fluxos de capitais externos para países emergentes, por conta do fim dos subsídios à economia e ao aumento dos juros nos Estados Unidos, avalia o banco americano Morgan Stanley.

Em relatório enviado aos investidores hoje, assinado por Manoj Pradhan e Patryk Drozdzik, o banco avalia que a parada ou saída abrupta de recursos, que reduzisse dramaticamente o acesso a capitais externos, comprometeria alguns setores que dependem desse financiamento e a economia de alguns países, mesmo que não se chegasse a uma crise da dívida.

O conceito de exposição é diferente do de vulnerabilidade, observa o banco. Países mais vulneráveis poderão ter problemas mais sérios por causa da dependência de recursos de fora para financiar déficits externos de conta corrente elevados. Já a exposição mostra os países que sofreria mais os efeitos da redução de fluxos em sua economia de uma maneira geral.

O banco considera os países emergentes mais expostos a uma interrupção dos fluxos o Brasil, México, África do Sul, Turquia e Ucrânia. Com moderada exposição estão Colômbia, Chile, República Tcheca, Índia, Coreia do Sul, Malásia, e Tailândia. E menos expostos estariam a China, Israel, Peru e Rússia. Ficam de fora a Argentina, Hungria, Indonésia e Polônia.

No caso, a vulnerabilidade dos países mais expostos será menor se tiverem volume de reservas elevado, caso do Brasil, maior poupança interna com fundos de pensão que financiem as dívidas do governo ou linhas de crédito do FMI, além de perspectivas de crescimento ou de reformas estruturais, caso do México.

O banco observa que a demanda de investidores por ativos de papéis de países em desenvolvimento cresceu muito nos últimos três anos, o que é positivo, mas aumenta o impacto nos preços desses ativos em caso de redução dessas aplicações.


O valor de mercado das ações que compõem o MSCI Emergentes, por exemplo, passou de US$ 570 bilhões no começo de 2003 para US$ 3,7 trilhões hoje. O índice é um referencial para os investidores internacionais que querem montar carteiras nesses países.

A demanda por papéis de renda fixa locais de países emergentes por parte de países desenvolvidos cresceu cerca de US$ 10 bilhões por mês desde 2010, acumulando US$ 400 bilhões. México, Brasil, Turquia, Polônia e África do Sul foram os principais destinos desses recursos.

O banco acredita que uma redução mais rápida dos incentivos das autoridades americanas poderia criar uma parada drástica na entrada de capitais em alguns países emergentes, principalmente nos que tenham problemas em suas economias também.

Crescimento menor e dólar a R$ 2,20 em 2014

O banco reduziu a perspectiva de crescimento para a América Latina, de 3,1% para 2,7% este ano e de 3,8% para 3,6% no ano que vem. Para o Brasil, o crescimento foi reduzido de 2,8% para 2,6% este ano e de 3,4% para 3,2% no ano que vem.

O banco espera que o dólar termine este ano no Brasil em R$ 2,10 e, no ano que vem, em R$ 2,20 (antes a projeção era de R$ 2,00 para 2014), com o déficit de contas correntes brasileiro atingindo 4,4% do PIB no ano que vem.

O Morgan Stanley acredita que a inflação vai continuar sendo um problema, mas por conta do calendário eleitoral, o Banco Central (BC) não vai subir muito os juros, já que os índices de preços devem perder força no segundo semestre e uma alta maior poderia reduzir o emprego em um ano eleitoral. O economista do Morgan Stanley, Arthur Carvalho, acredita que os juros subirão até 8,75% ao ano, 0,75 ponto acima da taxa atual, de 8% ao ano.


Impacto nas bolsas

Com relação às bolsas, o Morgan Stanley considera que uma parada brusca de investimentos estrangeiros na América Latina afetaria de maneira mais intensa empresas ligadas ao setor de commodities e setores industriais e financeiros cíclicos, que acompanham a atividade econômica, pois poderia levar a uma recessão ou ao menos a um desaquecimento global. Setores defensivos voltados para o mercado doméstico teriam melhor desempenho.

O Brasil tem alta exposição tanto a commodities, com Vale e papel e celulose, por exemplo, representando 32% do mercado, quanto aos industriais cíclicos, como siderurgia, com 43% do mercado. Já México e Chile seriam os com maiores opções em papéis defensivos voltados ao mercado interno. Os mercados com maior exposição a commodities são Peru e Colômbia, com 48% e 43%, respectivamente.

No caso de uma parada subida dos capitais externos, a recomendação do Morgan Stanley é para ações defensivas, como as de serviços, telecomunicações, gêneros de primeira necessidade. O banco evitaria o setor financeiro e de bens duráveis, commodities e setores industriais como siderurgia.

Entre as recomendações do banco nesse ambiente estão Light ON, Lojas Renner ON e Lojas Americanas PN.

Já no caso de uma redução gradual dos investimentos externos, que teriam menor impacto sobre a economia mundial, e provavelmente seria acompanhada de um aquecimento maior da economia americana e desvalorização das moedas locais dos emergentes, o Morgan Stanley vê oportunidades em empresas com maior exposição aos EUA. No Brasil, esse cenário beneficiaria Vale, Fibria, JBS e Embraer.

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