Mercado já vê inflação acima do centro da meta
A combinação nefasta e atípica para a inflação, de commodities em alta e câmbio depreciado, já produz seus efeitos nos preços no atacado
Estadão Conteúdo
Publicado em 21 de fevereiro de 2021 às 16h31.
Última atualização em 21 de fevereiro de 2021 às 19h08.
A nova rodada de aumento de preços de commodities, sem contrapartida de valorização cambial, e a perspectiva de extensão do auxílio emergencial dispararam uma onda de revisões para a inflação neste ano, com crescimento do número de apostas superiores ao centro da meta (3,75%), mesmo com o cenário de alta de juros.
A combinação nefasta e atípica para a inflação, de commodities em alta e câmbio depreciado, vista também no segundo semestre de 2020, já produz seus efeitos nos preços no atacado, que registram fortes altas mensais. No Índice Geral de Preços -10 (IGP-10) de fevereiro, o aumento foi de 2,97%, acumulando 28,17% em 12 meses. E as notícias ruins não param de chegar, como o aumento de 10,2% da gasolina nas refinarias pela Petrobrás na última sexta-feira.
Na avaliação de economistas ouvidos pelo Estadão, o repasse dessa pressão de custos deve ser inevitável, hipótese que ganha força considerando que a renovação do auxílio emergencial pode favorecer repasses de custos, principalmente em alimentos.
Recentemente, o Itaú Unibanco elevou sua projeção para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em 2021 de 3,6% para 3,8%. O Santander também aumentou sua aposta de 3% para 3 6%. O Banco Inter e a XP Investimentos também anunciaram novas estimativas acima do centro da meta, de 4% e 3,9%, respectivamente, citando tanto as commodities e os combustíveis, como as novas parcelas do “coronavoucher”. O Barclays já havia alterado a previsão de 3,6% para 3,9% após o IPCA de janeiro.
O Boletim Focus da semana passada trouxe a sexta elevação seguida da mediana para o IPCA de 2021, com alta marginal, de 3 6% para 3,62%, ainda abaixo do centro da meta. “A projeção da Focus me parece fora de lugar. A perspectiva de inflação, considerando os preços de atacado, não é de arrefecimento, não é de pressão temporária, passa a ser persistente, considerando o patamar do câmbio e o aumento dos preços das commodities em dólar. Há custos represados no IPA (Índice de Preços ao Produtor Amplo)”, diz o economista-chefe da Parallaxis, Rafael Leão. Ele projeta 4,5% para a inflação no fim do ano, sob a hipótese de que o câmbio deve continuar flutuando no patamar atual.
A economista-chefe da Armor Capital, Andrea Damico, afirma que os maiores temores se confirmaram, com o cenário de inflação a mercê de um choque duplo de câmbio e de commodities. “Mal terminamos de digerir o choque fortíssimo do ano passado e já entramos 2021 com novo choque de preços no atacado.”
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.