Mercados

Mercado de capitais brasileiro tem pior desempenho em 7 anos

Volumes de emissões de renda fixa e renda variável ficou, até novembro, em R$ 109,3 bilhões, 55,9% abaixo dos R$ 247,9 bilhões de 2014


	Bovespa: números mostram que as empresas locais e internacionais passaram o ano com receio de investir
 (BLOOMBERG NEWS)

Bovespa: números mostram que as empresas locais e internacionais passaram o ano com receio de investir (BLOOMBERG NEWS)

DR

Da Redação

Publicado em 10 de dezembro de 2015 às 15h44.

São Paulo - Se o ano de 2014 já foi considerado parado para o mercado de capitais, por conta da eleição presidencial, 2015 foi ainda pior.

Segundo Carolina Lacerda, diretora da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de capitais, a esperança de que 2015 traria o fim do poço de incertezas de 2014 não se confirmou e os volumes de emissões de renda fixa e renda variável ficou, até novembro, em R$ 109,3 bilhões, 55,9% abaixo dos R$ 247,9 bilhões de 2014 e o menor em sete anos.

”Os números mostram um mercado em compasso de espera, aguardando notícias boas que não aconteceram”, diz.

Para ela, o cenário continua difícil, o que deve levar a um aumento das emissões de papéis de curto prazo, como notas promissões. “Quem puder, vai adiar, e quem não puder, vai captar o menor valor pelo menor prazo possível por conta dos juros altos”, diz.

O grosso das emissões foi de renda fixa doméstica, que somou 339 operações, número 49,3% inferior às 669 de 2014.

“É um número baixo e preocupante pois são as operações de renda fixa que sustentam a economia, como as debêntures das empresas ou notas promissórias”, diz.

O número mostra que as empresas locais e internacionais passaram o ano com receio de fazer investimentos, em compasso de espera, seja pela alta dos juros que elevou o custo dos empréstimos, seja pela incerteza macro.

Já no mercado externo, as captações foram limitadas pela forte desvalorização do real, de 50% no ano, que elevou os custos de se fazer hedge e aumentou a preocupação com a taxa de câmbio.

Com isso, ocorreram apenas oito emissões no exterior, em geral de empresas grandes e que têm alguma receita cambial. “Temos um mercado volátil e em compasso de espera”, diz.

Na renda variável, ela lembra que, no ano passado, houve apenas uma abertura de capital (IPO na sigla em inglês), da empresa agropecuária Ouro Fino, de valo mais baixo.

Já neste ano, houve a oferta inicial da FPC Participações, e algumas ofertas de empresas já abertas (follow-ons) com destaque para uma operação da Telefônica, para pagamento da GVT, de R$ 16,1 bilhões, que distorceu os números do mês.

Gerdau e Valid completaram a lista das ofertas de renda variável, que somaram R 18,3 bilhões até novembro, superando os R$ 15,4 bilhões do ano passado, mas concentradas em praticamente uma operação com destinação específica.

A executiva considerou positivo o aumento das operações com bônus no exterior pela instrução 476, que simplifica as operações.

Petrobras liderou as captações com R$ 7,9 bilhões, seguida do Itaú Unibanco, com R$ 3,3 bilhões, Embraer, com R$ 3,1 bilhões, e JBS, com R$ 2,8 bilhões.

No mercado doméstico, o destaque foram as debêntures da Cielo, de R$ 4,6 bilhões, da Petrobras Distribuidora, com R$ 3,5 bilhões, e da Invepar, com R$ 2 bilhões.

Prazos menores

O ambiente de incerteza levou a uma redução não só das emissões, como também dos prazos também, avalia Carolina.

”Os prazos médios de repactuação das debêntures eram de 5 anos e caíram este ano para 2,8 anos”, diz, lembrando que as debêntures responderam por 60% das emissões de renda fixa.

Já no caso dos Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRI), houve redução pela própria desaceleração do mercado de imóveis e o medo de uma bolha.

Os maiores tomadores de recursos foram os setores de logística e transporte e energia elétrica, que mesmo em momentos difíceis têm de continuar investindo.

Neste ano, a executiva acredita que uma das prioridades da Anbima será ampliar o projeto de padronização de debêntures, que já foi aplicado para as do tipo corporativo, e que deve facilitar o entendimento das operações pelos investidores.

“Coisas como colocar as cláusulas sobre determinados assuntos na mesma ordem em todas as ofertas já facilitam”, diz. O próximo passo é fazer isso para debêntures de projetos de infraestrutura, que envolvem uma estrutura mais complexa.

Perspectiva nada animadora para 2016

Para este ano, a perspectiva de Carolina não é muito animadora, especialmente para emissões de ações. “Nesse mercado, é muito dificil sair alguma operação, mercado até temos, mas o problema é o preço”, explica.

Ele não espera nenhuma oferta neste primeiro trimestre, já que para isso as empresas já deveriam ter começado a estruturar as operações.

Nesse caso, aberturas de capital de empresas como Caixa Seguridade, Instituto de Resseguros do Brasil ou BR Distribuidora ficariam para abril ou depois. ”É preciso se preparar e, nesse ambiente, não teria espaço”, diz.

A executiva voltou hoje de Nova York e diz que a sensação dos investidores externos é que há muitas empresas baratas na bolsa, já com capital aberto, o que reduziria o interesse por empresas novas.

“Os fundos de private equity vão fazer carteiras para comprar ações de empresas baratas em bolsa, mas é um mercado mais oportunista, de preço”, afirma. Esse é outro motivo para não haver IPO tão cedo.

Ela espera, porém, um aumento das operações de fusões e aquisições de empresas.

Acompanhe tudo sobre:Crise econômicaeconomia-brasileiraEmpresasInvestimentos de empresasMercado financeiro

Mais de Mercados

Amil e Dasa recebem aval do Cade para criarem rede de hospitais e clínicas

Fundador do Telegram anuncia lucro líquido pela primeira vez em 2024

Banco Central fará leilão à vista de até US$ 3 bi na quinta-feira

Marcopolo avança na eletrificação com aquisição de participação em empresa chilena