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‘Medo’ no câmbio leva a escassez de títulos em reais no exterior

Em 2010, emissões no mercado internacional chegaram a US$ 13,4 bi, mas neste ano ainda não houve ofertas

Para conter valor do real - que só subiu 1% este ano - BC já comprou US$ 20 bi no mercado (Raul Júnior/VOCÊ SA)

Para conter valor do real - que só subiu 1% este ano - BC já comprou US$ 20 bi no mercado (Raul Júnior/VOCÊ SA)

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Da Redação

Publicado em 25 de março de 2011 às 08h36.

São Paulo - Os esforços do governo brasileiro para conter a valorização do real criaram uma escassez no mercado de títulos internacionais denominados na moeda brasileira. No ano passado, as emissões em reais no exterior bateram recorde.

Ainda não houve ofertas este ano, após os US$ 13,4 bilhões em emissões de títulos em reais no mercado internacional em 2010, de acordo com dados compilados pela Bloomberg. O Banco BMG SA, de Belo Horizonte, cancelou uma emissão de dívida em reais em janeiro. Roberto Mendes, diretor de Finanças e Relações com Investidores da Localiza Rent a Car SA, disse que “não vale a pena” emitir títulos com vencimento em sete anos, após ouvir de investidores este mês que a companhia teria de pagar uma taxa de 12,5 por cento, ou mais de 300 pontos-base acima do rendimento da dívida pública de prazo semelhante.

O governo aumentou a compra de dólares no mercado de câmbio após triplicar a alíquota do Imposto sobre Operações Financeiras em investimentos em dívida local para conter a disparada de 36 por cento do real num período de dois anos, que prejudica os lucros dos exportadores. A última vez em que o governo brasileiro emitiu títulos atrelados ao real foi em outubro, alinhando-se a nações em desenvolvimento como Rússia e Filipinas, que lançaram dívida em moeda local no exterior para aproveitar a demanda de investidores por ativos de maior rendimento, em meio a juros próximos a zero nos Estados Unidos e na Europa.

Compras do BC

“O que os investidores mais têm medo é da desvalorização do real, o que tiraria muito valor do investimento feito”, disse Mendes, da Localiza, em entrevista por telefone de Belo Horizonte. “Não está claro exatamente até quando o governo vai deixar o real se apreciar contra o dólar.”


O real acumula pouca variação este ano, um ganho de 0,1 por cento em relação ao dólar, após o Banco Central ter comprado US$ 20 bilhões no mercado de câmbio. Essas compras equivalem a quase metade dos US$ 41 bilhões comprados durante todo o ano passado. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse em 15 de março que está monitorando o mercado para avaliar possíveis medidas cambiais.

A última vez em que o real apresentou desvalorização anual foi em 2008, quando recuou 23 por cento em relação ao dólar, em meio à crise financeira mundial.

O rendimento dos títulos internacionais do governo atrelados ao real disparou 121 pontos-base, ou 1,21 ponto percentual, desde a emissão dos papéis em outubro, que levou empresas a aumentarem suas ofertas, segundo dados compilados pela Bloomberg. O rendimento de dívidas em dólares de mercados emergentes subiu 83 pontos-base no mesmo período, segundo o JPMorgan Chase & Co.

Sem pressa

O secretário do Tesouro Nacional, Arno Augustin, disse em 21 de janeiro que o governo pretende lançar mais títulos em reais no exterior, após a emissão de US$ 597 milhões em outubro, que foi a primeira em três anos. O secretário-adjunto do Tesouro, Paulo Valle, disse em 22 de fevereiro que o Brasil não tem “pressa” para fazer uma nova emissão.

O Ministério da Fazenda e o Banco Central não quiseram fazer comentários.

A inflação, que acelerou para o maior patamar em 26 meses de 6,13 por cento até meados de março, também está limitando a demanda por bônus atrelados ao real, disse Rogério Oliveira, estrategista de mercados emergentes do Morgan Stanley.

“O Brasil tem a questão adicional de que a política fiscal é uma preocupação de longo prazo, o que não ajuda a perspectiva de inflação”, disse Oliveira em entrevista por telefone de São Paulo. A intervenção cambial “aumenta o problema do Brasil de forma idiossincrática”, disse ele.

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