William Landers, do BlackRock: "acredito que o investidor tem pela frente um cenário binário" (Ricardo Correa/EXAME)
Da Redação
Publicado em 21 de maio de 2014 às 14h41.
São Paulo - Nas últimas semanas, a bolsa brasileira mostrou o quanto o resultado da eleição presidencial, que acontece em outubro, vai mexer com o mercado.
A cada rumor ou divulgação de pesquisa de intenção de voto, o Índice Bovespa respondia com intensidade, disparando com a queda das intenções de voto para a presidente Dilma Rousseff, do PT, e caindo com sinais de sua recuperação.
Para o gestor de fundos ativos para América Latina da BlackRock, Will Landers (na foto), esse comportamento indica que o mercado de ações brasileiro logo estará diante de uma encruzilhada: “se tivermos, nos próximos quatro anos, o mesmo que aconteceu nos últimos quatro, então a bolsa vai passar por um movimento forte de queda”, afirmou.
Em entrevista ao blog Arena, o gestor de um dos maiores fundos dos Estados Unidos, que aplica mais de US$ 6 bi na América Latina, falou sobre sua visão do mercado brasileiro e deixou claro que, no curto prazo, a situação tende a ser complicada.
“Hoje a bolsa brasileira permite apenas uma decisão binária”, ele afirma. De acordo com ele, a aposta no mercado local vale a pena “apenas se você acreditar que haverá mudanças na administração da economia”.
Confira abaixo, na íntegra, a entrevista:
Como o senhor vê a situação atual da bolsa brasileira?
Will Landers – Acredito que o investidor tem pela frente um cenário binário. Se ele acredita em mudança na administração da economia, tanto na parte fiscal, quanto na regulatória, com a criação de um ambiente mais propício para investimento, dá para comprar, porque a alta recente ainda não foi tudo.
Mas se você acha que será mais do mesmo do que houve nos últimos quatro anos, então tem uma queda importante para acontecer mais à frente.
Existe algum outro cenário possível?
Landers: Talvez exista uma terceira possibilidade, uma reeleição da presidente Dilma, mas com uma mudança dramática na condução da política e da economia. Acho pouco provável, dado o que vimos nos últimos quatro anos.
Foi um tempo de investimentos cada vez menores, companhias paralisadas por não terem certeza das regras no mercado de câmbio e no sistema tributário.
Além disso, chegou-se a um ponto em que a economia tem consumidores já perto da ‘saturação’, ou seja, não é mais possível fazer o país crescer apenas apostando em consumo.
A economia é pouco produtiva, cheia de burocracia, o emprego tem um custo elevado, etc.
Nesse contexto, como ficam as empresas estatais? É um momento desfavorável para investir em ações dessas empresas?
Landers: O cenário é bem parecido, basta você lembrar que Petrobras e outras empresas estatais foram as grandes beneficiadas (na bolsa) com essas especulações sobre pesquisas eleitorais.
As empresas estatais têm que ser tratadas como companhias de capital aberto, e não como braço do governo, com acionistas minoritários sem força.
Na Petrobras, por exemplo, trabalham muitas pessoas com total foco em melhorar os resultados da companhia, e fazê-la voltar ao que era há cinco anos, com status de uma das maiores empresas do mundo.
Os problemas atuais vêm do controlador. Se houver mudanças em quem controla a empresa, ela mesma vai mudar. A Petrobras tem ativos bons, bons funcionários, gente com experiências únicas no mundo.
No curto prazo, contudo, infelizmente, a direção tanto da bolsa quanto da Petrobras ficará muito mais ligada às eleições do que aos fundamentos.
Recentemente, houve um aumento no fluxo de investimentos estrangeiros para a bolsa brasileira. O senhor acredita que houve uma melhora na percepção desses investidores sobre a situação da economia brasileira?
Landers: Creio que o que aconteceu foi uma combinação de fatores.
O período em que o investidor estrangeiro voltou a olhar para alguns mercados emergentes coincidiu com o momento em que saíram as pesquisas de intenção de voto e popularidade do governo.
E o Brasil ainda é um dos maiores emergentes. Então, muitos fundos dedicados começaram a ver uma possibilidade de melhora do mercado local no curto prazo. No mês passado, por exemplo, vimos dinheiro entrando no nosso fundo e, nesse mês, o fluxo já voltou a ficar estável.
O fato é que os investidores estão começando a pensar que talvez dê para apostar alguma coisa no mercado brasileiro, mas ainda não estão totalmente convencidos. O problema está muito mais ligado ao lado político do que ao econômico.
Todos estão esperando porque o ano que vem deve ser um ano de ajustes. Quão fortes eles serão vai depender da percepção dos investidores sobre a economia brasileira no longo prazo.
Por exemplo, se o candidato do PSDB, Aécio Neves, for eleito, com a chance de ter o Armínio Fraga como ministro da Fazenda, pode haver ajustes pesados na economia no ano que vem, e um crescimento fraco no ano.
Mas a expectativa é que esses ajustes seriam os necessários para que o país voltasse a crescer bem nos próximos anos, com a inflação voltando para o centro da meta.
Já a continuidade do governo Dilma traria expectativa de economia estagnada, com baixo crescimento por um longo período.
Há hoje algum setor da bolsa brasileira com o qual se pode ficar mais otimista?
Landers: Um setor que temos focado há algum tempo é o de bancos privados. Acho que estamos em um momento bom, de melhora na qualidade dos ativos, com muitos problemas sendo resolvidos ao longo de 2011 e 2012.
Vemos que os bancos públicos estão sendo forçados a encolher sua participação no mercado, porque não tem mais como o governo continuar injetando dinheiro.
Então, os bancos privados voltam a ter espaço para ganhar participação de mercado de maneira saudável.
As ações dessas instituições estão atrativas e devem continuar assim, principalmente se acreditarmos que a economia vai melhorar, permitindo um custo de captação mais baixo para os bancos.
E os menos promissores?
Landers: Estamos muito cautelosos com setores mais dependentes de energia elétrica. Com os níveis baixos nos reservatórios, sem movimentação do governo para qualquer tipo de racionamento, sem dúvida haverá um aumento no custo da eletricidade.
A situação pode piorar se continuar chovendo abaixo da média no período mais seco. Além das próprias companhias elétricas, incluímos nessa lista as empresas dos setores de siderurgia e metalurgia, que podem sofrer com maior custo de energia elétrica.