M. Dias Branco tem início de recuperação da pandemia com lucro 150% maior
Companhia vendeu mais do que no mesmo período do ano passado e melhorou repasse de preços, mas aumento sequencial de custos ainda pesa para voltar aos patamares do pré-pandemia
Karina Souza
Publicado em 13 de maio de 2022 às 18h33.
Última atualização em 13 de maio de 2022 às 18h35.
A M. Dias Branco ainda sofre com o acúmulo de pandemia, alta no preço das commodities e dos juros, mas melhorou a gestão de preços e dá o primeiro passo para retomar crescimento. É a foto que o balanço do primeiro trimestre da companhia, divulgado nesta sexta-feira, mostra. Depois de sucessivos tombos em 2021, o lucro líquido da companhia cresceu 152% nos primeiros três meses de 2022 na comparação anual, chegando aos R$ 37,8 milhões. É o início de uma trajetória para voltar aos patamares conquistados em 2020, quando, no mesmo período, a última linha do balanço marcava R$ 137 milhões.
A melhora no indicador foi impulsionada principalmente pelo aumento de receita no período, totalizando R$ 1,8 bilhão, aumento de 26,8% na comparação ano a ano. Os volumes vendidos aumentaram no período (cerca de 5%) mas a gestão eficiente de preços foi fundamental para chegar a este valor. O preço médio em reais por quilo teve alta de 20,3% no trimestre, com maior repasse de custos. Mesmo assim, todas as linhas de negócio – biscoitos, massas, farinha e margarinas – cresceram em dois dígitos a receita no período.
“O equilíbrio entre preço e volume é o nosso normal, mas no último ano não aconteceu porque o mercado não acompanhou o nosso repasse e perdemos participação nas vendas. A empresa está ficando cada vez mais inteligente nessa precificação com mais tecnologia, informação e equipe. Vimos a concorrência sacrificar margens no ano passado para aumentar volume, ao contrário de nós, e agora que o mercado já se ajustou, estamos colhendo bons resultados”, diz Fábio Cefaly, diretor de relações com investidores, à Exame Invest.
Os resultados só não foram melhores por causa, principalmente, do aumento nos mesmos patamares variação de custos. O balanço mostra que cresceram 29,1% na comparação anual, representando 79,8% da receita líquida – aumento de 1,5 ponto percentual. A maior parte do aumento é carregada pelo trigo, que, na média, teve alta de 27,5% na comparação anual. O óleo vem em segundo lugar em valores, e teve alta de 29,3%. No geral, os custos aumentaram 29,1% na comparação anual. Ainda assim, há uma discreta melhora em relação ao quarto trimestre, com queda de 12,5%.
Além disso, as exportações também sofreram impacto negativo com os custos de frete, a valorização do real e a guerra da Ucrânia. Os fatores, somados, trouxeram queda de 23% nas exportações, na comparação anual.
Em uma tentativa de conter esses efeitos, a companhia diminuiu despesas administrativas na comparação com o primeiro trimestre do ano passado, o que o executivo define como o resultado de todos os programas de produtividade e eficiência realizados desde 2020. Na comparação anual, o chamado SG&A no jargão deixou de representar 25,9% da receita líquida nos primeiros três meses de 2022 para representar 21,9% no período correspondente deste ano. A produtividade aumentou em 3,4%, também sob a mesma base de comparação.
Para enfatizar a trajetória de crescimento da companhia no trimestre, a M. Dias Branco abriu, neste trimestre, o crescimento do Ebitda e da respectiva margem mês a mês. Começando pelo geral: o indicador consolidado foi de R$ 88,9 milhões (ante R$ 47,1 no mesmo período do ano anterior) e a margem passou de 3,2% para 4,7%.
A maior parte do resultado veio em março – um comportamento que, segundo o executivo, deve ser replicado ao longo de todo o ano de 2022. Em contrapartida, janeiro foi o mês mais difícil, com Ebitda negativo em R$ 16,4 milhões. “O resultado fraco no mês está relacionado entre o descasamento temporário de aumento de custos e readequação de preços”, afirma o documento. O início da recuperação veio em fevereiro, com recomposição do Ebitda e de margem (R$ 24,4 milhões e 3,8%, respectivamente).
A ideia é que a companhia volte, aos poucos, ao patamar registrado no pré-pandemia. “A margem bruta caiu por dois motivos: desvalorização do real, que é muito difícil de prever, commodities subindo em dólar, além do trigo e óleo de palma. É difícil adivinhar quando o preço vai cair, mas a gente sabe que é algo cíclico”, diz Cefaly.
Para o trimestre, a alavancagem da companhia ficou em patamares acima dos registrados anteriormente, em torno de 1,5x, quando o normal é entre 0,5x e 0,7x. Aconteceu não por fatores operacionais, mas por juros sobre capital próprio extraordinários de R$ 588,2 milhões, pagos em 18 de fevereiro. Para o ano, o dinheiro mais caro – vilão em quase todos os balanços – não deve afetar de forma significativa a M. Dias Branco. “Somos uma empresa altamente geradora de caixa. Não compromete em nada a nossa agenda de crescimento inorgânico e vamos continuar avaliando oportunidades, mesmo com juros mais altos”, diz o executivo.