Lula eleito: 5 pontos para entender como o mercado deve reagir ao novo presidente
Analistas esperam volatilidade no curto prazo, mas veem possibilidade de ganhos à medida que as incertezas diminuam
Beatriz Quesada
Publicado em 30 de outubro de 2022 às 22h19.
Última atualização em 31 de outubro de 2022 às 11h21.
Em 1º de janeiro de 2023, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ( PT ) volta a comandar o País após vencer as eleições presidenciais na noite de domingo, 30. A decisão já era esperada pelo mercado, mas a vitória ainda não está completamente precificada.
A expectativa é de volatilidade no curto prazo, especialmente nas ações mais sensíveis às mudanças políticas, como as estatais. Em um segundo momento, é hora de entender como será o novo governo de Lula, qual será sua equipe econômica e qual âncora fiscal será adotada a partir do próximo ano.
Além disso, cresce a expectativa sobre a transição de governo, já que o presidente Jair Bolsonaro havia se mostrado resistente a aceitar uma possível derrota nas urnas. Passadas as incertezas, analistas avaliam a possibilidade que a bolsa tenha boa reação e volte a subir. Entenda as principais preocupações e reações do mercado abaixo:
1. Estatais
As estatais Petrobras (PETR3/PETR4) e Banco do Brasil (BBAS3) estarão na mira dos investidores nesta segunda-feira, 31. Lula já criticou o modelo de paridade de preços da petroleira, defendido por acionistas, e também sinalizou que o BB poderia ser usado para ofertar crédito a taxas inferiores às do mercado – decisões que podem prejudicar a rentabilidade das companhias.
No entanto, o rumo das empresas e de seus papéis depende de maiores sinalizações econômicas. Analistas defendem que é preciso aguardar o nome do novo presidente da Petrobras e também entender em que medida o discurso eleitoral de Lula irá se traduzir em mudança efetiva.
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2. Ações “kit Lula”
As ações de educação, por outro lado, devem reagir bem. Durante a campanha, Lula declarou que irá fortalecer os programas Programa Universidade para Todos (Prouni) e Fies Fundo de Financiamento Estudantil (Fies), o que pode beneficiar empresas de educação Yduqs (YDUQ3) e Cogna (COGN3) , focadas no ensino superior.
O setor de construção voltado para baixa renda também deve subir com a vitória de Lula, de olho no histórico do petista a programas sociais de habitação, como o Casa Verde Amarela (antigo Minha Casa, Minha Vida).
"Construtoras focadas na baixa renda, como MRV (MRVE3) , Direcional (DIRR3) e Tenda (TEND3) podem subir bem por conta da afirmação recente de Lula de que irá turbinar o programa habitacional do governo com mais recursos e taxas de juros menores", argumenta Flávio Conde, analista da Levante Investimentos.
Gustavo Cruz, analista da RB Investimentos, reforça a avaliação.“No curto prazo, as estatais devem ter desempenho mais negativo, enquanto educação e construção devem ter reação mais forte. Mas o mercado ainda vai aguardar como o novo governo irá conduzir a economia”, avalia.
3. Perspectivas econômicas
Para além da volatilidade nas ações, o foco principal do mercado é entender como será a condução econômica do novo governo. As próximas semanas devem ser de expectativa para anúncio da nova equipe econômica e de quais devem ser as medidas no campo fiscal. A preocupação é que um novo governo de esquerda aumente os gastos sociais para além do que as contas públicas poderiam suportar.
“O lado fiscal é a grande preocupação. Um novo modelo de ancoragem fiscal deve ser estudado pelo novo governo, já que aumentar os gastos de forma demasiada ameaça a sustentabilidade da dívida, joga pressão sobre a taxa de juros longa e pode levar à saída de dólares do Brasil”, afirma Marcelo Boragini, sócio e especialista em renda variável da Davos Investimentos.
4. Transição pacífica
Existe, no entanto, uma dúvida anterior a tudo isso: a possibilidade de tumulto social caso o presidente Jair Bolsonaro e seus apoiadores não aceitem o resultado das urnas. A vitória de Lula ocorreu com margem apertada. O petista ficou com 50,9% dos votos, contra 49,1% do atual presidente. O resultado gera apreensão entre os analistas de que o candidato derrotado conteste o pleito.
“A transição tem que ser pacífica. Se o atual presidente não aceitar o resultado, isso pode trazer instabilidade política, o que mudaria a visão positiva que o Brasil tem entre o investidor estrangeiro”, defende Felipe Izac, sócio da assessoria de investimentos Nexgen Capital.
5. Recuperação das bolsas?
Passadas as incertezas do curto prazo, a expectativa dos analistas é que a bolsa encontre espaço para uma tendência positiva. “O Brasil é atualmente um país muito bem colocado no cenário externo, principalmente em comparação com outros emergentes. Ao ser bem visto pelo investidor estrangeiro, vemos espaço para a bolsa se fortalecer no médio prazo”, completa Izac.
Cruz, da RB, também vê um cenário positivo à frente. “O mercado pode ter uma reação um pouco mais negativa no começo, mas isso pode mudar se o novo governo for capaz de construir uma narrativa positiva, deixando claro o que será feito”, diz.