Liberação de fuzis no Brasil é insignificante para a Taurus, diz analista
As ações da Taurus dispararam após a companhia revelar que há uma fila de 2 mil clientes à espera de um fuzil. Peso na receita seria de no máximo 4%
Da Redação
Publicado em 22 de maio de 2019 às 05h51.
Última atualização em 22 de maio de 2019 às 08h08.
Depois da alta de 7% no pregão de ontem, a fabricante de armas Taurus viverá uma nova ressaca na bolsa? Se os investidores forem às contas, sim, segundo EXAME apurou.
As ações da Taurus dispararam após a companhia revelar que há uma fila de 2 mil clientes à espera do fuzil semiautomático T4 de calibre 5,56, na seara de uma série de medidas que facilitam a posse de armas no país anunciadas pelo presidente Jair Bolsonaro. Mas a venda de fuzis para cidadãos comuns no Brasil representaria uma fatia insignificante dos negócios da companhia.
O analista da Nord Research Ricardo Schwitzer calcula que a possível venda de cerca de 2 mil fuzis T4, no modelo permitido para a população civil, representaria algo entre 2% e 4% do faturamento de R$ 800 milhões da Taurus.
Ele levou em conta o preço de R$ 8 mil do armamento anunciado em uma licitação pública. O valor de venda para os civis, acredita, poderia ser maior, mas nada muito relevante. “Não mudaria nada para a empresa, apenas gera barulho”, considera Schwitzer.
“Caso haja alguma mudança no decreto, seja por via judiciária ou por outro poder, a reação do mercado pode ser proporcionalmente inversa a essa euforia positiva”, diz.
Volatilidade a mil
A Taurus, que detém o monopólio da fabricação de armas no país, informou em entrevista à TV Globo na segunda-feira que aguarda a regulamentação do decreto 9.785/2019, editado pelo presidente Jair Bolsonaro, para atender à demanda de potenciais compradores civis.
As ações da Taurus na B3 têm disparado diante da expectativa de que o decreto de armas ampliará a atuação da empresa em um mercado ainda inexplorado. Investidores apostam que a medida do governo ajudará a reverter sua saúde financeira, hoje comprometida por dívidas e prejuízos do passado.
O movimento de alta se repete cada vez que surgem rumores sobre a abertura do mercado de armas no Brasil – hoje mais restrito a agentes do poder público, empresas de segurança, praticantes de tiro e caçadores.
Em relatório de janeiro, o analista da Suno Research, Tiago Reis, apontou que a alta dos papéis nos últimos meses sinalizavam para “um sério fluxo especulativo” que, segundo ele, poderia “acarretar em perdas patrimoniais bastante agudas para investidores desinformados e que se aventuram em especulações em busca de ganhos insustentáveis no curto prazo”.
Nas mãos do STF
Por outro lado, ações contra o decreto na Justiça têm levado os papéis da Taurus a perdas da mesma magnitude, colocando suas ações entre as mais voláteis para small caps brasileiras (empresas de menor porte com ações negociadas na Bolsa).
Dois partidos políticos, a Rede e o Psol, ingressaram com ações no Supremo Tribunal Federal (STF) questionando a constitucionalidade do decreto que facilitou o acesso às armas. O Ministério Público Federal também pediu a suspensão da medida na 17ª Vara da Justiça Federal.
Com isso, a ministra Rosa Weber deu um prazo, até esta quarta-feira (22), para que o presidente Jair Bolsonaro e o ministro da Justiça, Sergio Moro, deem explicações sobre o decreto. O desfecho dessa história pode determinar o rumo da Taurus no mercado financeiro.
Há novas reviravoltas a caminho. O porta-voz da Presidência da República, Otávio Rêgo Barros, informou ontem que o governo poderá alterar a permissão para que civis com porte de armas possam adquirir fuzis. A Advocacia-Geral da União (AGU) também informou hoje que vai pedir ao Supremo Tribunal Federal (STF) a prorrogação do prazo para a Presidência da República se manifestar.
Mercado inexplorado
Para Schwitzer, não há dados suficientes para mensurar o potencial do mercado de armas para civis no Brasil.
Segundo o analista, o fato de a Taurus possuir cerca de 90% de sua produção destinada à exportação (especialmente aos Estados Unidos, o maior mercado consumidor de armas), reduz o efeito positivo de uma possível abertura do mercado de armamentos no Brasil.
“Mesmo que haja um aumento significativo com mudanças em relação à posse de armas, o principal vetor para a empresa continuará sendo as exportações”, diz. Outro fator que favorece a companhia é o dólar valorizado, hoje na casa dos R$ 4.
A perda da exclusividade do mercado nacional, acredita Schwitzer, também não seria determinante para os negócios da Taurus. “Todas as empresas com as quais ela poderia competir no Brasil já são suas concorrentes no mercado externo e mesmo assim a Taurus está extremamente bem posicionada”, diz.