Ibovespa interrompe sequência de altas com queda da Petrobras
Petroleira recuou com petróleo após novo lockdown na China; Bolsonaro decidiu demitir presidente da companhia
Beatriz Quesada
Publicado em 28 de março de 2022 às 17h31.
Última atualização em 28 de março de 2022 às 17h44.
Ibovespa hoje: a bolsa brasileira encerrou esta segunda-feira, 28, em queda de 0,29%, aos 118.737 pontos. Com o resultado, o principal índice da B3 encerrou sua maior sequência positiva desde junho do ano passado – o Ibovespa caiu pela primeira vez após oito pregões seguidos de alta.
O dia foi de correção nas bolsas e também no mercado de câmbio. O dólar também subiu pela primeira vez após oito sessões consecutivas de baixa, e fechou o dia em alta de 0,53%, a R$ 4,773. Apesar da alta, a moeda se afastou das máximas, que chegaram a marcar a volta para o patamar dos R$ 4,80.
Além da alguma realização de lucros, o mercado também foi impactado pela queda de 9% nas cotações do petróleo. O petróleo Brent, que terminou a última semana cotado próximo de US$ 120 por barril, fechou o dia negociado na casa dos US$ 109, com temores sobre os efeitos de novas restrições para conter o coronavírus na China, após Xangai entrar em lockdown.
A desvalorização da commodity, porém, cobrou custo adicional ao mercado brasileiro, com ações do setor registrando queda. A Petrobras (PETR3, PETR4), com o segundo maior peso do Ibovespa, caiu mais de 2%.
- Petrobras (PETR3): - 2,63%
- Petrobras (PETR4): - 2,17%
As ações da estatal também reagiram a uma possível interferência do presidente Jair Bolsonaro na companhia. Perto do final do pregão, os veículos Veja e O Globo, noticiaram que Bolsonaro decidiu tirar o general Joaquim Luna do comando da companhia. Segundo a reportagem, o anúncio será feito nas próximas horas. O motivo da decisão seria a pressão que o governo sofre por conta do aumento dos combustíveis, que está em 33% nos últimos 12 meses.
“Embora a decisão seja igual à tomada um ano atrás, quando o Executivo decidiu não reconduzir Castello Branco e indicar o General Silva e Luna à presidência da Petrobras, os desdobramentos do fato para as ações se deram de forma bem mais contida hoje. Isto acontece pela hora pela qual a notícia foi divulgada e pelo mercado já trabalhar a semanas com a possibilidade da mudança ser executada”, afirmou, em nota, o analista da corretora Ativa Investimentos Ilan Arbetman.
Destaques de ações
Ações ligadas à economia interna também estiveram entre as maiores quedas, com investidores esperando inflação mais alta para este e o próximo ano. Em boletim Focus desta segunda, o consenso de economistas para o IPCA subiu de 6,59% para 6,86% para 2022. Para 2023, a expectativa subiu de 3,75% para 3,80%.
- Locaweb (LWSA3): - 4,57%
- Copel (CPLE6): - 3,31%
- Banco Pan (BPAN4): - 3,30%
- EZTec (EZTC3): - 2,85%
"O Focus desta semana veio com piora generalizada nas expectativas de inflação e coloca em cheque uma leitura mais dovish [expansionista] da condução da política monetária no Brasil", disse, em nota, André Perfeito, economista-chefe da Necton.
Do lado oposto, exportadoras que estiveram entre as maiores perdas da última sessão, são destaques de alta, com a recuperação da moeda americana.
- Marfrig (MRFG3): + 4,02%
- Minerva (BEEF3): + 3,66%
- Ambev (ABEV3): + 2,93%
Alta em Wall Street
Mais cedo o tom negativo nos mercados foi amplificado pela maior fraqueza de Wall Street, com investidores ainda atentos aos efeitos da inflação e aos próximos passos do Federal Reserve (Fed, banco central americano). Ao longo da tarde, no entanto, as preocupações se dissiparam e os índices passaram a mostrar recuperação nos EUA.
- S&P 500 (EUA): + 0,71%
- Dow Jones (EUA): + 0,27%
- Nasdaq (EUA): + 1,31%
Embora sofra mais com as perspectivas de alta de juros, o índice de tecnologia Nasdaq registrou o melhor desempenho nesta segunda. O possível desdobramento de ações Tesla, que subiram 8,41%, está como pano de fundo da alta. A empresa de Elon Musk anunciou nesta segunda que pretende levar a proposta de desdobramento para votação.
O tom também foi ligeiramente positivo na Europa, onde a queda de mais de 9% do petróleo ajuda a reduzir as preocupações sobre o nível da inflação no continente mais afetado pela guerra entre Rússia e Ucrânia.