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Ibovespa desaba 3,3% e dólar encosta nos R$ 5,6 com ameaça a teto

Investidores temem que gastos com Auxílio Brasil comprometam principal âncora fiscal do país

Painel de cotações da B3 | Foto: Germano Lüders/EXAME (Germano Lüders/Exame)

Painel de cotações da B3 | Foto: Germano Lüders/EXAME (Germano Lüders/Exame)

BQ

Beatriz Quesada

Publicado em 19 de outubro de 2021 às 17h31.

Última atualização em 19 de outubro de 2021 às 18h20.

O cenário fiscal voltou a derrubar o Ibovespa nesta terça-feira, 19. O principal índice da B3 afundou 3,28% e fechou a sessão aos 110.672 pontos em meio a preocupações de que parte do pagamento do Auxílio Brasil programa de transferência de renda que irá substituir o Bolsa Família fique fora do teto de gastos.

Além dos preços das ações, os temores fiscais afetaram o câmbio. O dólar comercial disparou 1,33% e encerrou a sessão a 5,594 reais. Na máxima do dia, a moeda chegou a ser negociada acima da marca de 5,61 reais. A performance do real foi a pior entre as principais divisas emergentes do mundo, que ganharam valor perante o dólar, se recuperando das perdas da véspera.

As preocupações sobre o teto de gastos também afetou o mercado de juros futuros. Nesta terça-feira, o DI com vencimento em janeiro de 2023 subiu 34 pontos-base, para 9,78%, enquanto o com vencimento em 2025 avançou 37 pontos-base, a 10,73%. 

"A curva de juros é o termômetro de risco. Toda vez que o Brasil vai no caminho de perder a credibilidade fiscal, o mercado vai pedir mais juros para emprestar dinheiro ao país. Então ativos de risco, como ações, vão sofrer", disse Jerson Zanlorenzi, head da mesa de renda variável do BTG Pactual digital, no morning call de hoje.

O Auxílio Brasil foi o principal causador da turbulência no mercado nesta terça-feira. O governo de Jair Bolsonaro iria anunciar a criação do programa às 17h e, segundo o jornal O Estado de S.Paulo, o pagamento médio do auxílio seria de 400 reais sendo que cerca de um quarto deste valor deve ficar de fora do teto de gastos. 

O valor extrateto é estimado em 30 bilhões de reais. 

Para somar aos temores, o presidente da Câmara, Arthur Lira, se mostrou favorável aos gastos sociais em detrimento da disciplina fiscal em suas últimas declarações.

Ricardo Gomes da Silva, economista da Correparti, o cenário é "propício ao aprofundamento dos riscos fiscais, com impactos diretos sobre o dólar e, consequentemente, sobre a inflação".

Após a repercussão, o Ministério da Cidadania cancelou o evento de lançamento do Auxílio Brasil, sem especificar uma nova data para anúncio do programa. A sessão de votação da PEC dos Precatórios, que aconteceria nesta terça-feira, 19, também foi cancelada, e terminou adiada para quarta-feira, 20, às 14h.

Destaques da bolsa

O dia foi positivo para o mercado de commodities, mas o Ibovespa não conseguiu acompanhar.

As ações da Petrobras (PETR3/PETR4) com o segundo maior peso do índice, caíram mais de 4,37% e 4,89%, respectivamente, na contramão da alta do petróleo no exterior. No radar, estão preocupações sobre uma guinada populista do governo. 

"Num ambiente de ruídos como o atual até boatos ganham força e muitos especulam que uma eventual greve dos caminhoneiros pode forçar o presidente a intervir mais uma vez no preço dos derivados de petróleo. Este conjunto de pequenos problemas jogam areia na leitura geral da economia", afirma em nota André Perfeito, economista-chefe da Necton.

Ainda entre os papéis com maior participação no Ibovespa, as ações da Vale (VALE3) caíram 1,15%, sem acompanhar a alta do minério de ferro na China, após o BHP apresentar queda de produção. Nesta noite, será a vez da mineradora brasileira apresentar seu relatório de produção do terceiro trimestre.

Outra empresa com participação relevante no índice, a B3 (B3SA3), caiu 3,1%, após anunciar a compra da Neoway por 1,8 bilhão de reais, focada em análise de grandes bases de dados. Apesar da queda, o negócio foi bem visto por analistas. Para analistas do Credit Suisse, a operação foi “um movimento corajoso na direção da inovação e da diversificação”.

Com a alta dos juros futuros, o mercado também penalizou com múltiplos mais elevados, como costumam ser as do setor de tecnologia, e ligadas à economia local. Entre as maiores perdas do Ibovespa estão Azul (AZUL4), Cielo (CIEL3) e Méliuz (CASH3) que tiveram respectivas baixas de 10,36%, 9,2% e 8,47%.

Os papéis da Getnet (GETT11) foram os únicos a fechar o dia em terreno positivo, avançando 17,88%, após terem estreado em alta de mais de 60% na véspera. Fora do Ibovespa, as ações ordinárias (GETT3) e preferenciais (GETT4) sobem em torno de 30%.

Um dos pontos para a forte alta dos papéis pode ser a própria cisão com o Santander. “É bastante normal flutuações bruscas nos preços dos spin offs, visto que o preço de referência foi calculado por métricas contábeis, e não de mercado. Vimos isso no spin off do Assaí, e agora estamos vendo novamente na Getnet”, afirma Phil Soares, chefe de análise de ações na Órama.

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