Ibovespa fecha abaixo de 95 mil após decepção com discurso de Powell
Presidente do Federal Reserve afirma que mercado de trabalho pode ter atingido o fundo do poço, mas alerta para que não haja reações excessivas
Guilherme Guilherme
Publicado em 10 de junho de 2020 às 17h00.
Última atualização em 10 de junho de 2020 às 18h04.
A bolsa brasileira fechou em queda, nesta quarta-feira, 10, após o presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, ter decepcionado as expectativas dos investidores, que esperavam um discurso mais otimista. Com isso, o Ibovespa, principal índice de ações, caiu 2,13% e encerrou em 94.685,98 pontos.
Em seu pronunciamento, feito após a divulgação da permanência da taxa básica de juros americana entre 0% e 0,25%, Powell disse que o mercado de trabalho pode ter atingido o fundo do poço, mas alertou para que não haja reações excessivas em cima de um único dado. Na semana passada, o mercado entrou em euforia, após o payroll ter mostrado crescimento do mercado de trabalho, quando todas as projeções apontavam para o aumento do desemprego.
Para Bruno Lima, analista de renda variável da Exame Research, as declarações de Powell frearam parte do otimismo com as recuperações econômicas. "O mercado pode ter visto que o S&P 500 andou de mais", disse.
"O tom de incerteza foi mais importante que o comunicado. Não teve grandes surpresas", afirmou Alvaro Frasson, economista do BTG Pactual Digital. Segundo ele, o mercado esperava um discurso mais otimista. "Mesmo com o clima melhor [ no mercado financeiro ], ainda estamos juntando o cacos para ver o que vai sobrar da economia mundial", comentou.
Pouco antes do pronunciamento de Powell, as bolsas mundiais, inclusive a brasileira, chegaram a ensaiar um movimento de recuperação, com a divulgação das projeções sobre a economia americana, que, segundo o Fed, deve ter contração de 6,5% em 2020 e terminar o ano com 9,3% de desempregados - ou seja, abaixo dos 13,3% atuais. O Fed também informou que irá aumentar as compras de títulos e manter a taxa de juros próxima de zero até 2022.
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"O Powell decepcionou os mais eufóricos, mas teve coisas positivas. Se fosse na semana passada, quando havia todo aquele otimismo, a reação teria sido outra", disse Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos. Para ele, a maior probabilidade de os EUA manterem os juros baixos por, pelo menos, mais dois anos abre espaço para novos cortes de juros no Brasil, o que poderia ter efeitos positivos nas ações.
Por aqui, os investidores estiveram ainda mais cautelosos, tendo em vista que não haverá pregão na quinta-feira, 11, em razão do feriado de Corpus Christ. "Amanhã tem dado importante sobre os pedidos de auxílio desemprego nos Estados Unidos. Então muita gente não quer ficar exposto", disse Gustavo Bertotti, economista da Messem Investimentos.
Também pesou no lado negativo o relatório da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que previu recessão global de 6% para este ano. As previsões para o Brasil foram ainda piores. De acordo com a organização, o PIB brasileiro deve encolher 7,4%, em 2020. Em caso de uma segunda onda, a economia mundial deve ter retração de 7,6% e a brasileira, de 9,1%.
Por outro lado, mercado brasileiro também repercutiu positivamente o Índice de Preço ao Consumidor Amplo (IPCA) de maio, que veio levemente acima das expectativas. Na comparação anual, a inflação foi de 1,88% ante a expectativa de 1,8%. Já em relação ao mês de abril, houve deflação de 0,38%, enquanto o mercado esperava deflação de 0,46%.
"O mercado comemora dois fatores: a inflação mostra que há alguma atividade econômica e que ainda há espaço para cortar juros", comentou Jefferson Laatus, estrategista-chefe do Grupo Laatus. Pela manhã, pouco após a divulgação do IPCA, o Ibovespa abriu em alta.
Destaques
Na bolsa, as ações de companhias aéreas GOL e Azul estiveram entre as maiores perdas da sessão, com respectivas quedas de 9,6% e 8,8%. Durante o rali que durou até segunda-feira, os papéis dessas duas companhias chegaram a dobrar de valor. As ações da Embraer, que, assim com as aéreas, apresentaram forte valorizações em meio ao otimismo da semana passada, recuaram 9,5%.
Na outra ponta, as varejistas Magazine Luiza e B2W lideraram altas do pregão, subindo 5,5%, e 3,5%, respectivamente.