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Ibovespa cai 2% com aposta de Selic mais alta após surpresa com inflação

Prévia do IPCA de outubro supera expectativas e reforça expectativa de postura mais dura na política de juros do Banco Central

Painel de cotações da B3 | Foto: Germano Lüders/Exame (Germano Lüders/Exame)

Painel de cotações da B3 | Foto: Germano Lüders/Exame (Germano Lüders/Exame)

BQ

Beatriz Quesada

Publicado em 26 de outubro de 2021 às 17h28.

Após passar todo o pregão em terreno negativo, o Ibovespa aprofundou as perdas nos últimos minutos de negociação e encerrou esta terça-feira, 26, em queda de 2,11%, aos 106.419 pontos. 

O principal índice da B3 reagiu aos temores sobre a inflação local após a prévia do Índice de Preço ao Consumidor Amplo (IPCA-15) de outubro sair acima do esperado pelo mercado. O dólar comercial também reagiu negativamente à piora do cenário econômico local e subiu 0,32%, a 5,573 reais.

O movimento foi na contramão das principais bolsas internacionais, que fecharam o dia em leves altas, embaladas por resultados corporativos do terceiro trimestre, com os índices americanos Dow Jones e Nasdaq atingindo novas máximas históricas. 

As preocupações começaram logo no início da manhã com a divulgação do IPCA-15 de outubro. A prévia da inflação do país bateu 1,20%, acima da alta esperada de 0,97%, elevando o IPCA de 12 meses de 10,05% para 10,34%. Com o resultado mais forte do que a projetada por economistas, investidores reforçam suas apostas para uma Selic mais forte até o fim do ano. 

O dado foi o último de inflação ao consumidor antes da decisão do Comitê de Política Monetária (Copom), que inicia sua reunião nesta terça. A expectativa é de que o Banco Central eleve o ritmo da alta de juros de 1 ponto percentual (p.p.) por ajuste, como sinalizado em sua última ata, para 1,25 p.p. até 1,5 p.p..

"O IPCA -15 apresentou alta mais forte que o esperado. A conjunção de inflação persistente com alteração do regime fiscal (fim do teto dos gastos) irá forçar o Copom a subir a Selic mais fortemente", afirma André Perfeito, economista-chefe da Necton em nota. "Nossa projeção é que a taxa básica suba 1,25 p.p. na reunião desta semana, contudo não acharíamos estranho alta mais forte na Selic, em 1,5 p.p.".

A curva de juros futuro, no entanto, chegou a precificar uma alta de até 2 p.p. no ponto mais crítico do dia. “A curva de juros brasileira virou um abismo e nunca na minha carreira vi um formato tão ‘agudo’ da curva de juros doméstica”, defende Perfeito. Para além da inflação, os juros respondem também à decisão do governo em reformular o teto de gastos, agravando a situação fiscal do Brasil.

Destaques de ações

As expectativas de juros e inflação mais fortes penalizaram, principalmente, as ações de aviação e varejo e ligadas à economia local. Na ponta negativa, os papéis da Azul (AZUL4) caíram 8,38%, enquanto CVC (CVCB3) recuou 6,83%. 

Já as Americanas (AMER3) despencaram 5,57%, enquanto os papéis da Via (VIIA3) recuaram 6,07%, e os da Soma (SOMA3), 6,47%. Também na lista das maiores quedas, as empresas de maquininhas Cielo (CIEL3) e Getnet (GETT11) registraram quedas de 6,88% e 7,79%, respectivamente.

O setor de construção civil foi outro a apresentar duras perdas nesta sessão, prejudicado pela alta de juros. EzTec (EZTC3) caiu 7,64% e Cyrela (CYRE3), 5,07%. A MRV (MRVE3), que tem aumentado sua diversificação regional, ampliando sua frente de vendas nos Estados Unidos, caiu 4,41%.

Entre as ações com maior participação no índice, as dos grandes bancos pressionaram o movimento de queda, recuando mais de 1%. Destaque ficou com Bradesco (BBDC4), que recuou 2,26%. No setor financeiro, os papéis da B3 (B3SA3) lideraram as perdas, caindo 5,74%.

No setor de commodities, a Vale (VALE3) recuou 1,05%, e os papéis da Petrobras (PETR3/PETR4) fecharam em queda de 1,15% e 0,96%, respectivamente, após liderarem as altas da última sessão, com valorização de 7%. Na véspera, o ministro Paulo Guedes chegou a defender a desestatização da companhia. A Petrobras indagou o governo sobre os estudos que dizem respeito à privatização.

Investidores também reagiram aos balanços corporativos. Na ponta positiva do Ibovespa, as ações da EDP (ENBR3) subiram 2,24%, após a empresa ter apresentado lucro de 511 milhões no terceiro trimestre, 20,7% acima do registrado no mesmo período do ano passado.

Já as ações da Ecorodovias (ECOR3) fecharam o dia em queda de 2,64%, após a divulgação do balanço trimestral. Na última sessão, os papéis da concessionária subiram mais de 5%, com investidores se antecipando à divulgação do resultado, que saiu na noite de ontem.

A Klabin (KLBN11), que reportou lucro de 1,2 bilhão de reais nesta manhã, recuou 1,36%, enquanto as ações da Tim (TIMS3) caíram 3,26%, após seus números do último trimestre terem frustrado as estimativas de mercado.

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