Ibovespa volta aos 119 mil pontos com estímulo nos EUA, Brexit e vacinação na UE
Aprovação de Trump para pacote de resgate para a economia americana impulsiona mercados; dólar sobe com incertezas no cenário interno
Beatriz Quesada
Publicado em 28 de dezembro de 2020 às 09h24.
Última atualização em 28 de dezembro de 2020 às 18h39.
As bolsas brasileira, americanas e europeias subiram em bloco nesta segunda-feira, 28, com o sinal verde dado pelo presidente Donald Trump para o pacote de estímulos nos EUA após dias de indefinição. A aprovação de um esperado acordo pró-Brexit e o início da vacinação na União Europeia também contribuíram para o otimismo nos mercados, que podem renovar as máximas nos últimos pregões do ano. Acompanhe a cobertura abaixo.
O Ibovespa fechou em alta de 1,12%, aos 119.123 pontos. O principal índice da bolsa brasileira está próximo de quebrar o recorde nominal registrado em janeiro, quando alcançou os 119.527 pontos. O resultado também é positivo no acumulado do ano: o Ibovespa conseguiu reverter as perdas e tem alta de 3,01% em 2020.
A perspectiva altista para as bolsas de todo o mundo refletem o otimismo que marca a última semana do ano nos mercados internacionais depois que novas medidas de alívio econômico foram aprovadas nos Estados Unidos.
O presidente Donald Trump assinou na noite de domingo, 27, o projeto de lei que prevê 892 bilhões de dólares em estímulos para a economia americana e que destina 1,4 trilhão de dólares para a continuidade do funcionamento de agências federais. Sem que isso ocorresse, havia o risco de um shutdown — uma espécie de apagão operacional — a partir desta segunda-feira, 28, em diversas agências federais. Com a notícia, os três principais índices americanos operam em alta.
"Dado o peso dos Estados Unidos para a economia global, a notícia aumenta as perspectivas de uma retomada da atividade econômica no mundo após um ano de perdas causadas pela pandemia", afirma Victor Aguiar, especialista em ações da EXAME Research.
A Covid-19 continua a preocupar, em especial após as recentes descobertas de novos focos de mutação do coronavírus na Europa. Ainda assim, os mercados seguem otimistas com o início da vacinação nos países da União Europeia -- este domingo, países do bloco como Itália e Espanha começaram a vacinar sua população.
Por lá, os mercados também repercutem o acordo comercial entre Reino Unido e UE pós-Brexit, alcançado na véspera de Natal após o fechamento dos mercados. “O acordo é superficial, mas, de qualquer forma, é um fator de risco que acaba saindo do radar e contribui para um clima mais otimista nos mercados como um todo”, completa Aguiar.
“São dois riscos principais que saem do radar dos investidores: a falta de um acordo para o Brexit e o receio de que Trump não aprovasse o pacote de estímulos nos Estados Unidos. O Brasil, por outro lado, está atrasado no plano de vacinação e gastou muito para conter a pandemia. O preço vai se cobrar no aspecto fiscal”, avalia Gustavo Bertotti, economista-chefe da Messem Investimentos.
Para Bertotti, os efeitos são sentidos no câmbio. O dólar abriu em baixa contra o real em linha com a queda da moeda americana em todo o mundo, mas zerou os ganhos ao longo da manhã. O dólar avançou 1,12%, a 5,2382 reais.
“Muitas vezes o mercado está positivo e mesmo assim o dólar não perde força. Isso é resultado das incertezas para o nosso cenário doméstico, tanto é que a projeção para a moeda americana no próximo ano continua em 5 reais mesmo com a tendência de crescimento do PIB”, diz o economista.
O comentário se refere ao último boletim Focus de 2020, divulgado esta manhã pelo Banco Central. O documento contém as projeções de analistas de mercado para os principais indicadores da economia, como desempenho do PIB, taxa de câmbio e a taxa Selic.
As medianas do mercado apontaram uma contração de 4,40% do PIB este ano, com crescimento de 3,49% em 2021. Já a previsão do dólar sofreu um ajuste leve para o final deste ano: passou de 5,15 reais para 5,14 reais. Para 2021, a projeção do mercado foi mantida em 5 reais.
Houve também reajuste na expectativa da Selic para 2021 de 3% para 3,13%. E, segundo análise da Exame Research, há espaço para que as projeções continuem subindo.