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Ibovespa afunda 4% e dólar dispara 1,7% com decisão de Fachin sobre Lula

Índice fecha perto da mínima do dia e dólar vai a 5,77 reais; com a piora do mercado, só duas ações sobem

(Germano Lüders/Exame)
BQ

Beatriz Quesada

Publicado em 8 de março de 2021 às 09h23.

Última atualização em 8 de março de 2021 às 18h18.

Quadro geral do dia:

O Ibovespa afundou nesta segunda-feira, 8, enquanto o dólar disparou após notícia de que o ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), anulou as condenações do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na Lava Jato, que, com isso, se torna elegível. O índice fechou a sessão com queda de 3,98%, em 110.611 pontos, depois de cair 4,3% na mínima do dia, indo para os 110.267 pontos, ao passo que o dólar comercial saltou 1,67%, fechando em 5,77 reais, perto da máxima do dia (em 5,78 reais).

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"A Bolsa perdeu praticamente 3.000 pontos em alguns minutos (das 15h30 às 15h55) com a notícia pelo fator incerteza", disse o analista Henrique Esteter, da Guide Investimentos.

"Ao que tudo indica agora, a oposição ficará mais forte e o mercado teme principalmente quanto o atual governo terá que abrir mão de medidas liberais e partir para atos mais populistas para tentar uma reeleição. Esse cenário aumenta as preocupações com as questões fiscais e naturalmente vemos a curva de juros abrindo, o dólar estressando ainda mais e, consequentemente, a Bolsa para baixo", comentou.

O estrategista Gustavo Cruz, da RB Investimentos, apontou que a possibilidade do Lula se candidatar aumenta a polarização política, que, aos olhos do mercado, é o pior cenário. Olhando para os setores na Bolsa, ele disse que as estatais tendem a sofrer mais nessa situação.

Ontem, um levantamento feito pelo Ipec (Inteligência em Pesquisa e Consultoria) mostrou Lula com maior capital político que o presidente Jair Bolsonaro para a eleição de 2022.

Dos entrevistados na pesquisa, 50% disseram que votariam com certeza ou poderiam votar em Lula se ele se candidatasse novamente à presidência, enquanto 44% afirmaram que não o escolheriam de jeito nenhum. Bolsonaro apareceu com 38% dos potenciais votos, e 56% de rejeição.

"Com isso, fica menor o espaço para alguém ser competitivo com uma postura mais 'centro', mais moderada. Lula tem seus 20% que não o abandonam por nada, Bolsonaro tem em torno de 20% também. Isso historicamente leva os dois para um eventual segundo turno", comentou Cruz.

Mais cedo, o mercado repercutia as preocupações com o avanço da pandemia no Brasil.No domingo, o Brasil registrou o nono dia seguido de altas na média móvel de mortes; foram 10 mil vidas perdidas apenas na última semana.

Para responder ao agravamento da crise, o ministro da Economia Paulo Guedes afirmou no início da tarde que o governo fechou acordo com a Pfizer para a entrega de 14 milhões de doses de vacina contra Covid-19 ao Brasil até junho, com antecipação de 5 milhões de doses nesse período.

Guedes participou de reunião do presidente Jair Bolsonaro e ministros com a cúpula mundial do laboratório no Palácio do Planalto, na qual – pelas palavras de Guedes – houve um acerto para que a Pfizer aumentasse a oferta de imunizantes para o Brasil. A assinatura do contrato, entretanto, ainda não foi formalizada.

Vale lembrar que em agosto de 2020, a Pfizer procurou o governo brasileiro com uma oferta de 70 milhões de doses. A oferta não foi respondida.

O quadro de colapso sanitário ofusca a expectativa com a aprovação da PEC Emergencial na Câmara dos Deputados na quarta-feira. Na última semana, a proposta de emenda à Constituição foi aprovada pelo Senado permitindo um gasto de até 44 bilhões de reais com o auxílio emergencial sem que isso ultrapasse o volume de despesas do Teto dos Gastos.

A aprovação foi bem recebida pelo mercado porque define um limite para as despesas com o programa e cria os gatilhos para evitar um descontrole das despesas. A recepção foi tão otimista que o Ibovespa fechou o último pregão aos 115.202,23 pontos, com uma forte valorização de 4,7% na semana.

No entanto, o mecanismo que segura os gastos do governo ainda pode enfrentar resistência na Câmara devido à nova explosão de Covid-19 no Brasil.

Wall Street tem pregão misto apesar de temor com inflação

Nos Estados Unidos, o Dow Jones fechou em alta de 0,97%, depois da aprovação do pacote fiscal de 1,9 trilhão de dólares do presidente Joe Biden contra a Covid-19 no Senado americano, enquanto a continuidade do sell-off nas ações de tecnologia pressionou o S&P 500, que caiu 0,54%. O Nasdaq recuou 2,41%.

Mais cedo, o mercado repercutia a preocupação de que os estímulos causassem inflação. "O aumento das expectativas de alta da inflação do país pode deslocar capital dos ativos de risco, -- como o mercado de ações -- para ativos de maior segurança, como é o caso dos títulos públicos dos EUA", afirma Paloma Brum, economista da Toro Investimentos.

Os temores foram observados principalmente na alta dos juros dos títulos do Tesouro americano com vencimento em dez anos, que voltaram a subir nesta segunda-feira para a casa de 1,6%. O movimento adiciona ainda mais pressão nas ações de crescimento (como as do setor de tecnologia), que estavam entre os melhores desempenhos do ano passado, por serem particularmente mais sensíveis a altas nas taxas de juros, uma vez que isso reduz o valor dos fluxos de caixa futuros dessas companhias.

A secretária do Tesouro dos Estados Unidos, Janet Yellen, também afirmou nesta tarde que o pacote aprovado fornecerá recursos suficientes para alimentar uma recuperação econômica "muito forte" no país. Yellen reforçou ainda que o Tesouro tem ferramentas para lidar com uma possível pressão inflacionária causada pelos estímulos.

O pacote de Biden reforça a perspectiva de uma recuperação mais rápida para a economia americana, se somando aos bons dados do payroll divulgados na última sexta-feira. O payroll registrou criação de 379.000 empregos em fevereiro, mais que o dobro das 182.000  novas vagas projetadas pelo mercado.

O saldo é positivo para o dólar. “A moeda americana se fortalece à medida que a economia dos EUA avança, então o dólar acaba ganhando força contra os pares, principalmente emergentes” disse Luis Mollo, analista da EXAME Invest Pro , na live diária Abertura de Mercado da sexta, 5.

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Destaques corporativos

Entre as maiores quedas percentuais do Ibovespa, apareceram as ações da Localiza (RENT3) e Locamerica (LCAM3), que recuaram 9,39% e 9,23%, respectivamente, após a concorrente Movida (MOVI3) ir ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) pedir que reprove a combinação de negócios das empresas.

Em pontos, as maiores contribuições negativas para o índice vieram da B3 (B3SA3), Petrobras (PETR4) e Magazine Luiza (MGLU3). Esses papéis recuaram 6,6%, 5,7% e 8,1%, respectivamente.

Com a piora do mercado, só duas ações fecharam em alta: Marfrig (MRFG3), que avançou4,4% antes de balanço e com elevação de preço-alvo pelo Credit Suisse,e Eletrobras (ELET3), com leve valorização de 0,2%.

Seguindo a temporada de balanços do quarto trimestre, hoje divulgam seus números de Magazine Luiza (MGLU3), Marfrig (MRFG3), Petz (PETZ3) e Santos Brasil (STBP3) – os resultados saem após o fechamento.

O balanço mais esperado é o da varejista Magazine Luiza, cujas ações acumulam queda de 8,5% nos últimos quatro meses da estratégia de rotação de ações que passou a predominar entre investidores a partir de novembro, em que os papéis priorizados foram aqueles com mais expectativa de valorização na retomada da economia.

As projeções dos analistas para o Magalu apontam para mais um trimestre bastante positivo, com expansão de três dígitos das vendas online no quarto trimestre de 2020, na comparação anual.

As ações do Magalu acumulam queda de 8,5% nos últimos quatro meses, como reflexo não de resultados desapontadores mas da estratégia de rotação de ações que passou a predominar entre investidores a partir de novembro: é a busca de ações que possam se valorizar mais com a esperada retomada da economia, antes das novas restrições.

No último sábado, a Arco Educação (ARCE), empresa brasileira listada na Nasdaq, anunciou a aquisição dos sistemas de ensino COC e Dom Bosco, da britânica Pearson, por 920 milhões de reais -- valor que será pago em dinheiro. A aquisição também interessava à Cogna (COGN3), que viu sua concorrente consolidar a liderança do segmento.

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