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Gestora de US$ 200 bi quer ETFs mais flexíveis no Brasil: "não é só para seguir índice"

April Suydam revela em entrevista à Exame Invest que planeja trazer novos produtos para o Brasil, mas que restrições impedem maior sofisticação de estratégias

April Suydam, head da First Trust: "Gostaríamos, por exemplo, de trazer produtos de gestão ativa que temos em renda fixa e em alternativos. São ferramentas incríveis, mas que o programa de BDRs não permite"

April Suydam, head da First Trust: "Gostaríamos, por exemplo, de trazer produtos de gestão ativa que temos em renda fixa e em alternativos. São ferramentas incríveis, mas que o programa de BDRs não permite"

Guilherme Guilherme
Guilherme Guilherme

Repórter de Invest

Publicado em 28 de fevereiro de 2024 às 17h03.

Última atualização em 29 de fevereiro de 2024 às 10h03.

Os BDRs se tornaram a forma mais fácil do investidor brasileiro acessar ações listadas fora do país, como as da Apple e Nvidia, e ETFs. Desde a liberação dos BDRs para o público geral, em 2020, o número de investidores de BDRs cresceu significativamente. Hoje, cerca de 850.000 investidores possuem algum BDR na carteira. Desse total, no entanto, apenas 2% investem em BDRs de ETFs. Apesar da baixa demanda, a oferta de produtos tem crescido cada vez mais. São 240 BDRs de ETFs disponíveis, quase o triplo dos 85 ETFs listados diretamente na B3.

Uma das gestoras que acreditam no potencial desse mercado e decidiram importar seus ETFs para o Brasil é a americana First Trust, com US$ 200 bilhões sob gestão, sendo US$ 150 bilhões em ETFs. A gestora, que é representada no Brasil pela HMC Capital, tem 17 ETFs listados como BDRs e pretende aumentar essa quantidade. Mas restrições do mercado local impedem que a First Trust traga alguns de seus ETFs mais sofisticados, segundo April Suydam, head de distribuição na América Latina da First Trust

"Gostaríamos, por exemplo, de trazer produtos de gestão ativa que temos em renda fixa e em alternativos. São ferramentas incríveis, mas que o programa de BDRs não permite", afirma Suydam em entrevista à Exame Invest.

Diferentemente do mercado americano, não é permitida no Brasil a listagem de ETFs com alavancagem, posições vendidas e gestão ativa. Necessariamente, os ETFs precisam seguir um índice de referência, mesmo que sejam feitos sob medida para, a partir de critérios pré-estabelecidos, seguir determinado tema ou setor.

"ETF não é só seguir índice"

"Acho que a restrição é útil no início, mas acho que o programa de BDRs já pode ir além. Faz sentido começar com ETFs mais passivos, porque nem todos os investidores são capazes de usar opções, alavancagem ou ideias mais avançadas. Mas ao bloquear esses produtos, limita as alternativas de investidores mais sofisticados", diz Suydam.

Os ETFs que seguem os principais índices de referência, no entanto, são os mais populares no Brasil e no exterior. Não à toa, os três maiores ETFs do mundo (SPDR, IVV e VOO) seguem o S&P 500, principal índice de ações dos Estados Unidos.

"Então, quando pensam em ETFs, muitas pessoas pensam em 'fundos passivos' ou em fundos que seguem índices de referência, como o S&P 500 e o Russell 2000. Mas não é só isso", afirmou.

Os ETFs oferecem uma carteira diversificada a um custo relativamente baixo. Quanto mais escalável e simples, menor tendem a ser as taxas cobradas. Até pela concorrência entre os produtos que seguem os maiores índices do mercado, a First Trust tem se posicionado em outra ponta, na oferta de ETFs temáticos e de estratégias mais sofisticadas. 

Umas das estratégias da First Trust no Brasil é o BDR do ETF US Equity Opportunities. O ETF utiliza como referência o índice IPOX-100 US, que, segundo sua provedora, historicamente capturou 85% do valor de mercado total criado através de novas listagens nos Estados Unidos nos últimos quatro anos.

ETFs x fundos tradicionais

Nos Estados Unidos, inclusive, é permitida a listagem de ETFs de gestão ativa. Como um fundo tradicional, esses ETFs são desenhados para obter retornos superiores à média do mercado. Segundo Suydam, esse tipo de produto poderia reduzir os custos dos fundos no Brasil, além de oferecer uma maior transparência quanto aos investimentos feitos pelo fundo.

"Os fundos indexados tendem a ser mais baratos que ETFs temáticos, que são mais baratos do que os ETFs ativos. Ainda assim, esses ETFs são significativamente mais baratos do que os fundos tradicionais", afirma Suydam. A maior liquidez e possibilidade de o investidor vender suas cotas pela bolsa, reduzindo o período de resgate, são algumas das vantagens que esses ETFs ativos poderiam propiciar em relação aos fundos tradicionais, disse Suydam.

O patrimônio da indústria de ETFs listados no Brasil cresceu 20% desde 2020 para R$ 46 bilhões, ainda que tenha se mantido estável nos últimos três anos. O patrimônio dos fundos de ações, por outro lado, caiu 20% desde 2020, segundo dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima).

"Não estou dizendo que os fundos mútuos estão mortos, ainda há espaço para eles. Mas, globalmente, temos visto uma saída de dinheiro desses fundos para os ETFs e acredito que esse movimento também irá acontecer no Brasil. Estamos olhando o país como uma oportunidade de longo prazo", pontua Suydam.

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