Grande maioria dos emissores veio a mercado e alongou suas dívidas, garantindo um colchão de liquidez para passar por momento de volatilidade, diz Fitch (EXAME/Exame)
A proximidade de uma eleição polarizada em dois nomes, Lula e Bolsonaro, e as incertezas do período eleitoral não foram suficientes para diminuir a oferta de crédito às empresas no mercado brasileiro. Mas riscos maiores entram no horizonte em 2023, a depender das decisões do vencedor do pleito presidencial para o cenário fiscal do país e do agravamento do ambiente externo. “A capacidade do novo presidente de resolver estas questões será crucial”, diz o diretor-executivo de ratings corporativos na Fitch Ratings, Ricardo Carvalho, em entrevista à Exame Invest.
A oferta doméstica de crédito continua forte, diferente de períodos que antecederam eleições anteriores. Em 2021 e 2022, houve expansão importante do crédito local em termos de volume, prazo e novos emissores, diz a a agência de classificação de risco.
Esse apetite do mercado tem ajudado as empresas a apresentarem balanços mais saudáveis do que nos pleitos passados, trazendo certo alívio em meio ao ambiente de inflação e juros ainda elevados. “Estamos vivendo um momento diferente do que vivemos nas últimas eleições. Mercado hoje criou uma amplitude grande comparado a anos anteriores. A demanda é muito forte por operações de crédito no mercado e as empresas tiveram habilidade em financiar seus passivos”, afirma.
A grande maioria dos emissores veio a mercado e alongou suas dívidas, garantindo um colchão de liquidez para passar por esse momento de volatilidades. A liquidez de 38% dos emissores foi considerada robusta, a de 18%, acima da média, a de 24%, na média, e a de 20%, abaixo da média. Companhias com liquidez abaixo da média, como Pardini, Ser Educacional, Pague Menos e Nissei, já realizaram emissões após o segundo trimestre de 2022, enquanto a EspaçoLaser anunciou aumento de capital, exemplifica relatório da Fitch.
A maior parte das empresas acompanhadas pela Fitch está com alavancagem baixa a moderada e tem uma “administrável exposição a refinanciamento”. Apenas 14% do portfólio entrará 2023 com alavancagem líquida superior ao gatilho de rebaixamento do rating, avalia a agência.
“Para eleições não vemos grandes mudanças nesse primeiro momento. Mas, para onde caminha as questões fiscais é o que o mercado está olhando com lupa, junto com taxa de juros e inflação. Qual vai ser o tamanho desse ciclo de juros e inflação?”, diz Carvalho.
A perspectiva de juros e inflação ainda elevados no início de 2023 se soma ao alto individamento das famílias e limita a demanda e a perspectiva de crescimento econômico. Tudo isso pressiona a capacidade das empresas de gerar caixa operacional. Daí, a importância de estar com passivo ajustado e caixa reforçado. “Empresas estão com mais disciplinas, pandemia ensinou que carregar liquidez faz diferença. O lado do passivo está bem gerenciável.”
Se há bastante liquidez e o cronograma de pagamento de dívida gerenciável, também há o risco de mudanças a depender das decisões do futuro governo, diz Carvalho, dadas as questões fiscais e o cenário externo pior, que é o principal fator de risco para o ambiente operacional das companhias hoje. As exportações representam aproximadamente 17% do PIB e podem desacelerar em uma recessão global. “O tamanho do pé no freio lá fora vai mexer na demanda por commodities e consequentemente nos preços”, lembra o diretor da Fitch.