“Falar que a bolsa vai a 200 mil não é maluquice”, diz CEO da AZ Quest
Juros estruturalmente mais baixos e ativos ainda relativamente baratos na bolsa dão fundamentos para um novo ciclo de alta, segundo Neto
Da Redação
Publicado em 12 de julho de 2019 às 08h39.
Última atualização em 30 de julho de 2019 às 12h37.
São Paulo — O presidente da gestora de recursos AZ Quest, Walter Maciel Neto, se diz um otimista de longa data com relação tanto à economia quanto a bolsa de valores brasileira.
Mas acredita também que, conforme a reforma da Previdência destrava no Congresso, esse otimismo começa agora a se espraiar com mais força entre agentes de mercado e deve fomentar o que, para muitos, será um novo ciclo de alta – e de quebra de recordes — na bolsa brasileira.
“Estamos entrando em uma fase de ciclo virtuoso”, diz Maciel. “Falar que a bolsa, em três anos, vai estar em 200 mil pontos não é maluquice.”
E, o mais importante: não são nem euforia, nem uma bolha que, de acordo com ele, sustentam essa alta. “Eu acho que há fundamentos, a cara do Brasil vai mudar.”
De um lado, em sua análise, há um novo cenário macroeconômico se desenhando no país. Nele, o Estado, quebrado em meio a uma crise fiscal, está diminuindo seu tamanho, sua necessidade de financiamento e, com isso, o nível estrutural dos juros.
De outro lado, mesmo após as arrancadas recentes, Maciel afirma que a bolsa ainda está barata. O mercado costuma medir isso pela chamada relação preço/lucro das empresas, uma medida que indica a proporção do preço de uma companhia na bolsa em relação ao que ela gera de lucro.
Isso ajuda a ter uma ideia do quanto as ações estão sub ou superestimadas em relação ao negócio real.
Exame entrevistou Walter Maciel sobre as perspectivas da AZ Quest para a bolsa. Veja os principais trechos:
Podemos dizer que a bolsa vive um novo ciclo de otimismo? O que está por trás dele?
Eu tenho uma visão otimista já há algum tempo. É uma visão que custou a pegar, especialmente com o novo governo pregando muitas armadilhas contra si mesmo no início. Mas, em resumo, não é um momento de otimismo só para a bolsa; e não é momentâneo também. Trata-se de um ciclo de longo prazo em que o Brasil entrou. O Brasil está a caminho de ficar completamente equacionado do ponto de vista macroeconômico, e isso abre as portas para uma enxurrada de investimentos.
Qual é esse novo equacionamento macroeconômico?
Do Plano Real para cá, tivemos avanços importantes: o controle da inflação, a Lei de Responsabilidade Fiscal, o acúmulo de reservas internacionais. Mas não fizemos as reformas antes, e o resultado foi o descontrole da dívida pública e uma gigante crise fiscal. Quando o gringo olha o Brasil hoje, ele vê um país com economia organizada, diversificada, uma democracia, com grande mercado de consumo, mas com uma dívida pública alta. Do ponto de vista macroeconômico, é a única coisa que restou fora do controle. No momento em que se faz a reforma da Previdência, isso começa a ser equacionado e muda o cenário.
Como a bolsa de valores se beneficia dessa nova “era” macroeconômica?
Em toda a nossa história, sempre tivemos um governo em expansão, precisando se financiar via imposto e que consumia todos os recursos disponíveis no mercado. Isso fomentava juros altos e assustava investidores e empreendedores. Com a crise fiscal, o governo quebrou. Ele não consegue mais gastar, e está tendo que diminuir sua participação na economia. Se ele diminui seu tamanho, precisa também tomar menos recursos da economia para se financiar, e o resultado são juros caindo. Os juros vão ser baixos por muito tempo, e essa é a grande novidade. Como você convencia uma pessoa a diversificar as aplicações, se ela tinha 14% de rendimento ao ano sem fazer nada? Isso mudou, as pessoas vão ter que diversificar, buscar mais risco, e são os ativos reais, como ações em bolsa, que vão ganhar. Por outro lado, as empresas vão querer investir e, como não contam mais com aquele dinheiro farto e subsidiado dos bancos públicos, vão ter que vir a mercado tomar empréstimo. Isso significa mais ações, mais debêntures. O grande vencedor será o mercado de capitais. Ele será um mercado pujante, pela primeira vez na história.
A bolsa vem quebrando recordes sucessivos. Como confiar que ainda há espaço para crescer?
A bolsa está muito barata. A charada está na relação preço/lucro. Se o lucro da empresa cresce muito, o preço das ações também tem que subir, e o espaço para os lucros crescerem é muito grande. Essa relação preço/lucro, hoje, está pouco acima da média histórica, mas a média histórica nunca teve esse horizonte de juros tão baixos, o que significa que, agora, ela pode ser bem maior.
O valor das empresas na bolsa já subiu muito nos últimos dois anos. Os lucros acompanharam?
O lucro também subiu, até porque há muito pouca competição. A crise quebrou muita gente. Temos o que, quatro bancos? Quantos supermercados, quantas siderúrgicas? O Brasil é um país oligopolista. Mas o fato é que o potencial dessas empresas é enorme. O mercado estava asfixiado, o país não crescia, o governo tomava todos os recursos. Agora, com os juros a 6,5% e podendo ir a 5% com a reforma, todas as empresas endividadas se valorizam quase que instantaneamente. São empresas que passaram por anos difíceis, se ajustaram, demitiram, estão mais enxutas. As margens de lucro ficam maiores e vão explodir. Estamos entrando em uma fase de ciclo virtuoso. Falar que a bolsa, em três anos, vai estar em 200 mil pontos não é maluquice.
O quanto das altas recentes não é euforia, ou baseada em eventos que já estavam precificadas pelo mercado, como a reforma da Previdência? A bolsa não pode simplesmente cair ou parar onde está, depois de passada a aprovação?
A euforia é de fato algo que acontece com frequência nos mercados, principalmente quando a bolsa está subindo sem fundamentos, quando as empresas estão intrinsecamente com valores caros. Mas eu acho que nós temos fundamentos. A cara do Brasil vai mudar. E, por outro lado, as empresas estão ainda com múltiplos atraentes, ainda baratos. Isso me faz crer que não é uma bolha. Se a bolsa estivesse indo instantaneamente para 200 mil pontos, agora, seria uma bolha, mas não é o que está acontecendo.