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Intervenção do BC tira volatilidade do dólar

Analistas reclamam que atuação do Banco Central para impedir a valorização do real acabou travando o mercado de câmbio e impedindo variações na cotação

A atuação do BC fez com que a variação do dólar não passade de 0,5% nos últimos dias (Alex Wong/Getty Images)
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Da Redação

Publicado em 28 de janeiro de 2011 às 17h06.

São Paulo - Nem para cima, nem para baixo. A intervenção cada vez mais abrangente do Banco Central no mercado de câmbio, até agora, tem servido para manter a cotação do dólar como ela estava.

A atuação do governo tem reduzido a volatilidade da taxa de câmbio e deixado o mercado completamente travado, com variações que não chegam a 0,50 por cento no dia.

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Os ingressos continuam fortes, com fluxo cambial positivo de 9,205 bilhões de dólares até o dia 21. Por outro lado, o BC trouxe um arsenal pesado para o mercado: leilão de compra no mercado à vista, leilão de compra a termo e swap cambial reverso -- que tem efeito de compra futura.

Em relatório, Tony Volpon, chefe de pesquisa para mercados emergentes nas Américas do Nomura, afirmou que "a força implacável" do fluxo de capitais encontra "o objeto impossível de ser movido" que é a intervenção do Banco Central.

"A aparente insistência do BC em defender o nível de 1,65 real está reduzindo a volatilidade, já que o dólar não saiu da faixa de 1,65 a 1,70 real em todo o mês."

Nas últimas nove sessões, a maior variação diária do dólar foi de 0,48 por cento no dia 27. No ano até a véspera, a maior variação foi de 0,96 por cento no dia 14, quando o BC fez o primeiro leilão de swap cambial reverso de 2011.

Enquanto o dólar acumulava alta de 0,8 por cento no mês até quinta-feira frente ao real, ele caía 1,6 por cento em relação a uma cesta com as principais moedas no mesmo período. Ante o peso mexicano , ele caiu 2,5 por cento.

O operador de um banco de investimento em Nova York, que preferiu não ser identificado, disse que "o real parece ser a mais nova moeda em regime de câmbio fixo".

Além das intervenções diretas, o BC anunciou recolhimento compulsório para posição de câmbio vendida excedente dos bancos, com validade a partir de abril. A decisão criou uma demanda adicional por parte dos bancos no valor estimado de 7 bilhões de dólares, segundo a autoridade monetária.


Mercado travado

O BC reduz a volatilidade do mercado não apenas ao absorver a oferta excedente de dólares. A incerteza sobre as próximas intervenções deixa o mercado cauteloso em patrocinar grandes variações na taxa de câmbio.

"O mercado fica travado até 11h30 esperando para ver se tem swap. Se não tiver, fica travado à tarde também, então trava o mercado de manhã e à tarde", comentou Alfredo Barbutti, economista da BGC Liquidez.

Na quinta-feira, por exemplo, o BC anunciou um leilão de swap cambial reverso apenas quinze minutos antes da operação. As operações anteriores que foram feitas em 2011 haviam sido comunicadas com um dia de antecedências.

"Esse ingrediente de imprevisibilidade é correto, porque o swap tem que ser feito dessa maneira, já era feito assim no passado", lembrou Barbutti.

Na opinião de diversos especialistas, é clara a intenção do governo de manter pulso firme no câmbio, com especial disposição de afastar movimentos especulativos. Em relatório, o Bank of America Merrill Lynch destacou que "o governo claramente mostrou maior disposição de usar instrumentos e medidas adicionais para evitar maior apreciação do real".

Câmbio flutua, mas nem tanto

A dúvida, porém, é quanto mais o BC tem que fazer para evitar a queda do dólar. Para Jorge Lima, consultor financeiro da Previbank DTVM, "o próximo instrumento pode ser alguma restrição de entrada específica, tipo quarentena."

O problema é conciliar a intervenção com a necessidade de financiamento externo. Afastar o investidor estrangeiro pode custar caro diante do déficit em transações correntes estimado em 64 bilhões de dólares para 2011.

"O Brasil não pode abrir mão de dinheiro de longo prazo para investimento", afirmou Lima.

Investidores no exterior têm demonstrado incômodo com as constantes mudanças. Flavia Cattan-Naslauski, do RBS Securities, salientou em nota por exemplo a dificuldade "de se manter atualizado com o mercado de câmbio no Brasil".

O que pode tirar a taxa de câmbio do marasmo, se o impasse entre o fluxo e a atuação do governo continuar, é o cenário internacional. Uma nova crise ou uma mudança na conjuntura que afete a entrada de divisas pode ter, assim como no passado, um efeito abrupto sobre a taxa de câmbio.

"Não se admite ainda que vai aumentar juro nos EUA ao longo de 2011", diz Jorge Lima. "Mas se vir a acontecer, e deve ser no último trimestre, aí sim começa a mudar o cenário mundial um pouco", exemplificou.

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