Dólar supera R$ 5,52 pela 1ª vez após notícia sobre possível saída de Moro
Ministro da Justiça teria pedido a saída do cargo em resposta à tentativa de troca da diretoria da Polícia Federal, segundo jornal
Guilherme Guilherme
Publicado em 23 de abril de 2020 às 17h07.
Última atualização em 23 de abril de 2020 às 17h35.
A moeda americana intensificou sua trajetória de alta contra o real na tarde desta quinta-feira, 23, após o jornal Folha de S. Paulo noticiar que o ministro da Justiça, Sérgio Moro , pediu demissão e fechou em novo recorde. O dólar comercial subiu 2,2% e encerrou sendo vendido a 5,528 reais, enquanto o dólar turismo avançou 1,8%, cotado a 5,75 reais.
De acordo com a publicação, Moro deixou seu cargo à disposição depois de o presidente Jair Bolsonaro informá-lo que pretende trocar a diretoria-geral da Polícia Federal. A possibilidade do ex-juiz federal deixar a pasta foi mal recebida pelos investidores, que veem no ministro uma das bases de sustentação do governo.
Vanei Nagem, analista de câmbio da Terra Investimentos, vê a notícia como um amplificador da instabilidade política no Brasil. "Se sair o Moro e o [ministro da Economia] Paulo Guedes, acabou esse governo", afirmou. Segundo ele, o fato de Sérgio Moro ser bem avaliado pela opinião pública pode minar o presidente Jair Bolsonaro, caso saia da pasta. "É um governo que não é simpático com o Congresso. Se perder a base, que é o povo, a coisa fica complicada", disse.
Apesar da alta mais acentuada no período da tarde, o dólar veio ganhando força contra o real desde o início do pregão. Logo na abertura, a moeda americana disparou e chegou a ser negociada 5,469 reais, renovando o recorde intradiário.Também esteve no radar dos investidores a expectativa de o Banco Central voltar a cortar a taxa básica de juros. A possibilidade vem ganhando força desde o início da semana, quando o presidente da autarquia, Roberto Campos Neto, mudou o discurso, deixando de descartar um novo corte. A medida, embora possa estimular a atividade econômica, tende a afastar o capital estrangeiro em busca de aplicações atreladas à Selic.
“O mercado está precificando um corte de 0,75 ponto percentual para a próxima reunião do Copom (Comitê de Política Monetária)”, disse Márcio Loréga, analista da Ativa Investimentos. Segundo ele, o mercado também projeta um possível corte de 0,5 p.p. em seguida, o que levaria a taxa Selic a 2,5% ao ano. "Isso leva a uma saída de dólares, o investidor vai buscar países com potencial de rentabilidade maiores."
Nesta semana, países emergentes como o México e a Turquia fizeram cortes em suas taxas básicas de juros. Para Loréga, esse movimento reforça a perspectiva de que o Brasil também reduzirá os juros. "É um ciclo que está acontecendo no mercado internacional e estamos seguindo no mesmo caminho. Vamos fazer esse ajuste para evitar um cenário de uma deterioração ainda maior da economia."
Apesar da desvalorização do real, o dia é positivo para ativos de risco, como ações e divisas de países emergentes. No exterior, o dólar perdia força contra o rublo russo, o peso mexicano, a lira turca e a rúpia indiana.