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Da Redação
Publicado em 6 de janeiro de 2011 às 09h09.
Por Cristina Canas
São Paulo - O dólar comercial abriu o dia em alta de 0,48%, negociado a R$ 1,682 no mercado interbancário de câmbio. No pregão de ontem, a moeda americana avançou 0,60% e foi cotada a R$ 1,674 no fechamento. Na Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F), o dólar com liquidação à vista abriu hoje em alta de 0,36%, a R$ 1,6805.
A despeito do comportamento externo, hoje o dólar vai subir ante o real. O Banco Central (BC) informou hoje que está adotando uma medida para redimensionar as posições de câmbio das instituições financeiras. Circular que será publicada no Sisbacen - sistema de informações da instituição - determina que os bancos recolham ao BC, sob a forma de depósito compulsório, 60% sobre o valor da posição de câmbio vendida que exceder o menor dos seguintes valores: US$ 3 bilhões ou o patrimônio de referência (PR). Esse depósito compulsório será recolhido em espécie e não será remunerado.
Na terça-feira, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, já havia avisado que as possibilidades de interferência no câmbio são "infinitas". Ontem, ele deu um tempo para quem entendeu o recado se ajustar e, hoje, uma dessas ações foi anunciada. Seria um "saco de maldades" à moda de uma antiga diretoria do BC, mas ele foi amenizado por dois dos detalhes, na avaliação dos operadores: a alíquota de 60%, "que poderia ser maior", e o limite permitido de posição vendida sem punição de US$ 3 bilhões, "que pega poucas instituições". E ainda há prazo de três meses para que o ajuste seja feito.
"Vai haver um impacto enquanto os bancos se ajustam, mas não é medida para inverter a tendência do dólar. O mercado vai fazer contas, se reposicionar e continuará vendendo dólares. O jogo vai continuar, haverá volatilidade durante o dia. Só no fim do dia é que haverá um acerto maior. A medida poderia ter sido mais forte, com alíquota maior de compulsório ou limite menor para a posição vendida sem punição", disse um operador da Interbolsa Brasil, Ovídio Pinho Soares.
O operador José Carlos Amado, da Renascença, afirma que a medida surgiu para segurar a cotação do dólar e "vai ter impacto". Ele estima que, agora, o dólar vai buscar novamente a marca de R$ 1,70. "O mercado vai fazer um ajuste nas posições criando uma demanda por moeda norte-americana, que elevará as cotações", disse.
Na avaliação de especialistas, a adoção da medida mostra que o governo continua atento à taxa de câmbio e que Mantega não estava blefando, como sugeriram alguns, após a entrevista que deu na terça-feira. "Ele apenas deu um tempo para o mercado se ajustar um pouco e não sofrer tantos prejuízos", disse um profissional de mercado. Soares acrescenta que, como disse o ministro, ainda existe uma infinidade de outras ações que podem ser tomadas. "O governo só precisa avaliar e decidir quais são as convenientes ou não", considera.
A percepção geral dos especialistas é de que a ação tomada hoje reforça o risco de intervenções do governo no câmbio, que é uma variável que foi colocada por Mantega nos negócios no fim do ano passado e reapresentada na terça-feira, quando ele deu entrevista sobre câmbio.
Também é uma avaliação geral a ideia de que o limite de US$ 3 bilhões para manter posição vendida sem compulsório é amplo para a maioria dos investidores e que, portanto, somente grandes instituições nacionais e estrangeiras serão afetadas pela nova regra. De qualquer forma, os analistas concordam que são justamente essas instituições que mais pesam na exposição do mercado, de US$ 16,8 bilhões ao fim de dezembro. Os especialistas consideram também que, durante o pregão de ontem, depois que Mantega concedeu a entrevista sobre câmbio na terça-feira, algumas dessas instituições se adiantaram e fizeram ajustes.