Dólar encerra sequência de altas com exterior e fala de Guedes
Ministro da Economia descarta uso de dinheiro que iria para pagamento de precatórios como financiamento de programa social do governo
Guilherme Guilherme
Publicado em 30 de setembro de 2020 às 09h26.
Última atualização em 30 de setembro de 2020 às 17h44.
O dólar fechou em queda de 0,4% e encerrou o pregão desta quarta-feira, 30, sendo vendido a 5,616 reais. O movimento ocorreu após o ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmar que não irá usar recursos de precatórios para financiar o programa Renda Cidadã. O exterior de desvalorização da moeda americana também contribuiu para a arrefecida do dólar contra o real.
O ministro da Economia Paulo Guedes tratou de acalmar o ânimo dos investidores ao dizer que o Renda Cidadã não fará uso de recursos que seriam destinados ao pagamento de precatórios, por não ser uma fonte “saudável, limpa, permanente e previsível”. As declarações foram recebidas como um suspiro de alívio no mercado, que via na manobra do governo uma tentativa de calote.
"A pressão de tudo que o governo ficou na moeda. É claro que a fala do governo deu uma refrescada, jogou um pouco de água na fogueira. Mas ainda fica o sentimento ruim de que podem tomar outras medidas para conseguir arrecadar dinheiro para fazer o que querem fazer", comenta Vanei Nagem, analista de câmbio da Terra Investimentos.
No radar dos investidores também estiveram os dados econômicos da China e dos Estados Unidos, que vieram melhores do que o esperado. No país asiático, os índices de gerente de compras (PMIs, na sigla em inglês) vieram todos acima dos 50 pontos que delimitam a contração da expansão da atividade, indicando que a segunda maior economia do mundo segue em recuperação acelerada.
Embora em ritmo mais lento, a recuperação da economia americana também deu sinais de reação, com o indicador de variação de empregos do instituto ADP apontando para a criação de 749.000 postos de trabalho em setembro ante a expectativa de 650.000. Os dados do mês anterior também foram revisados para cima. O PIB americano do segundo trimestre também foi revisado de forma positiva, de contração de 31,7% para 31,4% na comparação trimestral.
Apesar de ter fechado em queda, a moeda americana permaneceu em alta pela maior parte da manhã, influenciada pela “briga da ptax” de fim de mês, com o vencimento de contratos futuros de dólar.
“No último dia do mês existe uma manipulação de preços no dólar futuro em que os vendidos tentam diminuir a taxa de câmbio, enquanto os comprados tentam subir para que consigam maiores retornos no encerramento do contrato. Então há uma maior movimentação nas janelas da ptax", explica Jefferson Laatus, estrategista-chefe do Grupo Laatus.
Ainda pela manhã os investidores vinham repercutindo de forma negativa o primeiro debate presidencial dos Estados Unidos. Classificado como caótico pela imprensa americana, o embate entre Donald Trump e Joe Biden foi marcado por acusações de ambos os lados e muitas interrupções.
Ainda que conturbado, pesquisas feitas pela CNBC e CNN apontaram Biden como vencedor, o que, segundo Laatus, contribuiu para o tom negativo dos mercados internacionais. “Durante o debate, o [índice americano] S&P 500 futuro até subiu, mas, quando veio o resultado das pesquisas, ele caiu de vez. O mercado não é pró-Biden.”
Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos, resumiu o debate como “confuso”. “O eleitor americano que não sabia em quem votar antes do debate, soube ainda menos depois”, comenta.
No exterior, o dólar se desvalorizou contra as principais moedas emergentes. O índice Dxy, que mede o desempenho do dólar perante divisas desenvolvidas, também perdeu força.