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Dívida alta agrava crise das elétricas

As ações do Grupo Eletrobrás caíram 52,94% neste mês; quase dois terços das dívidas totais pertencem à estatal, que está presente em projetos bilionários

De acordo com dados da Economática, a dívida das seis principais companhias soma R$ 77,2 bilhões (TIAGO QUEIROZ)
DR

Da Redação

Publicado em 26 de novembro de 2012 às 09h02.

São Paulo - O elevado endividamento das empresas de energia elétrica é um importante indicador de como o setor perderá capacidade de investimentos com a renovação das concessões. De acordo com dados da Economática, a dívida das seis principais companhias com vencimentos entre 2015 e 2017, e que têm ações negociadas em Bolsa, soma R$ 77,2 bilhões ante uma geração de caixa de R$ 23,1 bilhões - valor que sofrerá forte redução com as novas tarifas propostas pelo governo federal.

Na avaliação de especialistas, os números ainda não representam um problema de liquidez no setor, mas refletem como a vida das companhias será apertada daqui pra frente, especialmente para o Grupo Eletrobrás - cujas ações caíram 52,94% neste mês. Quase dois terços das dívidas totais pertencem à estatal, que está presente em projetos bilionários, como as Hidrelétricas de Belo Monte, Santo Antônio e Teles Pires.

A geração de caixa do grupo hoje está na casa de R$ 16,6 bilhões, mas a estatal já anunciou que terá uma queda drástica de receitas de R$ 9,6 bilhões com a renovação das concessões. Segundo a agência de classificação de risco Fitch Ratings, que reduziu a nota da estatal para negativa, as medidas do governo devem pressionar a geração de caixa e ter severas implicações para a capacidade de investimentos dos participantes do setor, em especial para a Eletrobrás.

O analista do Itaú BBA, Marcos Severine, acredita que a empresa precisará de um aporte de recursos do Tesouro entre R$ 15 bilhões e R$ 20 bilhões para honrar compromissos futuros. Mas, na avaliação dele, não adianta mais ficar discutindo a MP 579 já que a empresa anunciou que vai aderir ao programa de renovação das concessões. "Agora é preciso saber que tipo de ações a estatal vai adotar para evitar uma destruição maior de valor da empresa", avalia Severine.

Segundo ele, o mercado quer saber se a Eletrobrás vai adotar regras mais rígidas de gestão, redução de despesa e qual o destino que vai dar para as distribuidoras do Grupo. "Com a venda dessas concessionárias, por exemplo, o caixa da estatal poderá ter um alívio de R$ 1,5 bilhão. Isso pode ser algo bastante positivo no atual momento." Pelos cálculos dele, as receitas da Eletrobrás vão despencar 70% com a renovação das concessões.


Na avaliação da Fitch Rating, a nota das empresas poderá ser rebaixada em vários graus se as companhias aceitarem a proposta do governo, "sem usar parte dos recursos do pagamento recebido para fortalecer suas estruturas de capital, a fim de compensar o precipitado declínio de sua capacidade de geração de fluxo de caixa".

A preocupação tem fundamento. Segundo os dados da Economática, o índice Ebit/dívida, que mede a capacidade das companhias de pagarem os juros da dívida, é de apenas 7 - ou seja, a empresa gera apenas R$ 7 de lucro para cada R$ 100 de dívida. "Esse índice é péssimo", destaca o gerente de relacionamento institucional da Economática, Einar Rivero, responsável pelo levantamento.

Considerando que a taxa básica de juros está em 7,25% ao ano, qualquer redução no caixa poderia deixar a empresa em situação delicada. O índice da estatal é o pior entre as demais companhias. O indicador da Taesa, empresa de transmissão da Cemig, também não é confortável. Está em 8,4, segundo a Economática. Cesp, Cteep, Copel e Cemig têm números bem mais satisfatórios: 30,1, 21,4, 17,9 e 14,9, respectivamente.

Na avaliação do diretor de Project Finance do HSBC, Sergio Monaro, o principal risco da MP 579 é a sinalização que o governo passa para os investidores. A medida, avalia ele, traz uma série de incertezas regulatórias em relação ao setor elétrico que pode resultar em aumento de custo da energia. Um investidor que antes aceitava entrar num empreendimento com uma taxa de retorno menor, agora vai querer um pouco mais para compensar o risco, analisa o executivo. Na prática, isso significa energia mais cara, diz.

Desde a publicação da MP 579, os investidores estão numa campanha pesada para tentar mudar as bases do plano do governo. Eles não concordam com a queda brusca de receitas das usinas e com a perda de valor das empresas. Alguns ameaçam entrar na Justiça para evitar prejuízos. Mas a presidente Dilma Rousseff não tem demonstrado disposição para fazer qualquer alteração na MP.

Na semana passada, em entrevista ao Estado, o diretor-geral da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), Nelson Hubner, disse que mesmo que algumas empresas decidam não renovar as concessões, o governo vai garantir ao consumidor a queda média de 20% no valor das tarifas. "Nosso esforço é manter os 20% de redução. Há outros mecanismos, como encargos e impostos, que estamos estudando." As informações são do jornal O Estado de S.Paulo.

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Na avaliação de especialistas, os números ainda não representam um problema de liquidez no setor, mas refletem como a vida das companhias será apertada daqui pra frente, especialmente para o Grupo Eletrobrás - cujas ações caíram 52,94% neste mês. Quase dois terços das dívidas totais pertencem à estatal, que está presente em projetos bilionários, como as Hidrelétricas de Belo Monte, Santo Antônio e Teles Pires.

A geração de caixa do grupo hoje está na casa de R$ 16,6 bilhões, mas a estatal já anunciou que terá uma queda drástica de receitas de R$ 9,6 bilhões com a renovação das concessões. Segundo a agência de classificação de risco Fitch Ratings, que reduziu a nota da estatal para negativa, as medidas do governo devem pressionar a geração de caixa e ter severas implicações para a capacidade de investimentos dos participantes do setor, em especial para a Eletrobrás.

O analista do Itaú BBA, Marcos Severine, acredita que a empresa precisará de um aporte de recursos do Tesouro entre R$ 15 bilhões e R$ 20 bilhões para honrar compromissos futuros. Mas, na avaliação dele, não adianta mais ficar discutindo a MP 579 já que a empresa anunciou que vai aderir ao programa de renovação das concessões. "Agora é preciso saber que tipo de ações a estatal vai adotar para evitar uma destruição maior de valor da empresa", avalia Severine.

Segundo ele, o mercado quer saber se a Eletrobrás vai adotar regras mais rígidas de gestão, redução de despesa e qual o destino que vai dar para as distribuidoras do Grupo. "Com a venda dessas concessionárias, por exemplo, o caixa da estatal poderá ter um alívio de R$ 1,5 bilhão. Isso pode ser algo bastante positivo no atual momento." Pelos cálculos dele, as receitas da Eletrobrás vão despencar 70% com a renovação das concessões.


Na avaliação da Fitch Rating, a nota das empresas poderá ser rebaixada em vários graus se as companhias aceitarem a proposta do governo, "sem usar parte dos recursos do pagamento recebido para fortalecer suas estruturas de capital, a fim de compensar o precipitado declínio de sua capacidade de geração de fluxo de caixa".

A preocupação tem fundamento. Segundo os dados da Economática, o índice Ebit/dívida, que mede a capacidade das companhias de pagarem os juros da dívida, é de apenas 7 - ou seja, a empresa gera apenas R$ 7 de lucro para cada R$ 100 de dívida. "Esse índice é péssimo", destaca o gerente de relacionamento institucional da Economática, Einar Rivero, responsável pelo levantamento.

Considerando que a taxa básica de juros está em 7,25% ao ano, qualquer redução no caixa poderia deixar a empresa em situação delicada. O índice da estatal é o pior entre as demais companhias. O indicador da Taesa, empresa de transmissão da Cemig, também não é confortável. Está em 8,4, segundo a Economática. Cesp, Cteep, Copel e Cemig têm números bem mais satisfatórios: 30,1, 21,4, 17,9 e 14,9, respectivamente.

Na avaliação do diretor de Project Finance do HSBC, Sergio Monaro, o principal risco da MP 579 é a sinalização que o governo passa para os investidores. A medida, avalia ele, traz uma série de incertezas regulatórias em relação ao setor elétrico que pode resultar em aumento de custo da energia. Um investidor que antes aceitava entrar num empreendimento com uma taxa de retorno menor, agora vai querer um pouco mais para compensar o risco, analisa o executivo. Na prática, isso significa energia mais cara, diz.

Desde a publicação da MP 579, os investidores estão numa campanha pesada para tentar mudar as bases do plano do governo. Eles não concordam com a queda brusca de receitas das usinas e com a perda de valor das empresas. Alguns ameaçam entrar na Justiça para evitar prejuízos. Mas a presidente Dilma Rousseff não tem demonstrado disposição para fazer qualquer alteração na MP.

Na semana passada, em entrevista ao Estado, o diretor-geral da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), Nelson Hubner, disse que mesmo que algumas empresas decidam não renovar as concessões, o governo vai garantir ao consumidor a queda média de 20% no valor das tarifas. "Nosso esforço é manter os 20% de redução. Há outros mecanismos, como encargos e impostos, que estamos estudando." As informações são do jornal O Estado de S.Paulo.

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