Das aéreas aos grãos: empresas da bolsa param operações no RS e analistas projetam perdas
Pelo menos oito companhias de capital aberto informaram paralisações por chuvas torrenciais que afetam o estado desde a semana passada
Repórter
Publicado em 6 de maio de 2024 às 13h48.
Última atualização em 7 de maio de 2024 às 17h04.
Pelo menos oito empresas de capital aberto na bolsa brasileira reportaram que suas operações foram afetadas pelas chuvas no Rio Grande do Sul. Marcopolo (POMO4), Weg (WEGE3), Braskem (BRKM5), Gerdau (GGBR3), Rumo (RAIL3), Azul (AZUL4), GOL (GOLL4) e 3Tentos (TTEN3) informaram que algumas de suas atividades tiveram que ser paralisadas. A situação vem sendo informada em comunicados e por meio de conferências com investidores.
O temporal, que assola as cidades gaúchas desde a semana passada, já é considerado a maior catástrofe natural do estado. Até a manhã desta segunda-feira, 6, foram confirmadas 83 mortes e 111 pessoas desaparecidas. Os prejuízos materiais, até agora, são incalculáveis.
Na Rumo, a Operação Sul da companhia teve circulação de trens parcialmente interrompida, enquanto os "danos aos ativos ainda estão sendo devidamente mensurados". Pela avaliação inicial, a Rumo afirma que não espera "desvios materiais" nos resultados do segundo trimestre. Na 3tentos, duas unidades comerciais foram afetadas por enchentes. GOL e Azul tiveram voos cancelados. WEG e Braskem também paralisaram plantas gaúchas pelo excesso de chuva na região.
Marcopolo e Gerdau informaram os impactos da chuva em suas operações em conferências com investidores. A Gerdau interrompeu a produção na a Unidade Rio Grandense, em Sapucaia do Sul, e na Usina de Aços Especiais, em Charqueada. Gustavo Werneck, CEO da Gerdau, disse, no entanto, que a paralisação não terá "nenhum impacto material de custo ou de atendimento ao mercado". Já a Marcopolo disse ter bons níveis de estoque para atender o mercado e que não há motivo para um "alarme maior". "A preocupação é com as pessoas", afirmou o CEO James Bellini.
Pelo período de silêncio, os executivos ficam restritos a comentarem sobre suas operações dias antes da divulgação de balanços. Mais companhias, portanto, devem reportar impactos em suas operações no Rio Grande do Sul, conforme os resultados forem sendo divulgados.
Mercado estima tamanho das perdas
Diante da tragédia, analistas buscam entender a dimensão dos impactos econômicos. Ainda que nenhuma empresa do setor tenha relatado danos, analistas do Bradesco BBI projetam efeitos significativos em algumas empresas de varejo.
"A catástrofe no Rio Grande do Sul deve atrapalhar as operações do varejo nas próximas semanas. As empresas sob nossa cobertura com maior exposição de lojas no estado são Lojas Quero-Quero (LJQN3, cerca de 54%), Carrefour Brasil (CRFB3, cerca de 11%) e Petz (PETZ3, próximo de 6%). Estimamos que as seguintes empresas também tenham exposição ao estado, embora não divulgada com informações públicas: CVC (CVCB3), Natura&Co (NTCO3), Alpargatas (ALPA4), Grendene (GRND3), Vulcabras (VULC3), Arcos Dorados (dona do McDonalds na América Latina) e Zamp (ZAMP3, do Burger King)", afirma o BBI em relatório.
As preocupações sobre os impactos na Quero-Quero afetam as ações da companhia na bolsa, que caem cerca de 6% no pregão desta segunda-feira, 6.
"A Lojas Quero-Quero deverá ser a empresa de maior impacto sob nossa cobertura devido à grande exposição das lojas, e exposição à população rural do estado, que deverá ser afetada economicamente por esta tragédia."
Há temores também sobre os impactos em frigoríficos. "Dada a sua dependência de frango, suínos e alimentos processados produzidos no Brasil, a BRF (BRFS3) seria a empresa sob nossa cobertura com maior exposição ao estado, com 5 unidades operacionais (das 31 no Brasil), 6 centros de distribuição (dos 53), 2 fábricas de ração animal e 1 operação de pet food, enquanto utiliza o porto de Rio Grande (ao lado de outras 4) para chegar aos mercados internacionais".A estimativa do banco é de que a companhia sofra o impacto das chuvas provoque uma perda de 2% a 9% no Ebitda do segundo trimestre.
No mercado de soja, a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Rio Grande do Sul (Emater-RS) estima que 24% da área plantada ainda precise ser colhida. Esse fator, segundo o BBI, pode ter impactos sobre a Rumo. "As fortes chuvas podem afetar os volumes de soja no Rio Grande do Sul, o que pode representar um risco para a Malha Sul da Rumo, embora observemos que a maior parte da soja que resta para ser colhida está em áreas menos impactadas pelas chuvas", diz o BBI.