Cruzeiro do Sul despenca na renda fixa com financiamento escasso
As taxas dos papéis do banco com vencimentos entre 2014 e 2020 deram um salto médio de 299 pontos-base, ou 2,99%
Da Redação
Publicado em 4 de novembro de 2011 às 08h27.
Nova York - O Banco Cruzeiro do Sul SA está liderando as perdas no mercado de títulos de bancos brasileiros com os receios de que as fontes de financiamento da instituição estão mais escassas.
As taxas dos papéis do Cruzeiro do Sul com vencimentos entre 2014 e 2020 deram um salto médio de 299 pontos-base, ou 2,99 ponto percentual, nos últimos dois meses, segundo dados compilados pela Bloomberg. O custo de captação para outros 14 bancos médios brasileiros subiu 82 pontos-base no mesmo período. O rendimento de títulos emitidos por bancos de mercados emergentes subiu 29 pontos-base desde 2 de setembro.
Bancos brasileiros com menos de R$ 3 bilhões em ativos estão buscando fontes alternativas de financiamento depois que a crise de dívida da Europa fechou o mercado de crédito internacional e que o Banco Central está em processo de extinção do programa de Depósito com Garantia Especial, ou DPGE.
Nenhum outro banco médio brasileiro fez captação externa desde a emissão de títulos pelo próprio Cruzeiro do Sul em 3 de agosto. O banco, que depende do mercado de dívida internacional para um terço de suas necessidades de financiamento, já usou 96 por cento do que poderia levantar por meio do programa de DPGE.
“O Cruzeiro terá que explorar outras alternativas nos próximos anos e seu futuro vai depender de como o banco vai substituir as fontes de financiamento que já teve, das quais depende e que não estão mais disponíveis”, disse Natalia Corfield, analista de dívida corporativa do ING Groep NV, em entrevista por telefone de Nova York.
Os títulos do Cruzeiro do Sul com vencimento em 2020 pagam 13,75 por cento, ou 1.167 pontos-base a mais do que papéis de prazo similar do Tesouro americano, de acordo com dados compilados pela Bloomberg. O papel é considerado problemático quando a diferença de taxas supera os 10 pontos percentuais. Os títulos do governo brasileiro com vencimento no mesmo ano rendem 3,48 por cento.
‘Altas demais’
A assessoria de imprensa do Cruzeiro do Sul em São Paulo não quis fazer comentários para esta reportagem.
“O momento agora é de pânico, então não dá para analisar o comportamento do mercado de renda fixa sob uma perspectiva de longo prazo”, disse Fausto Guimarães, superintendente de relações com investidores do Cruzeiro do Sul, em entrevista por telefone do Rio de Janeiro em 8 de agosto. “Notamos que o mercado estava pedindo taxas altas demais por nossos bônus nos Estados Unidos, então não vamos considerar novas ofertas.”
Maiores exigências de capital e a desaceleração das vendas de carteiras de empréstimos para bancos maiores também dificultam a captação de fundos por bancos como o Cruzeiro do Sul.
O financiamento internacional representa 29 por cento do total para o Cruzeiro do Sul, a maior parcela entre os bancos brasileiros de médio porte. A instituição especializada em crédito consignado acessou o mercado de títulos cinco vezes desde 2010, de acordo com dados compilados pela Bloomberg.
Depósitos a prazo
O empréstimo consignado permite aos bancos deduzir os pagamentos diretamente do salário ou aposentadoria dos correntistas.
O Cruzeiro do Sul também é o maior usuário de DPGEs, criados em 2009 para reforçar os depósitos em bancos de médio porte após os investidores institucionais terem transferido recursos para bancos maiores. A instituição emitiu R$ 2,5 bilhões em DPGEs.
O mercado internacional pode ficar fechado para o Cruzeiro do Sul pelo menos até o ano que vem, disse Vinicius Pasquarelli, operador de dívida de mercados emergentes da Tradition Asiel Securities.
“Não temos visto nem os grandes entrando”, afirmou Pasquarelli em e-mail enviado em resposta a perguntas da reportagem. “Nem mesmo o Tesouro brasileiro. Isso não vai mudar.”
Recomendação
Jansen Moura, analista de dívida corporativa da BCP Securities no Rio de Janeiro, recomenda a compra de títulos do Cruzeiro do Sul com vencimento em 2014, 2015 e 2016, argumentando que o banco provavelmente vai encontrar financiamento no mercado doméstico.
“Inegavelmente existem alguns desafios de financiamento à frente, mas tenho me surpreendido positivamente com a reação do mercado local para bancos médios”, Moura disse em entrevista por telefone.
Os bancos médios têm aumentado a emissão de Letras Financeiras este ano. Os instrumentos foram autorizados pelo Banco Central no ano passado para ajudar os bancos a obter financiamento. O total de LFs em circulação deu um salto para R$ 96 bilhões, de R$ 4,9 bilhões um ano atrás, de acordo com a Cetip SA - Balcão Organizado de Ativos e Derivativos.
Se não conseguir recursos nos mercados local e internacional, o Cruzeiro do Sul “pode enfrentar problemas de fundos”, disse Pasquarelli. “O Cruzeiro é um dos piores créditos do Brasil e está onde deveria estar.”
Nova York - O Banco Cruzeiro do Sul SA está liderando as perdas no mercado de títulos de bancos brasileiros com os receios de que as fontes de financiamento da instituição estão mais escassas.
As taxas dos papéis do Cruzeiro do Sul com vencimentos entre 2014 e 2020 deram um salto médio de 299 pontos-base, ou 2,99 ponto percentual, nos últimos dois meses, segundo dados compilados pela Bloomberg. O custo de captação para outros 14 bancos médios brasileiros subiu 82 pontos-base no mesmo período. O rendimento de títulos emitidos por bancos de mercados emergentes subiu 29 pontos-base desde 2 de setembro.
Bancos brasileiros com menos de R$ 3 bilhões em ativos estão buscando fontes alternativas de financiamento depois que a crise de dívida da Europa fechou o mercado de crédito internacional e que o Banco Central está em processo de extinção do programa de Depósito com Garantia Especial, ou DPGE.
Nenhum outro banco médio brasileiro fez captação externa desde a emissão de títulos pelo próprio Cruzeiro do Sul em 3 de agosto. O banco, que depende do mercado de dívida internacional para um terço de suas necessidades de financiamento, já usou 96 por cento do que poderia levantar por meio do programa de DPGE.
“O Cruzeiro terá que explorar outras alternativas nos próximos anos e seu futuro vai depender de como o banco vai substituir as fontes de financiamento que já teve, das quais depende e que não estão mais disponíveis”, disse Natalia Corfield, analista de dívida corporativa do ING Groep NV, em entrevista por telefone de Nova York.
Os títulos do Cruzeiro do Sul com vencimento em 2020 pagam 13,75 por cento, ou 1.167 pontos-base a mais do que papéis de prazo similar do Tesouro americano, de acordo com dados compilados pela Bloomberg. O papel é considerado problemático quando a diferença de taxas supera os 10 pontos percentuais. Os títulos do governo brasileiro com vencimento no mesmo ano rendem 3,48 por cento.
‘Altas demais’
A assessoria de imprensa do Cruzeiro do Sul em São Paulo não quis fazer comentários para esta reportagem.
“O momento agora é de pânico, então não dá para analisar o comportamento do mercado de renda fixa sob uma perspectiva de longo prazo”, disse Fausto Guimarães, superintendente de relações com investidores do Cruzeiro do Sul, em entrevista por telefone do Rio de Janeiro em 8 de agosto. “Notamos que o mercado estava pedindo taxas altas demais por nossos bônus nos Estados Unidos, então não vamos considerar novas ofertas.”
Maiores exigências de capital e a desaceleração das vendas de carteiras de empréstimos para bancos maiores também dificultam a captação de fundos por bancos como o Cruzeiro do Sul.
O financiamento internacional representa 29 por cento do total para o Cruzeiro do Sul, a maior parcela entre os bancos brasileiros de médio porte. A instituição especializada em crédito consignado acessou o mercado de títulos cinco vezes desde 2010, de acordo com dados compilados pela Bloomberg.
Depósitos a prazo
O empréstimo consignado permite aos bancos deduzir os pagamentos diretamente do salário ou aposentadoria dos correntistas.
O Cruzeiro do Sul também é o maior usuário de DPGEs, criados em 2009 para reforçar os depósitos em bancos de médio porte após os investidores institucionais terem transferido recursos para bancos maiores. A instituição emitiu R$ 2,5 bilhões em DPGEs.
O mercado internacional pode ficar fechado para o Cruzeiro do Sul pelo menos até o ano que vem, disse Vinicius Pasquarelli, operador de dívida de mercados emergentes da Tradition Asiel Securities.
“Não temos visto nem os grandes entrando”, afirmou Pasquarelli em e-mail enviado em resposta a perguntas da reportagem. “Nem mesmo o Tesouro brasileiro. Isso não vai mudar.”
Recomendação
Jansen Moura, analista de dívida corporativa da BCP Securities no Rio de Janeiro, recomenda a compra de títulos do Cruzeiro do Sul com vencimento em 2014, 2015 e 2016, argumentando que o banco provavelmente vai encontrar financiamento no mercado doméstico.
“Inegavelmente existem alguns desafios de financiamento à frente, mas tenho me surpreendido positivamente com a reação do mercado local para bancos médios”, Moura disse em entrevista por telefone.
Os bancos médios têm aumentado a emissão de Letras Financeiras este ano. Os instrumentos foram autorizados pelo Banco Central no ano passado para ajudar os bancos a obter financiamento. O total de LFs em circulação deu um salto para R$ 96 bilhões, de R$ 4,9 bilhões um ano atrás, de acordo com a Cetip SA - Balcão Organizado de Ativos e Derivativos.
Se não conseguir recursos nos mercados local e internacional, o Cruzeiro do Sul “pode enfrentar problemas de fundos”, disse Pasquarelli. “O Cruzeiro é um dos piores créditos do Brasil e está onde deveria estar.”