Corte de juros pode ter pouco (ou nenhum) efeito positivo sobre a bolsa
Para parcela do mercado, a saída da crise não está nas políticas monetárias, mas nas fiscais
Da Redação
Publicado em 18 de março de 2020 às 06h04.
Última atualização em 18 de março de 2020 às 07h44.
Pressionado para cortar a taxa básica de juros Selic , o Comitê de Política Monetária do Banco Central do Brasil (Copom) se prepara para definir, no final da tarde desta quarta-feira, 18, a taxa básica de juros que irá vigorar até maio. Diferentemente das últimas reuniões, desta vez, as projeções do mercado sobre o que vai ser decidido estão longe de ser unanimidade.
Pablo Spyer, diretor de operações da corretora Mirae Asset, avalia que a alta volatilidade do mercado dificulta qualquer previsão no cenário atual. Pela mediana do boletim Focus, um levantamento do BC com analistas do mercado, a previsão é de uma redução de 0,25 ponto percentual.
Porém, há quem acredite em um corte mais agressivo, de 1 ponto percentual ou mesmo na manutenção a taxa atual, que atualmente está na mínima histórica de 4,25% ao ano.
Desde o início de março, quando o Federal Reserve (Fed), o BC dos Estados Unidos, cortou os juros americanos de forma emergencial, aumentaram as expectativa para o que o brasileiro seguisse os mesmos passos. Mas a recente alta do dólar, que chegou a fechar acima dos 5 reais pela primeira vez na história, coloca dúvidas sobre as pretensões do BC, já que um novo corte poderia contribuir para a valorização da moeda americana frente ao real.
Jefferson Laatus, estrategista-chefe do Grupo Laatus, acredita que o melhor cenário seria manter os juros atuais. “Assim traria de volta o fluxo de dólar para carry trade”, disse. O carry trade é uma operação em que se toma dinheiro emprestado em países com juros menores e aplica em economias que pagam taxas superiores. Por isso, juros altos tendem a fortalecer a moeda local. Caso o BC decida reduzir a Selic, Laatus vê o dólar a cinco reais como a “nova realidade” do Brasil.
Já o mercado acionário, que costuma reagir positivamente aos cortes de juros, pode não se beneficiar de uma nova queda da Selic. Rafael Bevilacqua, estrategista-chefe da Levante Investimentos, espera um corte de pelo menos 0,5 ponto percentual na taxa de juros, mas não acredita que isso irá impulsionar a bolsa.
“Recursos injetados na economia e juros mais baixos seriam motivos suficientes para as mesas de negociação dos bancos começarem o dia eufóricas. No entanto, na melhor das hipóteses, seu efeito benéfico sobre o mercado pode ser de curta duração”, escreveu em relatório a clientes.
Nos Estados Unidos, a última redução da taxa de juros , realizada pelo Fed no domingo, 15, (também em caráter emergencial), provocou uma onda de pânico no mercado financeiro e as bolsas americanas tiveram a pior queda desde 1987, fechando em queda de 12% na segunda-feira, 16. Na véspera, o presidente Donald Trump havia dito que o mercado deveria ficar “entusiasmado” com a decisão do Fed.
Para parcela do mercado, a saída da crise não está nas políticas monetárias, mas nas fiscais. Não adianta juros baixos e dinheiro acessível se todo mundo estiver dentro de casa e a demanda for represada pelo coronavírus”, disse Luis Sales, analista da Guide Investimentos.