“Confusione” financeira ameaça banco italiano de 540 anos
Problemas com produtos financeiros avançados aparecem em novo capítulo da trágica histórica de queda do Monte dei Paschi di Siena
Da Redação
Publicado em 29 de janeiro de 2013 às 20h07.
São Paulo – O banco mais antigo do mundo, fundado em 1472 em Siena (Toscana, Itália), vive outro capítulo constrangedor da sua trágica história recente. A sobrevivência do Banco Monte dei Paschi di Siena (BMPS), terceiro maior do país, depende de uma ajuda de 3,9 bilhões de euros do governo italiano, mas esqueletos de operações com produtos financeiros avançados começaram a emergir nos últimos dias e colocaram em xeque o resgate.
O jornal Il Fatto Quotidian revelou na semana passada que o BMPS se envolveu em 2009 numa operação com derivativos financeiros, batizada de “Alexandria”, com o banco japonês Nomura e que resultará em uma importante perda que afetará o balaço de 2012. Além disso, a Bloomberg revelou outra operação mal feita, chamada de “Projeto Santorini”, realizada em 2008 com o Deutsche Bank e que escondeu perdas antes do primeiro pedido de ajuda feito ao governo no ano seguinte.
O BMPS confirmou em um comunicado as duas transações e disse que também está revisando uma outra operação mal sucedida chamada de “Nota Italia”, que têm sido apontadas por novos executivos da instituição financeira. As revelações jogaram lenha no ardente debate político italiano, que têm esquentado com a proximidade das eleições legislativas de 24 e 25 de fevereiro. Os adversários do primeiro-ministro italiano, Mario Monti, o acusam de “defender os oligarcas contra o povo". Entre eles está o ex-premiê, Silvio Berlusconi .
Questão política
O ministro das Finanças, Vittorio Grilli, foi hoje ao Parlamento para defender a ajuda do governo ao banco, enquanto os legisladores o questionam se após os escândalos o banco ainda merece os recursos. Os problemas também causaram um embaraço no atual presidente do Banco Central Europeu , Mario Draghi, e que à época das operações secretas e fraudulentas comandava o BC italiano.
Grilli disse ao Parlamento que o dinheiro não será enviado na forma de um resgate, mas sim emprestado inicialmente com juros de 9% pagos ao governo. A taxa subiria depois para 15% durante o período da assistência financeira. Se o banco não conseguir pagar a dívida, os empréstimos serão convertidos em ações, dando ao governo uma participação direta no banco.
Desempenho das ações do Banca Monte dei Paschi di Siena em 5 anos:
Espelho da crise
O incomum e recém-criado (tem apenas 3 anos) partido político italiano Movimento Cinco Estrelas (M5S), que nasceu de um blog criado pelo humorista Beppe Grillo e que já se firma como um dos principais do país, também se envolveu nas discussões sobre a ajuda ao combalido banco. Ele ressalta em um post em seu blog nesta terça-feira que o início da derrocada do MPS aconteceu em 2007.
À época, o Santander tinha comprado o holandês ABN Amro em um consórcio com o Royal Bank of Scotland e o Fortis, e levou com a operação o italiano o Antoveneta (e o Banco Real no Brasil) como parte do acordo. O banco italiano tinha sido avaliado na época da compra pelo Santander em cerca de 6,6 bilhões de euros. É aí que o BMPS aparece na jogada.
O espanhol decidiu vender o Antoveneta e quem levou o banco foi o BMPS. E com uma oferta 36% maior. O banco já era uma espécie de batata quente no setor financeiro. O novo dono era o terceiro a assumir as rédeas do banco em apenas 18 meses. O problema, segundo Grillo, é que o BMPS não realizou uma fiscalização apurada da situação do banco e também levou para casa cerca de 7,9 bilhões de euros em dívidas.
E pagá-las foi quase impossível quando o inglês Northern Rock faliu. O banco foi o primeiro a colapsar na crise, o que gerou filas de ingleses nas portas dos bancos nas até então quase inimagináveis corridas bancárias, e financiou parte da compra do Antoveneta. O acionista majoritário, a Fondazione MPS, precisou de 2 bilhões de euros.
Depois, no ano passado, quando a Autoridade Bancária Europeia descobriu que o banco tinha um déficit de capital de 3,2 bilhões de euros, a Fondazione precisou vender 15% da instituição. O banco foi então forçado a pedir ajuda ao governo italiano.
São Paulo – O banco mais antigo do mundo, fundado em 1472 em Siena (Toscana, Itália), vive outro capítulo constrangedor da sua trágica história recente. A sobrevivência do Banco Monte dei Paschi di Siena (BMPS), terceiro maior do país, depende de uma ajuda de 3,9 bilhões de euros do governo italiano, mas esqueletos de operações com produtos financeiros avançados começaram a emergir nos últimos dias e colocaram em xeque o resgate.
O jornal Il Fatto Quotidian revelou na semana passada que o BMPS se envolveu em 2009 numa operação com derivativos financeiros, batizada de “Alexandria”, com o banco japonês Nomura e que resultará em uma importante perda que afetará o balaço de 2012. Além disso, a Bloomberg revelou outra operação mal feita, chamada de “Projeto Santorini”, realizada em 2008 com o Deutsche Bank e que escondeu perdas antes do primeiro pedido de ajuda feito ao governo no ano seguinte.
O BMPS confirmou em um comunicado as duas transações e disse que também está revisando uma outra operação mal sucedida chamada de “Nota Italia”, que têm sido apontadas por novos executivos da instituição financeira. As revelações jogaram lenha no ardente debate político italiano, que têm esquentado com a proximidade das eleições legislativas de 24 e 25 de fevereiro. Os adversários do primeiro-ministro italiano, Mario Monti, o acusam de “defender os oligarcas contra o povo". Entre eles está o ex-premiê, Silvio Berlusconi .
Questão política
O ministro das Finanças, Vittorio Grilli, foi hoje ao Parlamento para defender a ajuda do governo ao banco, enquanto os legisladores o questionam se após os escândalos o banco ainda merece os recursos. Os problemas também causaram um embaraço no atual presidente do Banco Central Europeu , Mario Draghi, e que à época das operações secretas e fraudulentas comandava o BC italiano.
Grilli disse ao Parlamento que o dinheiro não será enviado na forma de um resgate, mas sim emprestado inicialmente com juros de 9% pagos ao governo. A taxa subiria depois para 15% durante o período da assistência financeira. Se o banco não conseguir pagar a dívida, os empréstimos serão convertidos em ações, dando ao governo uma participação direta no banco.
Desempenho das ações do Banca Monte dei Paschi di Siena em 5 anos:
Espelho da crise
O incomum e recém-criado (tem apenas 3 anos) partido político italiano Movimento Cinco Estrelas (M5S), que nasceu de um blog criado pelo humorista Beppe Grillo e que já se firma como um dos principais do país, também se envolveu nas discussões sobre a ajuda ao combalido banco. Ele ressalta em um post em seu blog nesta terça-feira que o início da derrocada do MPS aconteceu em 2007.
À época, o Santander tinha comprado o holandês ABN Amro em um consórcio com o Royal Bank of Scotland e o Fortis, e levou com a operação o italiano o Antoveneta (e o Banco Real no Brasil) como parte do acordo. O banco italiano tinha sido avaliado na época da compra pelo Santander em cerca de 6,6 bilhões de euros. É aí que o BMPS aparece na jogada.
O espanhol decidiu vender o Antoveneta e quem levou o banco foi o BMPS. E com uma oferta 36% maior. O banco já era uma espécie de batata quente no setor financeiro. O novo dono era o terceiro a assumir as rédeas do banco em apenas 18 meses. O problema, segundo Grillo, é que o BMPS não realizou uma fiscalização apurada da situação do banco e também levou para casa cerca de 7,9 bilhões de euros em dívidas.
E pagá-las foi quase impossível quando o inglês Northern Rock faliu. O banco foi o primeiro a colapsar na crise, o que gerou filas de ingleses nas portas dos bancos nas até então quase inimagináveis corridas bancárias, e financiou parte da compra do Antoveneta. O acionista majoritário, a Fondazione MPS, precisou de 2 bilhões de euros.
Depois, no ano passado, quando a Autoridade Bancária Europeia descobriu que o banco tinha um déficit de capital de 3,2 bilhões de euros, a Fondazione precisou vender 15% da instituição. O banco foi então forçado a pedir ajuda ao governo italiano.