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China vende US$ 113 bilhões em títulos da dívida americana em sete meses

Por causa das tensões geopolíticas com Washington, Pequim já vendeu 10% de sua carteira

Banco Central da China (Jason Lee/File Photo/Reuters)

Banco Central da China (Jason Lee/File Photo/Reuters)

A China continua a venda de títulos da dívida dos Estados Unidos.

Nos últimos sete meses, o governo de Pequim já vendeu 10% de sua carteira total de títulos da dívida pública americana (Treasury), cerca de US$ 113 bilhões.

Em maio, a China tinha quebrado a barreira psicológica do US$ um trilhão, e hoje teria em seu portfólio cerca de US$ 967,8 bilhões, segundo os dados do Departamento do Tesouro dos EUA.

Esta é uma diminuição significativa na exposição chinesa a dívida americana.

Exatamente um ano antes, em 30 de junho de 2021, os Treasury nos cofres de Pequim somavam US$ 1.061,8 bilhões. Em novembro de 2021 chegaram a US$ 1.080,8 bilhões.

A partir do final do ano passado, mês após mês, a China começou a vender esses papéis.

Coincidentemente, a aceleração nas vendas ocorreu em fevereiro de 2022, mesmo mês do começo da guerra na Ucrânia, com a invasão russa do país vizinho.

Causas geopolíticas (e macroeconômicas) atrás desses desinvestimentos chineses

A explicação mais popular para essa situação é a geopolítica.

O risco de uma guerra entre China e Estados Unidos para Taiwan, além das consequências da guerra na Ucrânia, parecem estar afastando Pequim do tesouro americano.

Em caso de conflito entre as duas superpotências, o governo americano poderia simplesmente congelar o pagamento dos títulos da dívida pública, que se tornariam papéis sem nenhum valor real.

O aumento do número de empresas chinesas, cujas ações são negociadas em Wall Street, que pretendem abandonar o mercado de capitais dos EUA também se encaixa nesse contexto.

Entretanto, a tendência de alta na inflação dos EUA, e a velocidade do aperto monetário por parte do Federal Reserve (Fed), que está elevando os juros de forma agressiva, seriam também razões para essas vendas.

Os títulos adquiridos pelos chineses tinham juros mais baixos do que os atuais e os futuros. E isso teria levado para essa mudança na carteira.

Desde o começo do ano, os Treasury com vencimento em 10 anos perderam metade do valor.

Em fevereiro o yield ficou em torno de 2%, em março caiu para 1,7%, enquanto em junho o atingiu 3,48%.

Em um contexto como esse, a venda foi a escolha mais lógica para limitar o impacto da desvalorização desses ativos nas contas públicas chinesas.

Câmbio também influenciou estratégia sobre dívida pública

Por último, a taxa de câmbio também teve seu papel.

Desde janeiro, a taxa de câmbio entre o dólar e o renminbi inverteu o curso.

Há muito tempo, o dólar está em tendência de queda em relação à moeda de Pequim.

No entanto, desde fevereiro de 2021, o renminbi se desvalorizou em relação ao dólar .

Por isso, a China poderia ter tido menos interesse em comprar títulos do governo americano, se tornaram mais caros, e poderia ter vendido para aproveitar a vantagem nominal, em renminbi, dos dólares obtidos.

Para entender qual a real razão dessas vendas seria necessário conhecer a composição detalhada da carteira de títulos da dívida pública americana nas mãos de Pequim. Por exemplo em relação ao prazo desses papéis.

Entretanto, não há dúvida de que a China vem reduzindo os títulos do governo dos EUA em sua posse desde o começo do conflito na Ucrânia. Um sinal que não pode ser subestimado.

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