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Chegada de Parente não contém queda dos títulos da BRF

O efeito positivo que a troca no comando da BRF teve sobre os títulos de dívida da companhia durou pouco

Pedro Parente: sua presença deve ajudar a restaurar a credibilidade da BRF (Paulo Whitaker/Reuters)

Pedro Parente: sua presença deve ajudar a restaurar a credibilidade da BRF (Paulo Whitaker/Reuters)

Karla Mamona

Karla Mamona

Publicado em 4 de maio de 2018 às 08h56.

(Bloomberg) -- O efeito positivo que a troca no comando da BRF teve sobre os títulos de dívida da companhia durou pouco.

Após uma breve recuperação em meio ao otimismo generalizado com a indicação de Pedro Parente para a presidência do conselho da gigante de alimentos, os papéis da companhia voltaram a se desvalorizar no exterior, com os investidores novamente debruçados sobre os fundamentos da companhia em um ambiente de maior aversão a ativos de risco.

A BRF ainda tenta se estabilizar depois de se ver envolvida em um escândalo sanitário que levou a Europa a banir seus produtos, reduzindo as chances de recuperação após o prejuízo recorde de 2017. A empresa precisou suspender parte de suas operações para ajustar à redução da demanda, ao mesmo tempo em que enfrenta uma forte alta nos custos do milho -- ingrediente usado na ração dos frangos -- e o avanço de marcas mais baratas no mercado interno.

“Parente é ótimo para trazer confiança, mas existem muitos fatores fora do controle de qualquer um que continuarão impactando os lucros da BRF”, disse Soummo Mukherjee, analista da Mizuho Securities USA, em Nova York. Segundo ele, a BRF pode ser forçada a vender ativos ou um aumento de capital para reduzir o endividamento. “Para os bondholders, o que interessa é uma estratégia de rápida desalavancagem.”

Os títulos da BRF com vencimento em 2024 — uma emissão de US$ 750 milhões — acumulam desvalorização de 9,8 por cento neste ano, a maior queda entre os bônus corporativos brasileiros. Em 16 de abril, a diferença de rendimento em relação aos títulos de prazo similar da JBS diminuiu para uma mínima de 0,3 ponto percentual – refletindo a percepção de que o risco da BRF está convergindo com o da concorrente, que possui uma nota de crédito inferior das agências de classificação de risco. Nos últimos dias, a diferença voltou a subir para 1,2 ponto percentual, ainda abaixo da média. Já as ações da BRF perderam um terço do valor, o pior desempenho do Ibovespa.

A BRF não quis comentar sobre o desempenho de seus papéis.

A BRF é uma das mais endividadas do setor de alimentos, e os índices de alavancagem devem continuar a subir com a provável deterioração dos resultados neste semestre, segundo Mukherjee. Até o fim do ano, a dívida líquida pode alcançar o equivalente a 5,2 vezes o EBITDA (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização), ante 4,3 vezes no fim de 2017. Diante dessa perspectiva, a valorização dos títulos após a nomeação de Parente pareceu exagerada, afirmou o analista.

Parente, elogiado pelo seu desempenho à frente da Petrobras, vai ocupar o lugar do bilionário Abilio Diniz na BRF. A presença dele deve ajudar a restaurar a credibilidade, mas uma eventual recuperação no valor dos bonds vai depender da capacidade da BRF de reverter rapidamente os efeitos do embargo europeu e recuperar sua lucratividade, segundo Carlos Gribel, chefe de renda fixa no Andbanc Brokerage, em Miami.

O rendimento dos títulos da BRF com vencimento em 2024 deve se manter acima de 6 por cento até a companhia apresentar resultados melhores, segundo Michael Roche, estrategista de renda fixa da Seaport Group. Atualmente, os papéis oferecem um rendimento de aproximadamente 6,5 por cento, quase dois pontos percentuais acima do patamar registrado no começo do ano -- um reflexo da deterioração do crédito da companhia, que perdeu seu grau de investimento.

O desafio da BRF é “restaurar a confiança do investidor”, disse Roche. “E isso só pode acontecer com a demonstração de melhorias operacionais e conformidade regulatória.”

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