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Ibovespa segue em queda de 12% e volta aos valores de 2018

Principal índice do mercado acionário brasileiro desaba com a Petrobras por conta da guerra de preços do petróleo

Campo de petróleo: desavenças entre Rússia e Arábia Saudita lançam mais incertezas sobre mercado global (Nick Oxford/Reuters)
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Da Redação

Publicado em 9 de março de 2020 às 06h28.

Última atualização em 9 de março de 2020 às 17h57.

São Paulo - O Ibovespa, principal índice acionário da bolsa brasileira B3, caía 12% às 16h12, aos 86.205,89 pontos, o menor nível desde dezembro de 2018. Logo início das negociações, uma baixa de 10%  acionou o mecanismo de " circuit breaker", que mantém as transações paralisadas por meia hora para esfriar os ânimos. A bolsa brasileira está acompanhando o mercado externo.

Em meio ao pânico com o coronavírus, que tem castigado os mercados em todo o mundo desde fevereiro, agora também a baixa do petróleo faz os investidores correrem dos investimentos considerados mais arriscados, como as ações, para buscar refúgio em aplicações tidas como seguras. O índice Standard & Poor's 500, de Nova York, também suspendeu as negociações após sua queda bater em 5%.

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Na retomada dos negócios após a paralisação pelo "circuit breaker", a ação preferencial da Petrobras recuava 25%, para 16,99 reais. A petroleira é a empresa mais importante da B3, com peso de cerca de 10% no Ibovespa. Depois, vem o Itaú Unibanco, que caía 7,20%, a 27,74 reais.

Segundo Jefferson Laatus, sóciodo GrupoLaatus, o mercado pode estar antecipando uma possível guerra dada a decisão de derrubar o valor do petróleo. "A possibilidade de uma guerra já está sendo precificada, e essa guerra apenas começou. Países como o Irã vão ser bastante prejudicados. Eles podem querer voltar a fechar o estreito de Ormuz. Em uma eventual guerra, a Rússia apoiaria o Irã e os Estados Unidos, a Arábia Saudita. Com toda certeza a possibilidade de uma guerra na região é muito maior agora do que quando o general iraniano Soleimani foi morto pelos americanos", afirma.

Já Adriano Cantreva, sócio da Portofino Investimentos, acredita que o caos será temporário. "A minha recomendação para os investidores é manter a calma. É necessário lembrar que o investimento é de longo prazo: então, é importante ter ações de empresas de qualidade. Nesse sentido, o momento pode ser até uma oportunidade para comprar os ativos que estão mais baratos", afirma.

Se a baixa do Ibovespa se aprofundar hoje e chegar a 15% em relação ao fechamento de sexta-feira, os negócios serão paralisados por mais 1 hora. Caso as perdas encostem em 20%, a B3 decide por quanto tempo as transações ficarão suspensas.

A última vez em que esse mecanismo tinha sido acionado foi na manhã de 18 de maio de 2017, o Joesley Day, dia seguinte à divulgação da notícia de que um dos donos da processadora de alimentos JBS, Joesley Batista, havia gravado uma conversa com o então presidente da República Michel Temer na qual o político sinalizada apoio a práticas de corrupção. Se comprovado, o apoio poderia levá-lo ao impeachment, ameaçando os trâmites da reforma da Previdência, vista como chave para acelerar o crescimento da economia do país.

Antes da queda de hoje, o Ibovespa já havia perdido 17% neste ano. Na sexta-feira, com grandes incertezas em relação à disseminação do coronavírus, o índice recuou 4,1%. Más notícias sobre a epidemia surgiram no final de semana, com a Itália isolando 16 milhões de pessoas na região norte do país após as infecções superarem 7 mil e as mortes baterem erm 360. Porém, a disputa sobre o preço do petróleo entre a Rússia e a Arábia Saudita pegou os mercados de surpresa.

A estatal saudita Saudi Aramco anunciou no sábado um plano de cortar o preço do petróleo em 20%. O barril de petróleo do tipo Brent, que serve de referência para os preços, apresentava queda de 21% às 10h40 desta segunda-feira, a 35,81 dólares. Mais cedo, chegou a cair quase 34%, negociado a 27,34 dólares, o menor valor desde fevereiro de 2016.

O anúncio da Saudi foi feito em meio a uma guerra interna entre os produtores de petróleo. Com a queda no consumo global gerada pelo coronavírus, os sauditas propuseram uma redução na produção na última reunião da Opep (que reúne os maiores produtores de petróleo), mantendo ou aumentando preços.

Os russos foram contra, uma vez que seu orçamento é mais preparado para um cenário de preços baixos, segundo o analista Thiago Duarte, do banco BTG Pactual. Em retaliação, os sauditas decidiram aumentar sua produção de petróleo em 10 milhões de barris por dia, aumentando a oferta mesmo em um cenário de consumo baixo.

A guerra por mercado está declarada. Essa disputa, que joga ainda mais incerteza sobre os mercados globais, é reflexo claro dos impactos do coronavírus. O banco de investimentos americano Goldman Sachs espera redução de 150.000 barris de petróleo na demanda global, e crescimento zero na demanda da China. Além disso, a Saudi decidiu ir adiante mesmo sem aval da Opep, o que, na prática, destrói o potencial de acordo e a importância do grupo, que conseguiu chegar a acordos nos últimos três anos.

Com tanta tensão, as bolsas asiáticas fecharam em queda nesta segunda-feira. Na China, os índices de Shenzhen e Xangai caíam 4,09% e 3,01%, respectivamente, enquanto Hong Kong caiu 4,23%. O japonês Nikkei caiu 5,07% e, na Austrália, o principal índice caiu 7,33%. A bolsa de Londres perdia 8,4% e a de Nova York, 5,9%.

Enquanto os produtores de petróleo estão longe de um acordo sobre as desavenças do fim de semana, os casos de coronavírus chegaram a 110.146 infectados no mundo, com mais de 30.000 pacientes fora da China -- e que representam a maioria dos novos casos recentes.

A partir de hoje, a negociação de ações na bolsa B3 vai terminar uma hora mais cedo, às 17h, devido ao início do horário de verão nos Estados Unidos, que começou ontem.

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