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Bolsa vai à mínima em 45 dias preocupada com Lula 3; dólar e juros futuros disparam

Em meio a receios fiscais, mercado brasileiro opera em completo descompasso com euforia no exterior por Fed mais brando

Luiz Inácio Lula da Silva: presidente eleito (Andressa Anholete/Getty Images)
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Guilherme Guilherme

Publicado em 10 de novembro de 2022 às 12h26.

Última atualização em 10 de novembro de 2022 às 13h14.

O discurso do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva realizado nesta quinta-feira, 10, na sede de transição de seu futuro governo, provocou fortes reações negativas no mercado financeiro. Entre as declarações estiveram críticas à reforma da previdência e o anseio do mercado pela responsabilidade fiscal durante o terceiro mandato de Lula (Lula 3) .

"Por que as pessoas são levadas a sofrerem para garantir a tal da 'responsabilidade fiscal' neste país? Por que a toda hora as pessoas falam que é preciso cortar gastos, fazer superávit e teto de gastos? Por que as mesmas pessoas que discutem com seriedade o teto de gastos não discutem a questão social deste país?", questionou Lula durante o discurso. Lula também afirmou que o Banco do Brasil ( BBAS3 ) não será privatizado e criticou a antecipação de dividendos da Petrobras ( PETR4 ).

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O Ibovespa, que já caía em meio aos receios fiscais da PEC de Transição, amplificou as perdas durante as falas do presidente eleito, chegando a ir abaixo dos 110.000 pontos pela primeira vez desde 26 de setembro.

O movimento de queda destoa completamente das fortes altas em Nova York, onde os principais índices de ações disparam após o Índice de Preço ao Consumidor americano (CPI, na sigla em inglês) sair abaixo do esperado para o mês de outubro e praticamente sacramentar uma alta de juros mais branda na próxima decisão do Federal Reserve. O índice Nasdaq chega a subir mais de 5%, enquanto o Ibovespa cai mais de 2% neste início de tarde.

Leia mais:Fed será mais brando em dezembro? Aposta ganha força após CPI dos EUA e bolsas disparam em NY

"Lula manteve a mesma linha dos debates, que é um discurso para os pobres. O mercado financeiro não gosta, pois esbarra no furo no teto de gastos O mercado está preocupado com a quebra do teto fiscal, já que Lula não tem mostrado preocupação em relação ao cumprimento de gastos", afirmou Rodrigo Cohen, educador financeiro, analista CNPI e co-fundador da Escola de Investimentos.

Mas os efeitos negativos das falas de Lula não recaíram somente sobre a bolsa: se espalharam também para os juros e câmbio, afetando praticamente todos os indicadores do mercado brasileiro.

O dólar chegou a subir mais de 3%, tocando as máximas do dia, sendo negociado aicma de R$ 5,35. Já os juros futuros chegam a disparar mais de 5% na B3, com investidores precificando maior dificuldade de o governo conseguir empréstimos diante de temores cada vez maiores sobre a sustentabilidade fiscal brasileira.

"Os juros hoje são o grande destaque. Não me lembro a última vez em que vi uma movimentação dessa nos juros. Era precificado que os problemas fiscais não afetariam os juros futuros e que já teríamos cortes. Isso tudo começa a se descategorizar", disse Nicolas Merola, analista da Inv.

Os temores em torno dos juros futuros ainda levam em consideração dados da inflação brasileira, que, diferentemente, da americana, subiu acima do esperado. O IPCA de outubro, divulgado nesta manhçã, avançou 0,59% ante consenso de 0,48%. Com o dado de hoje, o IPCA quebrou a sequência de três meses de deflação.

"O mercado hoje está muito estressado. O que está dando o tom é a curva de juros, que explodiu e desde o início do dia não para de subir. Isso rebate em praticamente todos os setores da bolsa", afirmou André Luzbel, head de renda variável da SVN Investimentos.

"O mercado está precificando que o novo governo irá usar a máquina pública para gastar mais dinheiro, o que gera uma desconfiança tanto do lado fiscal, quanto monetário - isso tudo com a inflação que voltou a subir. É um governo que tende a gastar muito mais. O mercado está dando o recado que ele [Lula] não pode ser irresponsável a ponto de comprometer a economia do país. É um recado do mercado para ele mudar o tom", disse Luzbel.

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