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Bolsa precisa cair mais para ter alta sustentável, diz Lika Takahashi

Em entrevista para Exame.com, a analista vista como a mais pessimista (ou realista) da bolsa, lista os principais riscos e traça suas impressões para a bolsa

MLCX -Índice Mid-Large Cap (Marc Tirl/AFP)
DR

Da Redação

Publicado em 7 de maio de 2012 às 06h00.

São Paulo – O Ibovespa em 2012 já subiu 7,16% até a última sexta-feira, dia 4 de maio. A euforia do início do ano, porém, parece ter passado. O sobe e desce da bolsa não deve acabar tão cedo. Para Lika Takahashi, chefe de análise da Fator Corretora, enquanto houver qualquer sinal de crise, haverá muita volatilidade.

Para ela só tem um jeito da bolsa subir de maneira sustentável. “Tem que haver uma correção para baixo”, disse em entrevista exclusiva para Exame.com. É o que tem acontecido, desde o começo de abril o principal índice da bolsa acumula uma desvalorização de 6,73%.

Em uma hora de conversa, Lika listou quais são os principais pontos do cenário macroeconômico nacional e mundial que vão ditar o ritmo da renda variável no Brasil, contou sobre suas expectativas para o mercado acionário, e mostrou que, além de crise nos vizinhos distantes, o país está sujeito a riscos bem próprios e particulares.

Confira a seguir os principais trechos da conversa com Lika Takahashi.

Perspectivas para a bolsa brasileira

Exame.com: Qual sua projeção para o Ibovespa no final do ano?

Lika Takahashi: Continuo reforçando 60 mil pontos. Mas o objetivo não é acertar um número, e sim sinalizar a impressão sobre se as coisas estão muito caras, ou muito baratas.

Exame.com: Se fechar nessa pontuação, ainda será uma alta [de 5,71% sobre 2011]. O que influencia isso?

Lika: Talvez, algumas distorções de preços. Tem alguns setores apenas que acho razoavelmente caros. Talvez, no final das contas, as ações defensivas que já vão bem esse ano podem ajudar na performance geral. O varejo também tem algumas oportunidades, embora ali, de maneira generalizada, acho que os preços já estão esticados.

Além disso, você pode ter notícias positivas de alguns fronts. Estados Unidos, por exemplo, influenciaram entre o final do ano passado e esse ano. A expectativa de vinda de fluxo também conta. Atualmente temos operado muito com as notícias do dia a dia.


Exame.com: Estamos passando por um cenário de mudanças na poupança e perspectivas de menores juros. Com isso, a pessoa física pode voltar para bolsa?

Lika: A pessoa física ficou acostumada com altas taxas de juros desde lá atrás. O que percebemos é que existe uma vontade de sair disso e ir para a bolsa. Existe uma procura grande por rendimento. Mas, por enquanto, essa vontade não tem se traduzido num aumento das pessoas físicas no mundo, pois ainda existe um receio de forma geral. Mas esse movimento [de migração] seria importante para a bolsa. Tanto de pessoa física, quanto de fundos de pensão.

Exame.com: E esse movimento deve acontecer?

Lika: Deve acontecer, só não temos como saber em que magnitude e com qual velocidade.
Tivemos recentemente um descolamento do mercado brasileiro com uma queda forte do setor financeiro [a baixa veio após o Itaú Unibanco projetar mais gastos com inadimplência].

Exame.com: O setor financeiro deve continuar pesando?

Lika: O setor financeiro trouxe uma questão negativa. O Itaú tem uma visão mais conservadora do que Santander ou Bradesco, por exemplo. Mas bancos têm aquela questão de que o mercado precisa ver para crer. Por isso, acho que vai demorar mais uns dois trimestres de resultado para o mercado se acalmar um pouco.

Europa, Estados Unidos, e a crise sem fim visível

Exame.com: A crise que estamos vivendo hoje é uma crise nova?

Lika: Não, ela é a mesma. Você só tem etapas, desdobramentos. Lá atrás tínhamos problemas e os governos correram para socorrer. Com isso, foram se endividando e é essa fase que a gente vive. E enquanto ela existir, vamos continuar vendo volatilidade nos mercados.

Exame.com: O mercado se preocupou com Grécia e agora é a vez da Espanha...

Lika: Isso porque o mercado não consegue lidar com tudo de uma vez. Ele pode voltar num risco, mas nunca vai prestar atenção em mais de um ponto ao mesmo tempo.

Exame.com: O que te faria mais confiante numa recuperação sustentável das bolsas?

Lika: Uma correção para baixo. Se eu tivesse que listar três motivos para as bolsas subirem, não conseguiria. Isso só vai acontecer se houver essa correção para baixo.


Cenário e riscos no Brasil
Exame.com: Em 2009, comemorou-se que o Brasil não foi muito afetado pela crise. Dessa vez seremos?

Lika: Lá atrás, quando a crise veio, o Brasil chegou a subestimar os efeitos. Mas naquele momento, tínhamos talvez mais instrumentos do que temos hoje. Naquela época, houve uma injeção de liquidez que só foi boa para os Estados Unidos e um pouco para a zona do euro, mas para o resto do mundo, só levou problemas, seja via inflação, seja via câmbio. No nosso caso foi muito mais o câmbio.

Ou seja, temos os nossos próprios problemas, que talvez já até tivéssemos em 2008 e 2009, mas não apareciam.

Exame.com: Além dos riscos de cenário, quais outros o Brasil tem?

Lika: Em abril, nos Estados Unidos, o S&P terminou quase empatado e nós em dólares caímos muito. Descolamos porque, hoje em dia, além de todos os outros temores, existe o medo de que se os Estados Unidos continuarem se recuperando, as bolsas americanas podem se transformar em um negócio mais atraente. E ai o que acontece? O fluxo que o mercado contava acaba indo todo para os Estados Unidos.

Exame.com: E a China, representa algum risco para o Brasil?

Lika: Antes se dizia que tínhamos um benefício de sermos expostos à China. Mas se a China desacelera hoje, no mínimo, não teríamos esse benefício. Hoje parece que estamos muito mais colados na China. Na ida foi uma beleza, mas quero ver se na volta não vai ser uma tristeza.

Exame.com: Mas a China precisaria de uma desaceleração muito grande para nos afetar?

Lika: Não. O que acontece na China é que, ainda é prematuro afirmar, mas existem alguns sinais de uma mudança de perfil. Starbucks e Apple, por exemplo, são empresas que comemoram resultados da China. Companhias de bens de capital, como a  Caterpillar, nem tanto.
Se houver mesmo essa mudança, de investimentos em infraestrutura para consumo, a China pode deixar de comprar commodities, que têm um forte peso em nossa bolsa.

Exame.com: Alguma empresa de consumo poderia se beneficiar na bolsa brasileira com isso? Temos aqui equivalentes ao Starbucks e Apple?

Lika: Não. Só Vale mesmo.

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São Paulo – O Ibovespa em 2012 já subiu 7,16% até a última sexta-feira, dia 4 de maio. A euforia do início do ano, porém, parece ter passado. O sobe e desce da bolsa não deve acabar tão cedo. Para Lika Takahashi, chefe de análise da Fator Corretora, enquanto houver qualquer sinal de crise, haverá muita volatilidade.

Para ela só tem um jeito da bolsa subir de maneira sustentável. “Tem que haver uma correção para baixo”, disse em entrevista exclusiva para Exame.com. É o que tem acontecido, desde o começo de abril o principal índice da bolsa acumula uma desvalorização de 6,73%.

Em uma hora de conversa, Lika listou quais são os principais pontos do cenário macroeconômico nacional e mundial que vão ditar o ritmo da renda variável no Brasil, contou sobre suas expectativas para o mercado acionário, e mostrou que, além de crise nos vizinhos distantes, o país está sujeito a riscos bem próprios e particulares.

Confira a seguir os principais trechos da conversa com Lika Takahashi.

Perspectivas para a bolsa brasileira

Exame.com: Qual sua projeção para o Ibovespa no final do ano?

Lika Takahashi: Continuo reforçando 60 mil pontos. Mas o objetivo não é acertar um número, e sim sinalizar a impressão sobre se as coisas estão muito caras, ou muito baratas.

Exame.com: Se fechar nessa pontuação, ainda será uma alta [de 5,71% sobre 2011]. O que influencia isso?

Lika: Talvez, algumas distorções de preços. Tem alguns setores apenas que acho razoavelmente caros. Talvez, no final das contas, as ações defensivas que já vão bem esse ano podem ajudar na performance geral. O varejo também tem algumas oportunidades, embora ali, de maneira generalizada, acho que os preços já estão esticados.

Além disso, você pode ter notícias positivas de alguns fronts. Estados Unidos, por exemplo, influenciaram entre o final do ano passado e esse ano. A expectativa de vinda de fluxo também conta. Atualmente temos operado muito com as notícias do dia a dia.


Exame.com: Estamos passando por um cenário de mudanças na poupança e perspectivas de menores juros. Com isso, a pessoa física pode voltar para bolsa?

Lika: A pessoa física ficou acostumada com altas taxas de juros desde lá atrás. O que percebemos é que existe uma vontade de sair disso e ir para a bolsa. Existe uma procura grande por rendimento. Mas, por enquanto, essa vontade não tem se traduzido num aumento das pessoas físicas no mundo, pois ainda existe um receio de forma geral. Mas esse movimento [de migração] seria importante para a bolsa. Tanto de pessoa física, quanto de fundos de pensão.

Exame.com: E esse movimento deve acontecer?

Lika: Deve acontecer, só não temos como saber em que magnitude e com qual velocidade.
Tivemos recentemente um descolamento do mercado brasileiro com uma queda forte do setor financeiro [a baixa veio após o Itaú Unibanco projetar mais gastos com inadimplência].

Exame.com: O setor financeiro deve continuar pesando?

Lika: O setor financeiro trouxe uma questão negativa. O Itaú tem uma visão mais conservadora do que Santander ou Bradesco, por exemplo. Mas bancos têm aquela questão de que o mercado precisa ver para crer. Por isso, acho que vai demorar mais uns dois trimestres de resultado para o mercado se acalmar um pouco.

Europa, Estados Unidos, e a crise sem fim visível

Exame.com: A crise que estamos vivendo hoje é uma crise nova?

Lika: Não, ela é a mesma. Você só tem etapas, desdobramentos. Lá atrás tínhamos problemas e os governos correram para socorrer. Com isso, foram se endividando e é essa fase que a gente vive. E enquanto ela existir, vamos continuar vendo volatilidade nos mercados.

Exame.com: O mercado se preocupou com Grécia e agora é a vez da Espanha...

Lika: Isso porque o mercado não consegue lidar com tudo de uma vez. Ele pode voltar num risco, mas nunca vai prestar atenção em mais de um ponto ao mesmo tempo.

Exame.com: O que te faria mais confiante numa recuperação sustentável das bolsas?

Lika: Uma correção para baixo. Se eu tivesse que listar três motivos para as bolsas subirem, não conseguiria. Isso só vai acontecer se houver essa correção para baixo.


Cenário e riscos no Brasil
Exame.com: Em 2009, comemorou-se que o Brasil não foi muito afetado pela crise. Dessa vez seremos?

Lika: Lá atrás, quando a crise veio, o Brasil chegou a subestimar os efeitos. Mas naquele momento, tínhamos talvez mais instrumentos do que temos hoje. Naquela época, houve uma injeção de liquidez que só foi boa para os Estados Unidos e um pouco para a zona do euro, mas para o resto do mundo, só levou problemas, seja via inflação, seja via câmbio. No nosso caso foi muito mais o câmbio.

Ou seja, temos os nossos próprios problemas, que talvez já até tivéssemos em 2008 e 2009, mas não apareciam.

Exame.com: Além dos riscos de cenário, quais outros o Brasil tem?

Lika: Em abril, nos Estados Unidos, o S&P terminou quase empatado e nós em dólares caímos muito. Descolamos porque, hoje em dia, além de todos os outros temores, existe o medo de que se os Estados Unidos continuarem se recuperando, as bolsas americanas podem se transformar em um negócio mais atraente. E ai o que acontece? O fluxo que o mercado contava acaba indo todo para os Estados Unidos.

Exame.com: E a China, representa algum risco para o Brasil?

Lika: Antes se dizia que tínhamos um benefício de sermos expostos à China. Mas se a China desacelera hoje, no mínimo, não teríamos esse benefício. Hoje parece que estamos muito mais colados na China. Na ida foi uma beleza, mas quero ver se na volta não vai ser uma tristeza.

Exame.com: Mas a China precisaria de uma desaceleração muito grande para nos afetar?

Lika: Não. O que acontece na China é que, ainda é prematuro afirmar, mas existem alguns sinais de uma mudança de perfil. Starbucks e Apple, por exemplo, são empresas que comemoram resultados da China. Companhias de bens de capital, como a  Caterpillar, nem tanto.
Se houver mesmo essa mudança, de investimentos em infraestrutura para consumo, a China pode deixar de comprar commodities, que têm um forte peso em nossa bolsa.

Exame.com: Alguma empresa de consumo poderia se beneficiar na bolsa brasileira com isso? Temos aqui equivalentes ao Starbucks e Apple?

Lika: Não. Só Vale mesmo.

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