“Bolha das ações de IA começou a estourar”, diz Gavekal; entenda o porquê
Tumulto nos mercados esta semana foi início de um movimento maior na avaliação do diretor de pesquisa da casa de análise
Repórter de Invest
Publicado em 9 de agosto de 2024 às 15h34.
Última atualização em 9 de agosto de 2024 às 15h56.
O estouro da bolha da inteligência artificial é o que está por trás do turbilhão que derrubou as bolsas globais esta semana.A avaliação é deSteve Miller, diretor de pesquisa para a América do Norte da casa de análise Gavekal Research. Para provar seu ponto, Miller recorre a uma observação do banqueiro inglês John Mills, que em 1867 afirmou: “o pânico não destrói o capital. Ele apenas revela até que ponto ele foi previamente destruído pela sua traição [de aplicá-lo] em obras irremediavelmente improdutivas.”
Para o diretor da Gavekal, não existe forma mais sucinta de descrever o que aconteceu esta semana nos mercados. “Há alguns trimestres, as empresas de tecnologia se atropelavam para dizer aos investidores como a IA em breve aumentaria as vendas e os lucros para a estratosfera. Hoje, muitas das mesmas companhias estão dizendo aos investidores que o retorno da IA levará mais tempo do que o inicialmente esperado”, escreveu.
As empresas ligadas à IA viveram um período de euforia na bolsa, com as ações decolando de olho em juros futuros. A temporada de balanços do segundo trimestre, no entanto, mostrou que uma aceleração significativa nos lucros ainda está fora do radar.A Intel foi um grande exemplo. A companhia registrou US$ 1,61 bilhão de prejuízo líquido no segundo trimestre, revertendo um lucro de US$ 1,48 bilhão no mesmo período do ano anterior.Além disso, a fabricante de chips afirmou que deve demitir mais de 15% de seus funcionários como parte de um plano de redução de custos de US$ 10 bilhões. A Intel também não deve pagar dividendos no final deste ano.
Segundo Miller, outro evento significativo para reforçar a tese foi o desinvestimento de Warren Buffett, guru de investimentos, na Apple. Na última sexta-feira, 2, a Berkshire Hathaway, conglomerado de Buffett, diminuiu pela metade sua participação na gigante de tecnologia.
“Hoje, se o mundo está prestes a embarcar num futuro de gastos massivos em IA que justifica pagar nove vezes o valor contábil pelo índice global de semicondutores, porque é que a Intel tem de despedir um quinto do seu pessoal?”, questionou o diretor. “Há o argumento que isto seria uma extrapolação injusta dos problemas individuais de uma empresa para a indústria mais ampla de semicondutores e, daí, para todo o mercado. Mas foi isso que muitas pessoas disseram em 2008 sobre o Citigroup [no início da crise bancária].”
O que o investidor deve fazer?
Para a Gavekal, o investidor tem duas opções de leitura desse cenário. A primeira é interpretar os eventos recentes como um ruído na trajetória de alta das ações ligadas à IA. Neste caso, a queda recente poderia ser, inclusive, uma oportunidade de compra.
A outra opção é enxergar o movimento como o início do estouro da bolha de IA. “Se for esse o caso, este é um problema que vai muito além da avaliação de um punhado de ações”, afirmou. Entra aqui a questão se os EUA passariam a ter dificuldades para atrair capital estrangeiro nos mesmos volumes alcançados nos últimos anos. O que, por sua vez, pode afetar o valor do dólar, dos títulos do tesouro americano e das ações.