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BM&FBovespa poderá sofrer concorrência de Bats e Claritas

Bats, plataforma de negociação com sede em Kansas, e Claritas, administradora de recursos de São Paulo que gere cerca de US$ 1,7 bilhão, firmaram um acordo

Monopólio da BM&FBovespa como bolsa de valores no Brasil pode estar ameaçado (Germano Luders)
DR

Da Redação

Publicado em 16 de fevereiro de 2011 às 10h29.

Nova York - A Bats Global Markets e a Claritas Investments discutem a criação de uma plataforma para negociar ações que pode colocar em risco o monopólio da BM&FBovespa SA no Brasil, segundo um executivo da Bats.

A Bats, uma plataforma eletrônica de negociação com sede em Kansas, no Missouri, e que opera hoje cerca de um décimo das negociações de ações do mercado americano, e a Claritas, uma administradora de recursos com sede em São Paulo, com cerca de US$ 1,7 bilhão sob gestão, assinaram um acordo para explorar oportunidades no Brasil, disse Ken Conklin, vice-presidente sênior de desenvolvimento de negócios e marketing da Bats.

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“Nós temos olhado para o Brasil há alguns anos”, disse Conklin em uma entrevista. “Vemos os mesmos atritos que notamos nos Estados Unidos e Europa com os preços praticados pelo monopólio”. A Bats poderia atender à necessidade de negociações eletrônicas mais rápidas, disse o executivo.

A BM&FBovespa enfrenta essa possível concorrência no momento em que bolsas que vão de Londres a Tóquio enfrentam novos concorrentes que têm o objetivo de oferecer sistemas de negociação mais rápidos e fáceis. A Deutsche Boerse AG e a NYSE Euronext disseram em 9 de fevereiro que estão em conversas avançadas para uma possível fusão, que visa cortar custos e expandir operações. A London Stock Exchange Group Plc também disse este mês que irá comprar a TMX Group Inc.

Queda nas ações

A bolsa brasileira é a quarta maior do mundo considerando o valor de mercado de suas ações. As transações com ações no segmento Bovespa totalizaram R$ 129 bilhões em janeiro, sendo que apenas 2 por cento desse total vieram do chamado Acesso Direto ao Mercado via co-location, que é uma transação eletrônica em que o cliente instala seu próprio computador dentro da bolsa, segundo comunicado da BM&FBovespa.

As ações da BM&FBovespa caíram 8,5 por cento este ano até ontem em parte por conta do receio de aumento da concorrência. No mesmo período, o índice Bloomberg World Exchanges Index que acompanha 23 empresas subiu 4,8 por cento.

“Competir no Brasil demanda permissão dos reguladores do mercado”, disse Ruben Lee, presidente da Oxford Finance Group, uma consultoria especializada em mercados financeiros que orienta reguladores. “Isso talvez seja pedir muito. Não está claro se o regulador veria isso como algo prejudicial a uma instituição nacional”.


Claritas lidera conversas

A Claritas entrou em contato com a Bats sobre a formação de uma plataforma alternativa cerca de um ano e meio atrás e está liderando as negociações no Brasil, segundo Conklin. A administradora de recursos, fundada em 1999, iniciou a busca de formas de desenvolver o mercado em 2009. Freitas e Leite Advogados, um escritório de advocacia de São Paulo, vai assessorar a Bats e a Claritas nas discussões. Conklin se recusou a dizer quando essa nova plataforma poderia ser lançada.

“A bolsa brasileira realmente aparece como destaque entre as bolsas mais caras”, disse Otavio Vieira, que ajuda administrar R$ 1,5 bilhão no Safdié Private Banking, em São Paulo. “Hoje não tem concorrência. A concorrência pode vir algum dia se os custos continuarem sendo bem mais alto”.

A Bats está interessada no mercado brasileiro por conta do volume de negociação em ações e do lucro do negócio, disse Conklin. A BM&FBovespa negocia cerca de US$ 3,5 bilhões por dia, o equivalente a um décimo das transações diárias na Europa, disse Conklin. A taxa da bolsa brasileira é de 6 pontos-base do valor negociado, comparado com 0,1 ponto-base cobrado pela Bats na Europa, disse Conklin. Um ponto-base equivale a 0,01 ponto percentual.

“Se os nossos custos todos não são significativamente mais baratos que os da BM&FBovespa, não há sentido para nós fazermos isso”, disse Conklin.

Controladores da Bats

A Bats, que não é negociada em bolsa, é controlada por um grupo de investidores usuários incluindo o Bank of America Corp., o Citigroup Inc., o Credit Suisse Group AG, o Deutsche Bank, o Getco LLC, o JPMorgan Chase & Co., o Morgan Stanley, o Tradebot Systems Inc. e o Wedbush Morgan Securities.

A empresa, com cerca de 110 funcionários, está acostumada a competir com concorrentes maiores. Dois anos e meio depois de ter começado a negociar ações nos EUA, em janeiro de 2006, ela já detinha 10 por cento do volume negociado. A empresa diz ter 7 por cento do mercado europeu e 12 por cento do FTSE 100 Index no mês passado. A Bats entrou no mercado europeu em outubro de 2008.

A Bats também está em conversas para a compra da Chi-X Europe Ltd., o maior sistema alternativo de negociação na Europa.


Custódia e liquidação

A BM&FBovespa disse em 1 de fevereiro que separaria e ajustaria as tarifas de negociação e compensação e que criaria uma plataforma para que grandes negócios sejam negociados em bloco. Kenneth Worthington, analista do JPMorgan, em Nova York, disse em um relatório no mesmo dia que ele espera que a bolsa mantenha as tarifas no mesmo nível, ao reduzir a taxa de execução e aumentar a de custódia e liquidação. Worthington vê como limitada a possibilidade de entrada de um novo concorrente se este tiver que pagar taxas mais elevadas para custódia à Bovespa, que continuaria fazendo a compensação.

Conklin disse que a Bats e a Claritas talvez tenham que fornecer uma nova câmara de compensação para competir no Brasil.

‘Muito, muito difícil’

“Você pode até começar uma câmara de compensação, mas será muito, muito difícil”, disse Lee, da Oxford Finance Group. “Você tem que enfrentar o chamado problema de network - ninguém se utiliza dos seus serviços porque ninguém mais está utilizando seus serviços. Mesmo que suas taxas sejam mais baratas e seu sistema mais fácil, a BM&FBovespa ainda é onde as negociações são compensadas hoje e isso dá a ela uma grande vantagem em relação a qualquer novo concorrente.”

A Claritas e a Bats têm o apoio de administradores de recursos e corretores no Brasil que querem mais concorrência, disse Conklin. Mesmo que o foco seja em ações, a parceira pode se expandir para outros negócios, disse Conklin.

“Acolher diferentes participantes de mercados, especialmente aqueles que têm facilitado as negociações globalmente, seria uma boa coisa para o mercado brasileiro,” disse Conklin.

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