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O que um dos maiores gestores do mundo pensa da Bovespa

Will Landers, que administra US$ 6,5 bilhões da BlackRock, diz que o Brasil perdeu espaço no portfólio, mas ainda oferece pechinchas na bolsa


	“A bolsa brasileira está entre as mais baratas do mundo atualmente, mas é preciso muito cuidado com armadilhas”, adverte Will Landers.
 (Ricardo Correa/EXAME)

“A bolsa brasileira está entre as mais baratas do mundo atualmente, mas é preciso muito cuidado com armadilhas”, adverte Will Landers. (Ricardo Correa/EXAME)

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Da Redação

Publicado em 26 de agosto de 2013 às 14h41.

São Paulo – A bolsa caiu, o dólar fugiu e o juro subiu. Até ontem, o Brasil estava na moda. Hoje, não é bem assim. O país tem sido uma das rotas de fuga dos investidores, que não olham mais para os emergentes com o mesmo entusiasmo.

A gradual recuperação de países ricos e a desaceleração de emergentes têm mostrado novos caminhos na bússola dos grandes investidores. Até mesmo o otimista por obrigação ministro da Fazenda, Guido Mantega, reconheceu que falta fôlego e revisou suas previsões de crescimento para a economia do país para 2,5%, contra os 3,5% que eram estimados até o mês passado.

À medida que a economia encolhe, a Selic cresce e continua fazendo o Brasil refém da alta taxa de juro. Os economistas projetam que a Selic encerrará 2013 a 9,50% ao ano. Em paralelo a este cenário, o Ibovespa, um dos maiores termômetros do apetite por risco dos investidores, mostra queda de 15% no acumulado do ano.

“A bolsa brasileira está entre as mais baratas do mundo atualmente, mas é preciso muito cuidado com armadilhas”. A afirmação é do gestor de fundos ativos para a América Latina da BlackRock, Will Landers.

Responsável por um dos maiores fundos dos Estados Unidos, com investimentos que somam 6,5 bilhões de dólares em toda a América Latina, Landers conversou com EXAME.com sobre o que há de novo no universo da renda variável especificamente.

Em fevereiro desde ano, quase 70% dos recursos dos fundos sob sua responsabilidade estavam aplicados no Brasil. Após conversarmos com Landers, descobrimos que esta realidade mudou e que o Brasil perdeu certo prestígio e alguns pontos percentuais na carteira da BlackRock. 

Mesmo assim, Landers garante que ainda existem oportunidades na bolsa brasileira após a desvalorização do principal índice da Bovespa em 2013. Confira a entrevista a seguir:

EXAME.com – Como você tem observado o horizonte de curto prazo da bolsa?

Will Landers - De uma coisa eu não tenho dúvida: a volatilidade vai persistir ainda. Temos que digerir a atividade econômica abaixo das expectativas, combinada com juros mais altos e uma inflação persistente. Além disso, é preciso entender os impactos no Ibovespa da gradual diminuição dos estímulos à economia americana pelo Federal Reserve. O horizonte de curto prazo está realmente bem incerto.

EXAME.com - Mas existem boas oportunidades atualmente no Brasil? Quais?

Will Landers - Não tenho dúvida que existem muitas oportunidades de investimento interessantes na bolsa brasileira. O nível de atratividade depende do horizonte de investimento do investidor. Por exemplo, o setor bancário me parece atraente – qualidade das carteiras melhorando, juros subindo e limitando pressão em spreads, e as ações negociando a múltiplos descontados contra o mercado como um todo e outros bancos emergentes. Mas no curto prazo, eu acho que essas ações podem sofrer com temores de desemprego subindo, crescimento mais baixo e uma fuga de investidores estrangeiros causada pelos movimentos do Federal Reserve.

EXAME.com – Além disso, o que mais te interessa na bolsa brasileira?

Will Landers - A bolsa brasileira negocia entre as bolsas mais baratas do mundo atualmente. Mas é preciso muito cuidado. Tudo depende muito se a expectativas de crescimento dos resultados das companhias estão corretas. Se o lucro, o L do P/L, estiver exagerado, como foi o caso em 2012, essa atratividade não se concretizaria de jeito nenhum.

EXAME.com - Houve recentemente uma euforia com papéis de companhias ligadas à atividade doméstica. Estas ações já ficaram sobrevalorizadas?

Will Landers – É preciso entender que estes papéis relacionados à economia doméstica estão caros se seus resultados forem bem abaixo das expectativas de mercado. Vale ficar atento. Se estas empresas conseguirem entregar o que está dentro do esperado, acredito que este mau humor recente com o setor pode estar criando uma oportunidade de compra.


EXAME.com - Recentemente, a BlackRock reduziu sua exposição na Petrobras devido à falta de perspectivas de crescimento. Petrobras perdeu o brilho para vocês?

Will Landers - Eu acho que a gestão da Maria das Graças Foster está mostrando resultados positivos. O problema, que está fora do controle da companhia, é que a desvalorização do real aumenta a defasagem da gasolina e do diesel contra os preços internacionais, aumentando a pressão nas margens da companhia dado a política de preços atual. Se houver uma mudança nessa política, e se a companhia conseguir entregar suas premissas no crescimento de produção de petróleo no Brasil nos próximos trimestres, eu acredito que a Petrobras voltaria ao radar de investimentos.

EXAME.com – E a Vale? A BlackRock aumentou recentemente de 7% para 10% suas posições na mineradora.

Will Landers – A Vale realmente continua como uma de nossas principais posições em fundos voltados à América Latina. O trabalho do presidente, Murilo Ferreira, melhorou a gestão da companhia. Além disso, as taxas de crescimento que a China tem apresentado trazem a percepção de que o país está se estabilizando, o que acaba colaborando para o fôlego das ações.

EXAME.com – Dos US$ 6,5 bilhões dos fundos de ações comandados por você, 66% são aplicados no Brasil. O país continua com essa fatia ou isso mudou?

Will Landers – Isso mudou atualmente. No começo do ano o Brasil representava 59% do índice MSCI Latin America e nós tínhamos realmente perto de 66% investidos no país. Hoje, o Brasil representa perto de 54% do índice e baixamos para cerca de 60% os nossos investimentos no país. Além disso, existe o fato de que a performance mais baixa que seus pares, especialmente o México, diminui naturalmente o tamanho da nossa carteira no Brasil.

Então vocês migraram recursos do Brasil para o México? Quanto?

Will Landers – Alocamos ativamente perto de 2% dos nossos fundos do Brasil para o México, dadas as perspectivas de crescimento mexicano mais robustas no futuro, com a passagem de várias reformas com o governo do presidente Enrique Peña Nieto.

EXAME.com – E com relação às empresas do Grupo EBX. Existe ainda alguma posição em papéis da empresa de Eike Batista que seja atrativa?

Will Landers - Não temos exposição a companhias do Grupo EBX.

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