BlackRock ainda vê ações como atrativas no Brasil, mas exterior preocupa
Impacto em emergentes precisa ser observado, diz presidente da gestora
Reuters
Publicado em 21 de agosto de 2019 às 18h04.
Última atualização em 8 de junho de 2020 às 15h56.
Perspectivas favoráveis para a pauta de reformas e medidas econômicas do governo brasileiro mantêm a atratividade do mercado acionário doméstico, mas o ambiente de maior aversão a mercados emergentes demanda atenção, avalia o presidente da gestora BlackRock no Brasil, Carlos Massaru Takahashi.
"A agenda de reformas é positiva, há uma equipe econômica pró-mercado, tudo isso é muito favorável para Brasil, mas o impacto que emergentes estão experimentando (decorrentes de eventos externos) precisa ser observado", afirmou à Reuters nesta quarta-feira.
Takahashi chamou a atenção particularmente para a guerra comercial entre os Estados Unidos e a China, bem como para a perspectiva de um menor crescimento global, mas destacou também eventos como protestos em Hong Kong e desdobramentos do cenário político-econômico na Argentina.
"O mundo está aprendendo a lidar com um novo normal... com crescimento em outros patamares, e isso traz preocupações", disse o executivo, acrescentando que não há como o Brasil escapar, uma vez que, do ponto de vista do investidor externo, ele está dentro do bloco de América Latina ou emergentes.
Tal cenário ajuda a explicar a forte saída de capital estrangeiro das negociações do segmento Bovespa da B3, com saídas líquidas acumuladas em 2019 em 19,5 bilhões de reais, sendo que apenas agosto contabiliza um saldo negativo de 9 bilhões de reais.
Takahashi explica que o fato de potenciais mecanismos para estimular o crescimento mundial --tanto por vias fiscais, como monetárias-- ainda estarem no campo das hipóteses tem corroborado a volatilidade experimentada nos mercados mais recentemente.
"Estamos vivendo um momento bastante complexo... e em um momento assim há um comportamento de aversão a risco, (o investidor) fica à espera do que vai acontecer", afirmou.
Para ele, se o Brasil avançar nas reformas, a bolsa pode experimentar um período muito positivo caso o mundo entre de fato em um ciclo de corte de juros, capitaneado pelos Estados Unidos.
Nesta tarde, a ata da última reunião de política monetária do Federal Reserve mostrou que o banco central norte-americano discutiu um corte de juros mais agressivo no encontro do mês passado, mas seus membros buscaram evitar parecer que o Fomc estaria em uma trajetória de mais reduções.
Takahashi ressaltou ainda que, além do prognóstico macroeconômico mais favorável para o Brasil, também a percepção de melhora dos fundamentos das empresas locais endossa a visão positiva para o mercado acionário, com muitas companhias melhorando perfil de dívida e buscando maior eficiência.
Para ele, o fato de operações no mercado primário de ações mostrarem um maior apetite de estrangeiros, diferentemente dos negócios no dia a dia do pregão, decorre do entendimento de que tais operações refletem mais fundamentos do que o sentimento macro que pode afetar fluxos de recursos globais.
"O fundamento acaba prevalecendo", afirma, lembrando que estrangeiros, normalmente institucionais, que entram nessas ofertas de ações --iniciais (IPOs) ou subsequentes (follow on)-- têm uma visão de mais longo prazo.
Desde o começo do ano, 19 operações, entre IPOs e follow on, movimentaram 53,47 bilhões de reais, com a participação dos estrangeiros totalizando 25,57 bilhões de reais, conforme a B3.
Atualmente, a BlackRock tem, globalmente, 6,8 trilhões de dólares em ativos sob gestão.