Mercados

Bittencourt, da M Square: bolsa e corrupção

Lucas Amorim Desde a divulgação da delação premiada do empresário Joesley Batista, da JBS, na noite de quarta-feira, investidores estão em polvorosa tentando entender para onde vai o mercado. A bolsa despencou na quinta, subiu na sexta, e cai com força nesta segunda. O sobe e desce tem sido especialmente intenso para a principal envolvida […]

BITTENCOURT:  /

BITTENCOURT: /

DR

Da Redação

Publicado em 22 de maio de 2017 às 14h35.

Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h14.

Lucas Amorim

Desde a divulgação da delação premiada do empresário Joesley Batista, da JBS, na noite de quarta-feira, investidores estão em polvorosa tentando entender para onde vai o mercado. A bolsa despencou na quinta, subiu na sexta, e cai com força nesta segunda. O sobe e desce tem sido especialmente intenso para a principal envolvida na história, a JBS. De toda essa volatilidade, uma coisa é certa, segundo o Mauricio Bittencourt, sócio da gestora de investimentos M Square: empresas sob suspeita terão cada vez mais dificuldades no mercado financeiro. É parte do processo de aprendizado do país e, por consequência, do mercado financeiro. Bittencourt concedeu a seguinte entrevista a EXAME Hoje:

A bolsa caiu 9% na quinta, depois subiu na 1,7% na sexta e está caindo novamente na segunda. Essa volatilidade é normal?
Essa instabilidade reflete a realidade. As pessoas estão de fato perdidas. O momento é sensível para questões realmente importantes para o país, e a solução dos problemas passa pela política e, portanto, tende a ser adiada. É preciso ter paciência, o que não é fácil, mesmo para investidores de longo prazo como nós. Estamos indo para o quarto ano sem crescimento econômico. Seria muito tempo em qualquer lugar, mas num país como o nosso é desesperador. Gosto de comparar o Brasil com uma empresa que passa pela maior turbulência de sua história e não se sabe quem será o presidente ou os administradores pelos próximos meses ou anos. É difícil.

É uma boa hora para ganhar dinheiro na bolsa?
Pode ser para quem quer especular. Mas para quem olha os fundamentos, como nós, é muito difícil. Não fizemos nenhum movimento desde quarta-feira por pura falta de clareza de para onde vai o país. Temos em nossa carteira empresas líderes em seus setores, como B3, Ambev, Itaú, e é claro que elas vão sofrer com, mas continuam sólidas no longo prazo. É nisso que nos apegamos.

Nessas horas é mais importante olhar para a empresa do que para o setor de atuação?
O que realmente importa em momentos de crise aguda é a dívida financeira. É o que pode fazer a diferença entre a vida e a morte no longo prazo.

A bolsa vai voltar para baixo dos 50.000 pontos, como estava antes de Michel Temer assumir?
A continuidade da indefinição pode continuar gerando quedas na bolsa e queda do real, evidentemente. E isso é parte do jogo. Um cenário político que diminua a retomada da confiança tende a continuar jogando o mercado para baixo. Isso que os ativos no Brasil, diferentemente do que acontecia em crises anteriores, não estão sendo precificados com base em questões de curto prazo, como PIB, mas sim em reformas estruturais que tendem a mudar a dinâmica da economia no médio e longo prazo. Por isso, para o mercado, mais importante do que Temer ficar ou cair é saber a força do presidente – de qualquer presidente – para executar os projetos de reforma.

A JBS está caindo 20% nesta segunda-feira. Empresas sob suspeita terão cada vez mais dificuldade na bolsa?
Tem uma questão conceitual e ética, e outra prática. A ética cada um tem uma… Nós, por exemplo, sempre pautamos esse assunto de forma relevante no processo de escolha dos nossos investimentos, buscando nos associar com empresários e grupos com reputação de fazer as coisas da forma certa. No entanto, no momento atual existe ainda a questão prática: empresas sob suspeita correm risco relevante de perda patrimonial. Não tem cabimento um gestor colocar dinheiro numa empresa envolvida ou citada nessa infinidade de escândalos. O risco é muito grande. Só faz sentido embarcar nessa quem tem objetivos meramente especulativos. Há cinco anos, questões éticas não costumavam entrar na análise de investimentos de gestores no Brasil, mas hoje esta é uma obrigação. Passou a ser parte da rotina de análise. Dá para investir de muitas formas, é uma escolha nossa não nos envolvermos em situações que eticamente questionáveis. E além disso, hoje em dia tem a questão prática, que alinhou com a conceitual. Então para que corer o risco?

Acompanhe tudo sobre:Exame Hoje

Mais de Mercados

Hapvida (HAPV3) vai investir até R$ 600 milhões em novos hospitais em SP e RJ

"O mundo está passando por um processo grande de transformação", diz André Leite, CIO da TAG

Ibovespa fecha em leve alta de olho em relatório bimestral de despesas; dólar cai a R$ 5,57

Ações da Ryanair caem quase 15% após lucro da empresa desabar

Mais na Exame