Bitcoin cai abaixo de US$ 10 mil e assusta investidor
Depois de acumular valorização de 1.400% em 2017, a criptomoeda mais famosa do mercado já perdeu quase metade de seu valor em 30 dias
Estadão Conteúdo
Publicado em 18 de janeiro de 2018 às 09h30.
Última atualização em 18 de janeiro de 2018 às 09h47.
São Paulo - Os investidores da moeda virtual bitcoin tiveram nesta quarta-feira, 17, mais um dia para esquecer - o que vem se repetindo com frequência desde o início do ano.
Depois de acumular valorização de 1.400% em 2017, a criptomoeda mais famosa do mercado já perdeu quase metade de seu valor em 30 dias.
Nesta quarta, pela primeira vez desde novembro, a cotação chegou a ficar abaixo de US$ 10 mil, na parte da manhã.
Ao longo do dia, o ativo se recuperou um pouco e, por volta das 18h era cotado a US$ 10.618 no site Coindesk, que vem sendo utilizado como referência pelo mercado.
O valor marca uma queda de 45% em relação ao nível recorde observado em dezembro.
Na terça-feira, o bitcoin já havia acumulado perdas em meio às tentativas de vários governos de apertar o controle sobre as negociações de criptomoedas.
Autoridades da Coreia do Sul e da China estão exigindo o fechamento de várias operações de emissão de moedas virtuais.
Diferentemente do que vinha acontecendo desde então, quando algumas criptomoedas pareciam blindadas da má fase da bitcoin, a queda desta quarta se espalhou rapidamente pelas demais moedas.
O ether chegou a cair 33%, o XRP recuou 47% e a litecoin, 35% - existem mais de mil moedas virtuais diferentes hoje no mercado. Já o contrato futuro de bitcoin para janeiro, negociado na CME, encerrou o dia em baixa de 1,92%, a US$ 10.945,00.
Para alguns observadores do mercado, a queda dos últimos dias é parte de um movimento de ajuste do preço do ativo. Economistas consultados pela consultoria MarketWatch avaliam que a moeda pode cair ainda mais 20%, para cerca de US$ 8 mil.
Para o especialista em moedas virtuais da XP Investimentos, Fernando Ulrich, é praticamente impossível dizer o que pode acontecer com o ativo, já que ele tem vida própria, sem praticamente nenhuma relação direta com os acontecimentos da economia mundial, mas a redução atual no preço, de certa forma, já era esperada.
"Desde o ano passado, no começo de dezembro, a gente não recomendava a compra da bitcoin, afirmando que o risco era enorme. Depois, a moeda começou a renovar máximas de hora em hora e o risco foi ficando maior, virando um cassino, quase uma montanha russa", conta ele.
Ulrich, contudo, descarta que a atual queda represente o estouro de uma bolha. Para ele, a esticada na cotação de fim do ano foi também motivada pela euforia de novos investidores, que viram possibilidades de ganhos de curto prazo. Agora, ele espera que a demanda se acomode um pouco, podendo até abrir uma janela de oportunidades na área.
"Pode ser que se expurgue um pouco dos eufóricos e que, assim, fique interessante comprar bitcoin, mas só para quem pensa no ativo como investimento de longo prazo, que no caso do bitcoin é no mínimo um ano", afirma.
Assim como acontece em momentos de baixa de aplicações tradicionais, o especialista da XP não recomenda a quem entrou no mercado de moedas virtuais depois de dezembro se desfazer agora da atual carteira, sob o risco de amargar prejuízos.
Para ele, quem investiu no ativo no período de alta, deve ter sangue frio e esperar para ver. "Agora a cotação está se estabilizando em US$ 10 mil. Vamos aguardar", diz.
Vende tudo
O difícil, no entanto, é convencer quem depositou economias em criptomoedas a aguardar por dias melhores. O pernambucano Khfren Aguiar, de Caruaru, está desde segunda-feira empenhado em vender tudo o que acumulou em bitcoin desde 2016. Ele conta que já se desfez de 15 bitcoins, cerca de US$ 160 mil.
"A ideia é liquidar tudo. Comprei lá atrás, quando estava menos de R$ 3 mil e, em minha cabeça, quando estava quase em R$ 20 mil, eu defini que se batesse em R$ 10 mil seria o limite. Pronto, bateu R$ 10 mil e já me dou por satisfeito", diz ele.
Há quem diga que conseguiu ganhar com o movimento de baixa. Rocelo Lopez, da CoinPy, que ganha vida com a emissão de bitcoins no Paraguai, conta que vendeu um lote de criptomoedas a US$ 11 mil e recomprou hoje, abaixo de US$ 10 mil. "Tem espaço para ganhar com arbitragem", diz.
Para o economista Luiz Calado, do Mercado Bitcoin, com 800 clientes cadastrados, é normal que os investidores fiquem inseguros. "É mais difícil perder do que ganhar dinheiro. Dói muito", diz ele.
A corretora fazia uma média de 1 mil transações por dia no ano passado e, desde o começo de janeiro, ampliou o volume para 4 mil. "As pessoas querem vender. Mas encontram quem quer comprar." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.